A empresa familiar Leprino Foods, maior fabricante de muçarela dos Estados Unidos e que fornece a maior parte do queijo para as pizzas nos Estados Unidos, está em risco. Uma briga entre os controladores, o bilionário recluso James Leprino e suas duas sobrinhas está prestes a chegar aos tribunais.
As sobrinhas alegam que Leprino e suas duas filhas, que possuem 75% da Leprino Foods, lucraram de maneiras impossíveis. Já a Leprino Foods sustenta que os acionistas minoritários sempre receberam sua parte justa. O julgamento deve começar no dia 28 de novembro em Denver, Colorado, e a petição inicial sugere que o tribunal tome a decisão incomum de dissolver a empresa.
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
“Se esses processos são feitos para espremer os acionistas minoritários e prejudicá-los, isso é um problema”, disse o advogado de Chicago Peter Lubin, especialista em disputas de acionistas e que não está envolvido no caso Leprino. “Isso é para forçá-los a vender barato? Essa é uma questão que será esclarecida em um julgamento. Depende muito das evidências.”
James Leprino assumiu os negócios da família em 1958 e transformou a mercearia de seus pais imigrantes em Little Italy, em Denver, em um império de queijos. A empresa privada produz 85% do queijo para pizza nos EUA, com clientes que incluem as maiores redes do país, como Domino’s, Pizza Hut, Little Caesar’s e Papa John’s.
A Leprino também é uma grande vendedora de soro de leite, um subproduto de queijo usado em produtos alimentares infantis, shakes de proteína e iogurtes.
A Leprino Foods possui mais de 50 patentes e vende mais de 450 mil toneladas de queijo por ano, com US$ 3,5 bilhões em receita anual estimada. James Leprino, 84 anos, não é fotografado em público desde 1978. Ele tem uma fortuna estimada em US$ 1,9 bilhão.
Leprino e suas duas filhas, Terry Leprino e Gina Vecchiarelli, controlam mais de três quartos da Leprino Foods. Os cerca de 25% restantes pertenciam ao irmão mais velho de James, Mike, que teve sucesso como banqueiro e incorporador imobiliário, de acordo com o processo.
Quando Mike Lepri morreu em 2018, sua parte foi para fundos destinados às suas três filhas. Nancy e Mary Leprino estão processando o tio. Outra das filhas, Laura, não faz parte do processo.
A denúncia diz que James Leprino e suas filhas alavancaram sua participação majoritária e votaram individualmente para administrar a empresa, recebendo a maior recompensa financeira proveniente da Leprino Foods e ignorando os acionistas minoritários.
O principal exemplo do processo é de 2017. Na época, o conselho aprovou uma distribuição especial de dinheiro isento de impostos aos acionistas com a troca do regime fiscal da empresa. De acordo com o processo, a Leprino Foods teria pago US$ 405 milhões a James e seus filhas e US$ 135 milhões para as três filhas de Mike.
James e suas filhas então devolveram os US$ 405 milhões à empresa em forma de empréstimo, a uma taxa de juros de 2,68% por 20 anos. Com os juros adicionados, James Leprino e suas filhas acabarão recebendo mais – US$ 28,3 milhões anualmente, de acordo com a denúncia.
O processo alega que Nancy e Mary foram mantidas fora do acordo de empréstimo e não sabiam disso até lerem o relatório financeiro anual da empresa – embora o processo de descoberta legal tenha apresentado uma nota que sugere que Nancy ouviu sobre o plano.
Como a Leprino Foods historicamente reinveste seus lucros e raramente distribui dividendos a seus acionistas, as sobrinhas dizem que um acordo como esse teria sido uma das únicas maneiras de ganhar dinheiro adicional com sua propriedade de longo prazo.
A Leprino Foods responde que, desde que Nancy e Mary se juntaram como acionistas por meio de seus fundos em 2013, mais de US$ 250 milhões foram distribuídos aos minoritários.
Os depoimentos de todos os nomeados no caso, incluindo um com James Leprino, foram concluídos e a fase de instrução está terminando.
“Minhas clientes simplesmente querem ser tratadas com justiça”, disse um advogado dos acionistas minoritários à Forbes. “É disso que se trata o litígio.” O advogado disse que as sobrinhas estavam abertas a discutir o acordo antes do início do julgamento.
Os acionistas majoritários dizem que não se importam se o caso for a julgamento. Eles argumentam que o caso nada mais é do que uma forma dos acionistas minoritários os forçarem a comprar suas ações herdadas ou monetizar os ativos e sacar.
Cliff Stricklin, advogado da Leprino Foods e acionistas majoritários da King & Spalding, com sede em Denver, disse que a liderança da empresa e os mais de 5 mil funcionários estão sempre comprometidos em fazer a coisa certa.
“Embora estejamos desapontados com as ações de alguns de nossos acionistas minoritários, esperamos resolver essa disputa comercial rapidamente e continuar fornecendo aos nossos clientes produtos da mais alta qualidade a um preço competitivo”, disse ele.
Um tribunal agora decidirá se essas ações equivalem à violação de seu dever fiduciário por parte dos interessados majoritários. James Leprino não construiu a Leprino Foods nas últimas seis décadas sem dar algumas cotoveladas.
O caçula de cinco filhos de um imigrante italiano que não sabia ler nem escrever em inglês, Leprino cresceu enrolando bolas de muçarela com sua família para vender na mercearia de seus pais.
Depois que se formou no ensino médio em 1956, ele começou a trabalhar com seu pai no supermercado em período integral. À medida que batalhava no negócio, Leprino percebeu que seus amigos estavam passando seu tempo livre nas pizzarias do bairro.
As pizzarias da região estavam comprando mais de 2 toneladas queijo por semana. Como ele lembrou em um perfil da Forbes de 2017, “pensei: ‘Este é um bom mercado para entrar’, e foi o que eu fiz”. O império começou em 1958 em uma sala de 75 metros quadrados, 20 por 40 pés, com duas cubas de queijo de 500 litros galões e uma caldeira pequena.
O momento não poderia ser mais perfeito. No mesmo ano, surgiu a primeira Pizza Hut, em Wichita, Kansas. Então, um ano depois, Mike e Marian Ilitch abriram o primeiro Little Caesar’s, nos arredores de Detroit.
Mais um ano se passou e a Domino’s começou a entregar pizzas em Ypsilanti, Michigan. Depois de dois anos no negócio, a Leprino Foods estava entregando 90 quilos de muçarela em bloco por semana para restaurantes italianos locais. O rápido crescimento dessas redes lançou uma das maiores guerras de território na história da comida americana.
A Pizza Hut acabou se tornando o maior cliente de Leprino. A pizzaria abriu seu capital em 1972 com cerca de 1 mil lojas e, em seu auge na década de 1990, respondeu por 90% das vendas da Leprino.
Um produto chamado Quality Locked Cheese (QLC), porções desfiadas e congeladas individualmente, mudou tudo para a Leprino Foods quando foi lançado em 1986. O queijo foi desenvolvido para franquias que exigiam velocidade e consistência. Rapidamente, QLC tornou-se o padrão da indústria.
Com uma patente em vigor, Leprino tornou-se indispensável. Essa patente e outras ajudaram a proteger a Leprino de concorrentes menores que não conseguiam acompanhar a tecnologia desenvolvida pela Leprino Foods, nem lutar contra a gigante no tribunal de patentes.
Os bens provenientes do império de muçarela de Leprino são vastos. A Leprino Foods possui três aviões particulares – um Gulfstream G450, um jato Bombardier e um pequeno avião de passageiros de 1980. A casa de Leprino no afluente subúrbio de Indian Hills, em Denver, tem 11 quartos, e ele também possui uma casa de férias em Scottsdale, Arizona.
O filho do imigrante disse que não tem intenção de se aposentar. O plano de sucessão de Leprino tem sido simples: ele dividirá o controle entre suas duas filhas, que trabalharam na empresa ao longo dos anos, mas nunca assumiram cargos executivos, além de serem membros do conselho.
“Não quero que eles vivam uma vida corporativa com ressentimento”, disse Leprino à Forbes em 2017. “Meu sucesso é um conto de fadas”.