No último domingo, durante os graves acontecimentos no Distrito Federal, a minha caixa de mensagens disparou. Milhares de pessoas perguntando como esses eventos afetariam os investimentos em bolsa e se deveriam tomar alguma medida para proteger suas carteiras logo que amanhecesse a segunda-feira.
Esse tipo de inquietação é compreensível, pois as pessoas sabem que, em algum grau, o mercado financeiro sempre reage aos acontecimentos. Entretanto, antes de mexer na sua carteira de forma impulsiva, reagindo a acontecimentos pontuais de qualquer natureza, sugiro que você busque entender um pouco mais como as conjunturas afetam a economia e de que forma isso se reflete em sua jornada como investidor.
A política sempre teve o poder de impactar o mercado financeiro, por diversos motivos: leis e regulamentações que tenham efeito sobre o desempenho das empresas, orientação política e ideológica dos membros da equipe econômica do governo e, por consequência, as políticas implementadas, gestão da dívida pública influenciando o risco-país, entre outros.
Ainda assim, todos esses efeitos podem ser considerados indiretos, e sua magnitude sempre irá variar de acordo com o grau de importância que determinado acontecimento tenha no longo prazo.
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Isso se dá porque, apesar de sua relevância, a política não é o principal fator determinante do sucesso ou fracasso de uma ação. Quando você se torna acionista de uma empresa, está comprando um projeto, se associando a um negócio e não ao governo ou às políticas de Estado.
Vendo por esse prisma, fica claro que o mais importante para você como investidor é a perspectiva dos negócios, o fundamento das empresas, a despeito das influências políticas em cada governo.
Fatos políticos e instabilidades impactam, mas têm alcance limitado
Acontecimentos que geram incerteza política costumam ter influência porque o mercado sempre vê a incerteza como risco e, diante dele, os investidores institucionais tendem a buscar proteção em moedas fortes e economias estáveis.
Ocorre, porém, que o impacto das incertezas tem uma duração curta, se comparado, por exemplo, ao tempo de duração dos negócios de uma companhia.
A título de exemplo, pense em empresas como Banco do Brasil (BBAS3), Klabin (KLBN3). Raia Drogasil (RADL3), CPFL Energia (CPFE3), entre outras com mais de 100 anos de atuação no mercado.
Imagine a quantidade de fatos geopolíticos, governos, equipes e planos econômicos que estiveram presentes ao longo de todo esse tempo. Indo mais longe, tente se lembrar de ao menos um único ano em que não estivemos sob alguma crise política ou guerra de narrativas na disputa pelo poder. Essas e tantas outras empresas – listadas em bolsa ou não – atravessaram a história e, graças ao seus fundamentos e à boa gestão, seguem sua trajetória de crescimento, gerando resultados.
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A reação a eventos políticos, via de regra, tem por base a especulação influenciada pelas narrativas e o peso dado pela mídia a cada uma das partes envolvidas nas questões.
O fato é que os resultados dos ganhos corporativos e os dados de consumo são os fatores-chave no momento de se avaliar o valor intrínseco de empresas ou do mercado de forma geral. Os fatores políticos devem ser vistos como dados subjacentes, de menor monta numa linha temporal longa, que é muito mais influenciada por aspectos geopolíticos globais do que por acontecimentos políticos isolados.
Por que os distúrbios políticos foram relativizados pelo mercado?
Ao contrário do que muita gente imaginava, a bolsa de valores não reagiu de forma contundente aos acontecimentos do último fim de semana no Distrito Federal. Além dos aspectos que ponderei acima, temos ainda uma outra questão a considerar: o foco dos investidores estrangeiros está na política monetária dos Estados Unidos.
Dessa forma, havia muito mais preocupação com o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve), na terça-feira, 10, do que com quaisquer assuntos internos dos mercados emergentes.
No caso específico do Brasil, apesar da repercussão internacional, o entendimento é que não houve abalo à governabilidade. Sendo assim, é muito mais relevante para os investidores entender quais as tendências da taxa de juros norte-americana e as perspectivas de recessão nos Estados Unidos.
Um cenário recessivo nos Estados Unidos pode escalar para uma recessão global com forte apreciação do dólar que, ocorrendo, afeta o Brasil sob vários aspectos, a começar pela inflação e, consequentemente, a recuperação da economia.
Como o discurso de Jerome Powell não deixou claro quais os próximos passos do Fomc, aumentaram as apostas em um aumento de 0,25 pontos percentuais, ante à expectativa anterior de 0,5 pontos porcentuais. Isso animou os investidores quanto à proximidade do fim do ciclo de alta dos juros, daí as bolsas reagindo positivamente, mesmo em meio à instabilidade política momentânea aqui no Brasil.
Toda essa dinâmica dos acontecimentos dos últimos dias reforça o que a história tem mostrado repetidas vezes: o mercado financeiro é regido por uma lógica pragmática descolada de ideologias políticas, e o melhor a fazer para ter bons resultados em sua carteira de ações no longo prazo, é evitar que a emoção e as questões ideológicas interfiram nos seus planos de investimentos.