“De mulher para mulher – Marisa” é um slogan que frequentou, durante muito tempo, as campanhas publicitárias. A identificação era imediata com a Marisa (AMAR3), rede de lojas fundada em 1948 e que vendia bolsas femininas no centro de São Paulo tinha se tornado uma referência no varejo segmentado, vendendo roupas femininas. Durante a década passada, a empresa seguiu a trajetória padrão das concorrentes do varejo. Abriu capital no Novo Mercado em 2010. E no fim da décadas passada lançou o MBank, braço financeiro dedicado a aumentar as vendas.
Toda essa movimentação não impediu que, no início de fevereiro, as ações da varejista fossem engolfadas pela incerteza que vem contaminando o setor desde a divulgação de irregularidades contábeis na Americanas (AMER3). Hoje (9), as ações estão fechando preliminarmente a R$ 0,82, queda de 22,6% no pregão. Desde o início de fevereiro a queda é de 40,7%. Com a baixa de hoje, a Marisa tornou-se a mais nova “penny stock”, do pregão, com suas ações caindo abaixo do nível psicológico de R$ 1,00.
Renegociação e corte de custos
O que motivou a baixa foram duas notícias. A primeira, divulgada na terça-feira (7), foi que a empresa havia contratado o banco BR Partners para assessorá-la na renegociação de seu endividamento financeiro e a consultoria Galeazzi Associados para cortar custos. Na noite de ontem a empresa anunciou mais uma troca de comando. O CEO Adalberto Santos, que havia assumido o cargo em março de 2022, renunciou, sendo substituído interinamente por Alberto Penhas, vice-presidente comercial da varejista. Antes de Santos, a empresa era comandada por Marcelo Pimentel.
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Os números dão razão para a preocupação dos investidores. O prejuízo nos três primeiros trimestres de 2022 são de R$ 202 milhões, crescimento de cerca de 150% ante as perdas de R$ 81 milhões do mesmo período de 2021. Segundo a empresa, o resultado foi afetado pelo aumento de despesas financeiras, dada a alta de juros.
Em setembro de 2022, dado mais recente disponível, a dívida bruta da Marisa era de R$ 788 milhões e a dívida líquida era de R$ 566 milhões. Desse total, R$ 314 milhões ou 55,4% eram dívidas de curto prazo, com vencimentos em até 12 meses. O passivo inclui as necessidades da financeira MBank.
Adversidades do varejo
O que afetou a Marisa foi o que trouxe dores de cabeça para boa parte do varejo durante a pandemia. A empresa sempre foi discreta no comércio eletrônico, e seu faturamento depende bastante das lojas físicas. Em 2019, último ano antes da pandemia, a estimativa do mercado era que a rede recebeu 10 milhões de consumidores, visitas que desapareceram durante os primeiros anos da pandemia.
Para piorar, a coronavírus alterou os hábitos de consumo e ampliou a participação das vendas digitais. E como se não bastasse, a alta dos juros e o encarecimento do crédito pesou nos custos de captação da financeira da empresa. Em 2021, a rede buscou um sócio para o MBank e chegou a negociar com a Americanas. Porém, as conversas não vingaram.
Os problemas da Marisa – e a queda das ações – sublinham o fato de que o varejo brasileiro está em um momento de mudanças profundas. A mistura de crescimento do comércio eletrônico, invasão da roupas importadas baratas (atire o primeiro cabide quem nunca comprou uma peça chinesa por menos de R$ 20), alta dos juros e desaceleração da economia machucaram as margens de lucro. As empresas mais frágeis financeiramente e com os maiores desafios na gestão estão mostrando que os tempos difíceis estão longe de acabar.