Parece que falar sobre pandemia virou assunto antigo, estamos exaustos de citar este vírus, porém, o pontapé de largada para absorvermos e aceitarmos a vulnerabilidade, talvez tenha se potencializado nesses tempos pós-susto.
Por isso, lhe pergunto: qual a razão por trás do contrassenso entre a vulnerabilidade e a liderança?
Tememos que a percepção de comando e decisão se enfraqueça à medida que encaramos o significado desta palavra com olhos retrógrados de quem ainda não despertou para o conceito de que a capacidade de estar à frente de uma empresa exige também flexibilidade.
É justamente na comunicação clara e humanizada que nos aproximamos dos nossos colaboradores, que é um ponto- chave no trato, afinal, trabalhar em um ambiente com um clima inóspito, e que não tem a união como valores coletivos, é o caminho do fracasso.
E como podemos falar de inovação e adaptar os negócios para iniciativas tecnológicas sem flertar com possíveis erros, por mais que a cautela do planejamento esteja ao nosso lado? Inovar significa enfrentar riscos, aceitar as falhas que acontecem no progresso da inovação, e transformá-los, dando assim espaço para o novo.
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Só louco tem ideia fixa para tudo, nos manter abertos às novas influências deste mundo, que não dorme, é um grande passo para que estejamos atualizados e sempre prontos a oferecer aos nossos clientes, que estão no centro do nosso negócio, uma experiência cada vez melhor. Não é possível encarar os novos tempos sem mudança, como soltar velhos pensamentos e agarrar as novidades que esta Era nos oferece com os punhos fechados?
No dicionário, a palavra vulnerável, significa algo “que tende a ser magoado, danificado ou derrotado; frágil; que pode ser ferido por; destruído”. Um conceito mal compreendido do que é ser humano e jamais ser indestrutível, por mais que a vontade de acertar tenha muita força.
Quanta arrogância cabe nos que acreditam que nunca estão errados? Somos brilhantes e falhos ao mesmo tempo, carne e osso, e seguimos com um tanto de esforço na busca da perfeição inexistente. Não há nada de errado em querer excelência, mas, sim, em crer que não há coisa alguma a ser aprimorada e que não é preciso vez ou outra revisitar nossos antigos pensamentos e dar a eles um respiro, uma aula didática de novos conteúdos e permitir que ideias melhores sejam adotadas, se melhor for. Dar a si mesmo essa permissão é o maior testemunho do poder da vulnerabilidade em ser metamorfose e trazer uma nova dose de futuro para dentro de nós.
Fica subentendido que é preciso muita coragem para agir com a consciência de tratar o fator humano como parte do combo de decisões, e que a lição de casa que fica para todos nós, seres de estrondosa dificuldade de demonstrar dores e fracassos, é que, por mais racionais que possamos ser, também somos feitos de emoções, e que aceitar a vulnerabilidade em nós tem muito poder. Basta saber usá-la.
Flávio Rocha é presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes.
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Artigo publicado na edição 102 da revista Forbes, em outubro de 2022.