A eleição presidencial já tem um vencedor. Do ponto de vista do mercado financeiro, a instabilidade institucional decorrente da conduta do atual governo ante o resultado não favorece a economia. Ainda assim, considero que, com o resultado eleitoral definido, ao menos temos no horizonte uma perspectiva que permite melhor precificação de ativos.
Eu não pretendo fazer uma análise do cenário político ou da postura de A ou de B. Tenho opiniões e preferências políticas, como qualquer cidadão, mas isso não vem ao caso.
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Quero conversar com você com o olhar de investidor e analista técnico de investimentos. Espero trazer uma reflexão pragmática que lhe ajude a pensar em seus investimentos para o próximo período.
O mercado é emocional no curtíssimo prazo e pragmático no longo prazo. O mercado financeiro é composto por investidores institucionais e por pessoas físicas. Institucionais são os bancos, corretoras, fundos de investimento, family offices, seguradoras e fundos de pensão. O investidor pessoa física sou eu, você e todo mundo que investe através de seu CPF.
Todos investem movidos pelo mesmo interesse: rentabilizar patrimônio e multiplicá-lo, certo? Para que isso aconteça a contento, o ideal é que a economia esteja aquecida, com empresas produzindo, comércio pulsante. Quando isso deixa de acontecer, o mercado reage, reorientando alocações para ativos que protegem o capital, mitigando perdas. Há também mecanismos e estratégias de investimento que possibilitam, inclusive, lucrar com cenários econômicos em desaceleração.
Por que estou falando isso? Apenas para lembrar que a conduta do mercado sempre foi e sempre será pragmática. Independentemente das preferências pessoais de todos os seus agentes – e elas são diversas – o olhar do investidor sempre terá como princípio norteador o movimento da economia.
Quando há troca de governo e quando isso significa mudança de visão política, até que as coisas se reorganizem e a rotina seja retomada, há volatilidade e reações dos investidores que muitas vezes podem até ser exageradas.
O mercado não gosta de incertezas. Porém, no fim, o que prevalece é o pragmatismo. O mercado faz o que precisa fazer para continuar alcançando seu objetivo.
Coloque energia naquilo que está sob seu controle
O que você tem a fazer neste momento com seus investimentos é ser uma pessoa prática. O cenário ainda está carregado de incertezas, a começar pela definição de nomes que ocuparão os ministérios, mas isso não está sob o seu controle. O que você tem sob controle é:
- seu planejamento de curto, de médio e de longo prazo, definindo, a partir dele, quais tipos de investimento e em quais proporções são compatíveis com suas metas;
- a forma como você gasta seu dinheiro e quanto dele destina mensalmente aos investimentos;
- sua tenacidade em investir na sua capacitação profissional, de forma a ser mais valorizado no mercado de trabalho e, dessa forma, gerar mais renda;
- sua motivação em continuar fazendo o que precisa ser feito para otimizar seus ganhos, aumentar seu patrimônio e gerar renda passiva;
- sua capacidade de filtrar as informações de mercado que sejam relevantes à sua tomada de decisão;
- sua disciplina em estudar sobre finanças pessoais e investimento;
- sua inteligência emocional para manter o equilíbrio de suas escolhas cotidianas, lembrando sempre que não se trata apenas de acumular patrimônio, mas sim, sobre a qualidade de vida, segurança, saúde e bons momentos que ele pode proporcionar.
Notou que todos os itens dessa lista independem de quem esteja ocupando o cargo máximo do país?
É claro que o capital político do presidente e sua capacidade de articulação com os demais poderes e com a sociedade serão determinantes para o ritmo dos avanços na economia. Da mesma forma, a qualidade e gestão da política econômica dependerá da equipe técnica definida para a pasta.
Ocorre, porém, que além da capacidade técnica e política do governante e sua equipe, inúmeros fatores macroeconômicos também interferem na performance da economia, e o investidor, ao montar suas estratégias, precisa levar em conta todas essas variáveis, compatibilizando-as com seu próprio planejamento.
Não tome decisões com base em promessas de campanha
Eu tenho visto muita gente cogitando mudar totalmente sua alocação de carteira com base no que o novo presidente disse durante a campanha, e não me parece uma boa estratégia. O momento pede calma.
Durante a campanha, muita coisa é dita pelos candidatos por saberem que é o que o eleitor espera ouvir, porém, a execução envolve muito mais do que intenção.
Política e gestão pública é um equilíbrio de forças delicado que, além de capacidade de articulação, respeito à legislação vigente e adequação ao orçamento, exige habilidade para lidar com demandas complexas em um país onde a desigualdade social e concentração de renda são desafios permanentes.
A governabilidade de um país envolve a habilidade em obter apoio dos atores econômicos, ampla base de sustentação política e atendimento à diversidade de demandas sociais. Olhando nossa história em retrospecto, nenhum governante que negligenciou qualquer um dos aspectos desse tripé se deu muito bem.
Dessa forma, para aqueles investimentos de curtíssimo prazo com os quais a sua expectativa é surfar oportunidades breves, o momento é de cautela. E para a estruturação de sua carteira de longo prazo pouco ou nada muda.
As variáveis políticas sob as quais você não tem controle são coadjuvantes, ou seja, devem ser consideradas e utilizadas com inteligência e prudência, mas não podem determinar todas as suas decisões de investimento.
O que irá, de fato, nortear suas escolhas, é aquilo que sempre falo: seus objetivos, capacidade de aporte, seu perfil de risco e, principalmente, os prazos em que você pretende utilizar o recurso investido. Domine esses quesitos e nunca mais você irá depender de qualquer resultado eleitoral para definir sua carteira de investimentos.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
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