A fintech QI Tech, uma das primeiras a obter autorização do BC (Banco Central) para operar como SCD (Sociedade de Crédito Direto) vai avançar do crédito para o mercado de capitais. A empresa está concluindo o processo para operar como DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), de modo a poder atuar na custódia e na gestão de recursos. “Nosso foco será fornecer infraestrutura para os escritórios de agentes autônomos”, diz Pedro Mac Dowell, fundador e CEO da QI Tech. “
Segundo Mac Dowell, a fintech já possui a tecnologia para prestar esses serviços. Com o registro como DTVM, a QI Tech permitirá que os escritórios de agentes autônomos ofereçam contas-investimento para seus clientes. “Isso dará aos escritórios mais flexibilidade para escolher os produtos de mercado melhor adaptados ao perfil dos clientes”, diz ele.
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O campo, avalia o CEO, é vasto. Atualmente, os escritórios de agentes autônomos possuem cerca de R$ 105 bilhões em ativos sob custódia. Já os fundos de investimento, segundo a Anbima, associação que representa o setor, encerraram 2022 com R$ 7,4 trilhões. Ou seja, há muito espaço para os agentes autônomos captarem dinheiro dos bancos. “A tecnologia e as novas normas do BC vão facilitar a portabilidade dos clientes”, diz o CEO.
Crédito
O lançamento da DTVM será uma repetição da trajetória da empresa no mercado de crédito. Em 2018, durante seu processo para reduzir a concentração do mercado bancário, o BC publicou a Resolução 4.656, que criou as SCD e as SEP (Sociedades de Empréstimo entre Pessoas). Essas novas instituições financeiras, reguladas e fiscalizadas pelo BC, permitem a concessão de empréstimos com menos burocracia. “Uma SCD é um banco de pobre”, diz Mac Dowell. “Ela permite a concessão de empréstimos sem que o empresário tenha de comprometer tanto capital quanto um banco.” A restrição é que, ao contrário dos bancos, as SCDs só podem usar os recursos do empresário. Estão proibidas de captar dinheiro no mercado, por exemplo por meio da emissão de CDB (Certificados de Depósito Bancário).
A QI Tech atua em um nicho específico desse mercado. “Suponha uma empresa de grande porte que tenha centenas de fornecedores e deseje usar seu capital para financiá-los”, diz Mac Dowell. “Ela teria de estruturar uma SCD para isso. Porém, nós prestamos esse serviço, o empresário só tem de entrar com o dinheiro e indicar quem vai receber os empréstimos.”
Dos bancos para as teles
Apesar de o marco legal das SCD e das SEP ter surgido em 2018, o BC só regulamentou essas instituições financeiras em definitivo em maio de 2022. Nesse momento o mercado obteve um bom impulso, e novas empresas passaram a testar o mercado de empréstimo. Mac Dowell não divulga os nomes, mas há uma grande operadora de telefonia e uma distribuidora de eletricidade entre seus clientes. “Além de prestarem os serviços habituais, elas estão concedendo empréstimos, como se fossem bancos”, diz ele. “O fato de terem grandes bases de clientes e uma boa visibilidade sobre sua solvência financeira permite que elas atuem nesse segmento.”
Segundo o executivo, uma possibilidade é que parte do crédito atualmente nos balanços dos bancos migre para essas empresas de grandes bases de clientes. “E varejistas de pequeno e médio porte, em geral distantes de grandes centros, poderão passar a financiar diretamente os clientes sem ter de recorrer aos bancos ou às administradoras de cartão de crédito”, diz.
Mac Dowell diz que QI Tech encerrou 2022 tendo processado R$ 5,8 bilhões em operações de crédito, e que a meta para 2023 é chegar a R$ 10 bilhões. No primeiro semestre a fintech deverá administrar Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, FIDCs, apenas com a ajuda de robôs para facilitar a tramitação dos recursos