O fundador da Amazon, Jeff Bezos, recebeu um prêmio diferente no início deste mês. Durante uma cúpula sobre religião e filantropia realizada no Vaticano, Bezos e o chef José Andres se tornaram os primeiros a ganhar o Galileo Prophets of Philanthropy Award da Fundação Galileo, uma instituição de caridade católica focada em questões como mudanças climáticas e tráfico humano.
“Quando meu pai veio de Cuba para os Estados Unidos aos 16 anos, sozinho e sem falar inglês, a Igreja Católica o levou, junto a outros 15 meninos, em uma missão liderada por dois padres em Wilmington, Delaware”, disse Bezos ao grupo de oficiais católicos em seu discurso. “Hoje, sentado aqui no Vaticano, gostaria de agradecer à Igreja por esse presente.”
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Pelas contas da Forbes, Bezos doou mais de US$ 2,4 bilhões para causas filantrópicas em sua vida. O levantamento leva em conta apenas o dinheiro realmente distribuído e não as promessas de apoio futuro, como o compromisso de Bezos de distribuir US$ 10 bilhões para proteger o meio ambiente.
O valor é alto, mas não chega nem perto das doações de sua ex-esposa MacKenzie Scott. A poderosa filantropa doou cinco vezes mais do que ele – US$ 12,8 bilhões – em pouco mais de dois anos. Ou seja, US$ 10,2 bilhões a mais do que Bezos.
Porém, diferentemente de seu ex-marido, dificilmente você verá Scott recebendo algum prêmio, já que a bilionária não faz aparições públicas e não dá entrevistas. A única comunicação pública sobre sua filantropia é feita por meio de atualizações semestrais no site Medium.
“As diferenças entre as ações filantrópicas dos dois não poderiam ser mais gritantes”, diz Elizabeth Dale, professora associada de liderança sem fins lucrativos da Universidade de Seattle.
Além da quantia maior, Scott doou dinheiro para mais de 1.200 organizações que vão desde pequenas ONGs a grupos de justiça social até nomes conhecidos como Planned Parenthood e Girl Scouts.
Bezos doou a algumas organizações com foco em moradores de rua por meio de seu Day One Fund, por exemplo, mas não no mesmo grau, diz Dale.
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“Acho que a doação de MacKenzie está alcançando um grupo de organizações que, em grande parte, não estão sob a alçada dos doadores mais ricos dos EUA e do mundo”, acrescenta Dale.
Os dois filantropos também parecem ter mentalidades muito diferentes sobre a forma de doar o seu dinheiro.
Scott disse que seu objetivo é se livrar de toda a sua riqueza. Em sua carta do Giving Pledge, onde ela se compromete a doar a maior parte de sua fortuna, ela admite: “Tenho uma quantia desproporcional de dinheiro para compartilhar. Minha abordagem à filantropia continuará a ser ponderada. Vai levar tempo, esforço e cuidado. Mas não vou esperar. E vou continuar até que o cofre esteja vazio.”
Bezos – que não assinou o Giving Pledge – não fez pronunciamentos sobre sua fortuna.
Jacqueline Ackerman, diretora associada do Instituto de Filantropia Feminina da Universidade de Indiana, diz que as doações de Scott também se alinham com estudos que afirmam que as mulheres tendem a distribuir suas doações para várias causas, enquanto os homens são mais propensos a se concentrar em questões específicas.
“Eu também diria que vejo MacKenzie Scott se alinhando com nossa pesquisa sobre como as mulheres dão importância à causa e ao destinatário, e não a si mesmas como doadoras”, diz Ackerman.
No geral, a pesquisa também mostrou que as mulheres são mais propensas a doar mais dinheiro para caridade do que os homens, embora essas diferenças desapareçam entre pessoas com muito dinheiro.
Doações pós-Amazon
Bezos aumentou seus esforços filantrópicos desde que deixou o cargo de CEO da Amazon em julho do ano passado.
Ele fez distribuições de dinheiro para a Fundação Obama de US$ 100 milhões; para o Museu do Ar e do Espaço do Smithsonian, de US$ 200 milhões em quatro anos e para organizações sem fins lucrativos que combatem a falta de moradia.
Ainda assim, a porcentagem de suas doações é relativamente pequena – 1,7% – de seu patrimônio líquido total, que a Forbes estima em US$ 141,7 bilhões, tornando-o a terceira pessoa mais rica do mundo.
Ele tem uma pontuação de filantropia da Forbes de 2 em 5, o que significa que ele doou entre 1% e 4,99% de sua fortuna. Bezos faz parte da grande maioria das 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos, que doaram menos de 5% de sua fortuna para causas de caridade.
Doações ao meio ambiente
A filantropia voltada ao meio ambiente de Bezos traz dúvidas aos ativistas climáticos. Até agora, o fundador da Amazon investiu cerca de US$ 8,6 bilhões em sua empresa espacial Blue Origin desde 2000 e enfrentou uma reação feroz por olhar para as estrelas em vez de investir significativamente em problemas aqui na Terra.
“Isso levanta dúvidas sobre qual estratégia ele tem em doar e investir em uma empresa aeroespacial versus redirecionar esse dinheiro para pessoas que podem se beneficiar dele aqui e agora”, diz Dale, da Universidade de Seattle.
Bezos, por sua vez, responde que a exploração espacial beneficiará a humanidade. “O objetivo de longo prazo da Blue Origin é tirar todas as indústrias poluentes da Terra”, disse Bezos em seu discurso no Vaticano.
Quando o bilionário anunciou pela primeira vez a criação do Bezos Earth Fund, o Amazon Employees for Climate Justice, um grupo de funcionários dentro da empresa destacou que a Amazon fornece serviços de computação em nuvem para empresas de petróleo e gás.
Porém, a companhia defende sua posição em seu site dizendo que “o setor de energia deve ter acesso às mesmas tecnologias que outras indústrias” porque quer “ajudá-los a acelerar o desenvolvimento de negócios de energia renovável”.
“Aplaudimos a filantropia de Jeff Bezos, mas uma mão não pode dar o que a outra está tirando”, escreveu o grupo.
A pegada de carbono da empresa aumentou 18% entre 2020 e 2021, de acordo com seu relatório de sustentabilidade de 2021.
Apesar de sua promessa de se tornar neutra em carbono até 2040, ativistas como o Greenpeace geralmente criticam as compensações de carbono usadas pela Amazon e outras empresas para alcançar promessas de neutralidade em vez de realmente diminuir as emissões.
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Scott, por outro lado, é uma exceção em termos de filantropia. Ela faz parte do grupo de oito bilionários na lista dos 400 americanos mais ricos da Forbes que doaram mais de 20% de seu patrimônio líquido, muito mais do que Bezos.
Depois de receber um quarto das ações da Amazon como parte de seu divórcio em 2019 – que valiam US$ 36 bilhões – Scott tem doado partes da fortuna em uma velocidade surpreendente.
Suas maiores doações individuais foram para Habitat for Humanity (doação de US$ 436 milhões), Boys and Girls Club of America (doação de US$ 281 milhões) e Planned Parenthood (doação de US$ 275 milhões).
Apenas neste mês, Scott doou US$ 15 milhões para a VisionSpring, organização sem fins lucrativos de óculos acessíveis; US$ 15 milhões para a Fundação de Saúde Paso del Norte em El Paso, Texas;US$ 20 milhões para o Distrito Escolar Unificado de Fresno, no vale central da Califórnia; US$ 84,5 milhões para as Escoteiras e US$ 5 milhões para a Greater Watertown Community Health Foundation em Wisconsin.
Isso não quer dizer que Scott não tenha sido alvo de críticas. No ano passado, ela escreveu em um post no site Medium que não anunciaria quais organizações receberam doações dela.
A mudança foi feita para desviar os holofotes de si mesma e deixar as organizações sem fins lucrativos falarem por si mesmas, mas Scott enfrentou críticas por não ser transparente sobre seus feitos.
Ela reverteu a situação dias depois e revelou que está trabalhando em um site com um banco de dados de suas doações. Scott disse que esperava que o site estivesse disponível este ano, mas isso ainda não aconteceu.
Na verdade, isso é algo que Scott e Bezos têm em comum. Nenhum deles usa uma fundação familiar para sua filantropia, o que exigiria que eles divulgassem em declarações fiscais públicas para quais organizações sem fins lucrativos doam e quanto dinheiro doaram para a fundação a cada ano.