O Banco Central decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano, pela terceira vez consecutiva, conforme decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) hoje (7), e deu recados ao governo eleito ao dizer que há elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e ressaltar que acompanhará com atenção o quadro das contas públicas.
“O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, informou o comunicado da reunião do Copom, a primeira após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais.
Em uma das inovações em relação ao comunicado da reunião de outubro, o Copom adaptou o trecho que dizia que um dos itens de seu balanço de riscos para a inflação era a “incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal”, passando a falar em “elevada incerteza” nessa área.
Também passou a dizer que a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal, requer serenidade na avaliação dos riscos para a inflação.
A manutenção da taxa, decidida de maneira unânime pela diretoria do BC, foi ao encontro da expectativa de analistas de mercado, de acordo com pesquisa Reuters, segundo a qual 31 dos 32 economistas consultados esperavam continuidade da Selic no mesmo nível.
Com a decisão, o BC manteve a taxa básica em um patamar 11,75 pontos acima da mínima histórica de 2% ao ano, atingida em meio à pandemia de Covid-19 e que vigorou até março do ano passado. A Selic segue no nível mais alto desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano.
Desde a eleição de Lula, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem alertando reiteradamente, em eventos públicos, sobre riscos relacionados à expansão fiscal. Em suas falas, ele tem afirmado que é preciso conciliar gastos sociais com responsabilidade fiscal, ressaltando que o quadro das contas públicas interfere na ação do Banco Central.
“A política fiscal é um ‘input’ para nós. E se, através desse ‘input’, nós acreditarmos que a convergência (da inflação) que a gente havia planejado não será atingida, reagiremos”, disse em novembro.
No comunicado desta quarta, o BC elevou suas projeções para a inflação no encerramento de 2022, 2023 e 2024.
A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, as estimativas para a inflação estão em 6,0% para 2022 (contra 5,8% na reunião anterior), 5,0% em 2023 (contra 4,8% antes) e 3,0% em 2024 (ante 2,9%).