As empresas não precisam mais escolher entre ganhar dinheiro ou melhorar o mundo. É isso que prega um novo movimento no mercado financeiro voltado para negócios de impacto social.
Também chamado de capitalismo consciente, esse “novo capitalismo” é pautado pela consciência social unida ao lucro. O conceito diz que as empresas buscam garantir que seus negócios sejam lucrativos e fomentem a melhoria da qualidade de vida da população, principalmente da população de menor renda.
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Há duas décadas, a norte-americana Kelly Michel fundou a Potencia Ventures para ser uma empresa global de venture capital focada em investimentos de impacto. Naquele momento, impacto social e ESG não eram temas largamente debatidos como são hoje, mas esse era seu foco.
Atualmente, a empresa investe em mais de 20 fundos de venture capital globais e tem 15 investimentos diretos em startups de diferentes países, do Quênia ao Canadá. A Potencia Ventures não divulga o valor do seu portfólio nem sua rentabilidade. Entretanto, Itali Collini, diretora da empresa no Brasil, afirma que a taxa de retorno está dentro da média da indústria de venture capital.
Segundo a Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), a taxa interna de retorno (TIR) média dos fundos do setor foi de 17,5% por ano entre 2010 e 2020.
“Nossos múltiplos são bons e estão em linha com o mercado, dentro do esperado para o setor. Para nós, trata-se de um exemplo de como é possível investir em impacto e ter bons retornos”, diz Collini. “Temos uma estratégia e os números são positivos o suficiente para continuarmos pelos próximos dez, vinte anos.”
A diretora explica que o objetivo da Potencia não é apenas investir nas empresas e gerar retornos, mas também analisar e criar métricas para essa nova vertente do mercado financeiro que está em desenvolvimento.
“Não existe um modelo validado do que é investir em impacto. Acontece o mesmo com ESG neste momento. Temos hoje uma oportunidade de olhar para essas startups que estão aparecendo e trabalhar desde o início na análise e observação de uma atuação de impacto social”, afirma a diretora.
Segundo Collini, esse processo de validação e análise de casos é importante para o mercado de capitais ter segurança em investir em empresas de impacto sabendo que vão ter retorno, além de abordar uma visão holística que inclui a melhoria da vida em sociedade.
Potencia Up
Em 2023, a empresa de Michel que foi pioneira em venture capital para empresas de impacto no início dos anos 2000 e, agora, será pioneira novamente. A Potencia Ventures irá selecionar 20 startups brasileiras para um programa de desenvolvimento: o Potencia Up.
Não se trata de uma aceleração e nem de uma mentoria, mas tem um pouco dos dois. Durante um ano, os fundadores das 20 startups selecionadas irão ter aulas de inglês, participar de workshops de modelos de negócio de impacto e investimentos, mentorias de validação de demanda e roda de conversas com experts.
Concluído o processo, cinco startups serão selecionadas para receber investimentos de até US$ 100 mil (R$ 535 mil).
As empresas elegíveis para participar do programa são as de impacto social, principalmente nos setores de educação e empregabilidade, com um MVP (mínimo produto viável). Além disso, o programa irá focar em fundadores que sejam mulheres, pessoas negras, da comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiência, periféricas ou com 60 anos ou mais.
Collini afirma que o espaço de empreendedorismo das startups no Brasil não representa a população. Por isso, a empresa de venture capital optou por uma ação afirmativa que desse oportunidade para as minorias se aproximarem da equivalência.
Uma compilação de dados da Potencia mostra que 13% dos fundadores de startups no Brasil são mulheres, enquanto elas representam 52% da população. Já as pessoas negras são 54% do país e 6% dos fundadores de startups.
“É uma ação afirmativa dentro do mercado de venture capital, com uma visão de retorno no longo prazo. Não é filantropia. Ao apresentar esse projeto levamos números e mostramos o potencial retorno das cinco startups que serão investidas, com cálculo de lucro em cima dos custos do ano inteiro”, diz Collini.
As inscrições para as startups de impacto vão até 30 de novembro, com resultado das 20 selecionadas em 19 de dezembro. O formulário pode ser acessado aqui.
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