Os resultados financeiros informam o estado das contas da empresa. No Balanço Patrimonial estão os bens e direitos, chamados ativos, as dívidas, chamadas de passivo, e o dinheiro dos investidores, denominado patrimônio líquido, ou PL. No Demonstrativo de Resultado do Exercício são informados os resultados da empresa: faturamento, despesas operacionais e financeiras, o total pago em impostos. Isso permite calcular os lucros. A divulgação desses dados pode influenciar positiva e negativamente as cotações das ações de uma empresa.
Com o início da temporada de divulgação dos demonstrativos financeiros do 4º trimestre, deve-se observar uma continuidade do que surgiu nos três primeiros trimestres de 2022. Os resultados devem seguir refletindo o aperto na atividade econômica devido à elevação dos juros pelo Banco Central, o que beneficiou certos setores da economia e prejudicou outros.
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Sobre o cenário do Brasil, Denis Medina, economista e professor da FAC-SP, explica: “Nós vínhamos acompanhando uma baixa na inflação e um aumento gradual do PIB em 2022. Nesse cenário, podemos esperar um aumento moderado nas vendas de algumas empresas, com os custos controlados”. O economista ressalta também a influência do calendário, já que no último trimestre ocorrem as festividades natalinas e o pagamento do 13º salário, que alavancam o consumo doméstico.
Normalmente, o setor varejista é favorecido no 4º trimestre em decorrência da Black Friday e das festas de fim de ano. Porém, é esperado que neste ano os resultados sejam mais fracos do que os do ano passado. A alta dos juros tornou o crédito mais caro e desestimulou os consumidores a financiar suas compras, afetando uma das maiores fontes de lucro do setor. Isso é especialmente notado no varejo discricionário, os bens duráveis, que não fazem parte dos itens essenciais e são os primeiros da lista a ser deixados fora do carrinho de compras.
Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, diz que “neste trimestre tivemos uma Black Friday mais fraca do que dos últimos anos, caindo cerca de 28%. E o e-commerce sentiu o impacto, então devemos ver isso se refletindo nos resultados.”
Em contrapartida, entre as empresas que devem demonstrar um resultado positivo na divulgação desses balanços, Luives destaca: “ empresas com um modelo de negócios mais resiliente, de mercado internacional, ou que façam parte de um setor que se beneficiam com a conjuntura macroeconômica atual. Acho que as seguradoras devem apresentar resultados interessantes, por exemplo”.
O especialista também menciona o setor financeiro, que por um lado é beneficiado pela alta de juros, mas por outro, é desfavorecido pela inadimplência, que também encarece o crédito. Luives complementa: “Aqueles bancos mais expostos ao segmento de varejo podem sofrer um pouco mais. Enquanto que bancos com uma carteira de crédito mais defensiva devem se beneficiar do spread de crédito mais favorável e com a taxa de juros mais alta”.
Trimestre atual
Com o novo governo demonstrando a intenção de expandir seus gastos, os balanços que serão divulgados em abril poderão ser um pouco melhores em comparação ao ano anterior. Medina explica: “em um curto prazo, o aumento de gastos do governo pode ser positivo, pois acaba gerando mais demanda para setores diferentes, que acabam vendendo mais por conta disso”. Porém, o economista alerta também que isso pode não ser positivo a longo prazo caso haja um descontrole nos gastos, mas que ainda é cedo para avaliar.
Entre os setores que devem se beneficiar, destacam-se as commodities, devido à reabertura da economia chinesa, e ao otimismo ligado às exportações do minério de ferro. Puxados pelas exportações, os setores ligados ao dólar devem se valorizar também. O varejo deve continuar em queda devido às perspectivas de juros serem cada vez maiores. Mas apesar dos panoramas gerais, é necessário observar a situação de cada companhia especificamente, incluindo as orientações e fontes de receitas de cada uma.