A Ata da 252ª reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada hoje (7) não deixa dúvidas de que o BC (Banco Central) está preocupado com a desancoragem das expectativas de inflação. Vamos analisar os principais pontos do documento:
Principais pontos da Ata
– economia internacional: o crescimento seguirá fraco. Porém, a escassez de mão de obra vai manter a inflação de serviços elevada e isso deve fazer com que os juros globais sigam altos por mais tempo
– economia brasileira: os indicadores revelam uma desaceleração na confiança, na indústria, no comércio, nos serviços e na geração de emprego. Mesmo assim, a inflação segue elevada. A projeção de inflação do Copom para 2023 subiu para 5,6% ante 5,0% e a de 2024 subiu para 3,4% ante 3,0%. A inflação dos preços administrados também subiu: em 2023 foi de 9,1% para 10,6% e em 2024 foi de 4,2% para 5,0%.
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– expectativas: na parte mais dura da Ata, no item 12, o Copom abandonou o discurso neutro. Em uma linguagem muito mais dura do que o habitual, ele informa que notou “com especial preocupação” a deterioração das expectativas de inflação. Entre as causas: “uma possível percepção de leniência do BC com as metas estimuladas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada (…) ou a possibilidade de alteração das metas de inflação.”
Por que a inflação pode subir
O texto analisa cada uma dessas causas em separado. Para eliminar qualquer dúvida com relação a leniências, “o BC reafirma seu compromisso em conduzir a política monetária para atingir as metas estabelecidas e avalia que, uma vez observada a desancoragem, é necessário se manter ainda mais atento na condução da política monetária”.
Na segunda causa, a política fiscal expansionista, o Copom também não deixa dúvidas e frisa que é “a política monetária a variável de ajuste macroeconômico utilizada para mitigar os efeitos porventura inflacionários da política fiscal”.
E na terceira causa, a mudança das metas de inflação, o BC deixa claro que essa é uma decisão do CMN. “[M]ais importante do que a análise das motivações para a elevação das expectativas, o Comitê enfatiza que irá atuar para garantir que a inflação convirja para as metas”, diz o texto.
A desancoragem das expectativas é um dos principais problemas para o BC. Se não houver consenso em relação à inflação, todos os agentes econômicos tentarão se proteger elevando seus preços acima do que seria o esperado. Isso acelera o processo inflacionário.
Política fiscal
Na parte fiscal, o Comitê dá um crédito de confiança ao novo governo, e considera o pacote fiscal anunciado pelo Ministério da Fazenda. “O Comitê (…) reconhece que a execução de tal pacote atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação.” Mesmo assim, o texto não deixa dúvidas de que o Banco Central está preocupado com a desancoragem das expectativas e também torna claro que, se for preciso, os juros vão voltar a subir para acabar com esse problema. “Além do impacto direto que a elevação das expectativas tem sobre as projeções de inflação, o aumento das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação (…). O Comitê seguirá atento e perseverará até que a ancoragem das expectativas se consolide.”
Análise
Na avaliação de Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos, o tom da Ata confirmou o que havia sido publicado no Comunicado, divulgado após a reunião que se encerrou no dia 1º de fevereiro. No entanto, como a Ata é mais extensa que o Comunicado, foi possível entender melhor como o BC vê a situação e é possível notar algumas nuances na dureza do comunicado.
Segundo Abdelmalack, o Comitê segue reforçando a preocupação com a política fiscal, cujos desequilíbrios serão responsáveis pela manutenção dos juros altos por mais tempo. Isso também deve ocorrer no exterior, mas a influência do cenário doméstico é maior do que a do cenário internacional.
O principal ponto positivo com relação à política fiscal é que “o BC reconheceu que as projeções para o resultado fiscal de 2023 estão melhores”, diz ela. “O rombo projetado nas contas públicas é de R$ 231 bilhões, mas talvez o número não seja tão ruim.” Pontos do pacote tributário como a volta da cobrança de impostos federais sobre a gasolina, cortes nas despesas e a estratégia de reduzir litígios permitem esperar um crescimento da receita.
Ainda assim, diz a economista, há muita incerteza com relação à coordenação entra política fiscal e a política monetária, e isso eleva os riscos para a economia brasileira. “Os investidores têm a percepção de um aumento de riscos, e isso afeta a curva de juros.”