A alta dos juros dificulta a vida e as operações das empresas e exige um acompanhamento mais próximo e intenso. Se a Selic permanecer elevada por mais tempo do que o esperado, isso deverá amplificar esse problema. Mesmo assim, não deverá haver uma crise sistêmica e generalizada da qualidade de crédito das empresas. Essa, resumidamente, é a visão de Mário Leão, CEO do Santander Brasil (SANB11) para o cenário do crédito corporativo em 2023.
O banco divulgou hoje (2) seus resultados do quarto trimestre de 2022 e do ano passado como um todo. Os números vieram abaixo do esperado. O lucro líquido finalizou o trimestre em R$ 1,7 bilhão, um recuo trimestral de 45,9%, abaixo do consenso de R$ 2,9 bilhões. Com isso, o retorno sobre patrimônio líquido médio finalizou o trimestre em 8,3%, uma queda de 7,3 p.p., e um Índice de Basileia de 13,9%, queda de 0,5 p.p.
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As despesas gerais cresceram 6,3% no trimestre, finalizando o período em R$ 6,0 bilhões. O resultado foi puxado pelo aumento de 4,8% das despesas de pessoal ocasionado pela incidência do dissídio de 2022, em paralelo a um aumento de 7,6% nas despesas administrativas decorrente de maiores custos com processamento de dados e propagandas. Com isso, houve uma deterioração no índice de eficiência do banco, despesas em relação às receitas, que finalizou o trimestre em 40,6 por cento, 3,2 p.p. acima do 3T22.
Segundo Leão, boa parte dessa perda deveu-se ao aumento dos juros. “As taxas subiram muito, e rapidamente, entre maio de 2021 e agosto de 2022”, disse ele. Isso provocou perdas na chamada margem com o mercado. “Nosso passivo, que são as aplicações dos clientes, é reprecificado imediatamente, ao passo que o ajuste do ativo [às taxas mais altas] deve demorar mais de um ano para ser reprecificada”, diz ele.
Americanas
Mesmo reconhecendo que a notícia “surpreendeu” o mercado e frisando que não comenta casos isolados, ele disse não acreditar que a situação da varejista indique uma tendência generalizada de deterioração da qualidade do crédito corporativo. Segundo o CEO, a continuidade dos juros elevados amplia o custo financeiro das empresas. Nesse caso, “as companhias que estavam mais alavancadas no início desse ciclo de alta dos juros deverão ter maiores riscos de deterioração”, disse ele. “Mas ainda não estamos vendo um efeito cumulativo disso.” Leão afirmou, porém, que o banco está observando com mais cuidado a situação dos clientes corporativos.