“Star Wars: O Despertar da Força” é o filme mais caro já feito, com um orçamento total de US$ 533,2 milhões (R$ 2,76 bilhões), segundo registros recentes divulgados pela Disney.
O filme de 2015 foi o primeiro da série Star Wars realizado pela Disney e foi lançado três anos após a aquisição da Lucasfilm por US$ 4 bilhões (R$ 20 bilhões). A produtora adquirida pela Disney possui os direitos da franquia de ficção científica, iniciada em 1977.
“O Despertar da Força” reiniciou a série juntando as estrelas em ascensão Daisy Ridley e John Boyega com nomes consagrados como Harrison Ford, Mark Hamill e a falecida Carrie Fisher, que haviam alcançado a fama no primeiro filme de Star Wars, 37 anos antes.
O retorno da franquia foi um sucesso entre os fãs e arrecadou US$ 2,1 bilhões (R$ 10,9 bilhões) em todo o mundo, segundo o registro do Box Office Mojo. Porém, apesar de a estreia ter ocorrido há quase oito anos, só agora veio à tona o valor exato de quanto a Disney investiu nessa retomada.
Ciente de que precisaria de um orçamento grande para os efeitos visuais e para os salários dos atores e atrizes, a Disney desenvolveu uma maneira engenhosa de ganhar dinheiro. As filmagens foram realizadas nos estúdios Pinewood, no Reino Unido. Isso permitiu à Disney se beneficiar da isenção fiscal para filmes do governo britânico, que permite que as produtoras recebam um reembolso em dinheiro de até 25% dos custos incorridos no país.
Com tanto em jogo, a Disney não se arriscou e obteve o apoio do Reino Unido desde o início. Em 2014, o secretário do Tesouro, George Osborne, anunciou orgulhosamente que o Pinewood não seria apenas o lar de “O Despertar da Força”, mas também das duas sequências de Star Wars. “Isso significará mais empregos e mais investimentos”, afirmou Osborne. “É uma ótima notícia para as pessoas que trabalham nos estúdios Pinewood, desde os cenógrafos até os carpinteiros.”
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Outra consequência de filmar no Reino Unido é que isso coloca as finanças dos filmes sob os holofotes. Os orçamentos de filmes geralmente são um segredo bem guardado, pois os estúdios tendem a absorver os custos em suas despesas gerais. No entanto, os gastos com os filmes feitos no Reino Unido são consolidados em empresas que arquivam demonstrações financeiras anuais e mostram o reembolso em dinheiro, o número de funcionários, os salários, as despesas totais e muito mais.
As produtoras usam codinomes para não chamar a atenção ao solicitar licenças para filmar. A subsidiária da Disney por trás de “O Despertar da Força” foi chamada de Foodles Production. O nome é o de um café perto da sede da Kerner Optical, uma empresa de efeitos especiais da LucasFilm, em San Rafael, na Califórnia.
Uma condição para receber o reembolso em dinheiro é que as empresas sejam responsáveis por tudo, desde a pré-produção até a entrega do filme e o pagamento dos serviços relacionados ao filme já concluído – esta, inclusive, é uma das razões pelas quais a Foodles ainda registra os custos em suas demonstrações financeiras oito anos após o lançamento de “O Despertar da Força”.
Além disso, as empresas costumam arquivar suas demonstrações financeiras com um atraso de cerca de um ano do período do registro. É por isso que os resultados mais recentes da Foodles foram arquivados no mês passado e cobrem o ano até 31 de dezembro de 2021. Durante esse período, a empresa gastou US$ 3,1 milhões (R$ 16,08 milhões) com o filme de 2015, elevando o total gasto em “O Despertar da Força” para US$ 533,2 milhões – valor 74% superior ao que a mídia havia estimado.
Entretanto, a Disney não gastou mais do que previa, pois as demonstrações financeiras dizem que “no final do ano, o custo total estimado estava dentro do orçamento”. Somente os salários chegaram a um total de US$ 21,5 milhões (R$ 111,54 milhões), com o número de funcionários chegando a 258, sem incluir freelancers e trabalhadores autônomos que compõem a maioria das equipes.
O concorrente mais próximo de “O Despertar da Força” como o filme mais caro foi outra obra da franquia: “A Ascensão Skywalker”, de 2019, que custou US$ 503,6 milhões (R$ 2,61 bilhões) para ser produzido. No outro extremo estão os três spin-offs de Star Wars que também foram feitos no Reino Unido. “Rogue One”, uma prequência do primeiro filme de Star Wars, e “Solo”, que conta a história de origem do personagem Han Solo. No entanto, a produção mais barata que a Disney fez no país britânico é “Andor”, série do streaming que estreou em setembro e estrela o ator mexicano Diego Luna como o herói homônimo. Com um custo total de US$ 242,4 milhões (R$ 1,25 bilhão), seu orçamento foi menos da metade do de “O Despertar da Força”.
A Disney recebeu impressionantes US$ 389 milhões (R$ 2,02 bilhões) em reembolsos do governo do Reino Unido, com US$ 86,6 milhões (R$ 449,26 milhões) pagos por “O Despertar da Força”, diminuindo seus custos líquidos para US$ 446,6 milhões (R$ 2,31 bilhões). No entanto, mesmo levando isso em conta, “O Despertar da Força” ainda ocupa o centro das atenções como a mais cara das seis produções de Star Wars que a Disney fez no Reino Unido.
Isso coloca “O Despertar da Força” muito acima de “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas”, que se acreditava, até então, ser o filme mais caro já feito. Ele coroou listas da Collider e da Screenrant graças a um orçamento que chegou a US$ 291,64 milhões (R$ 1,51 bilhão) quando a Forbes o revelou em 2014. Desde então, aumentou para US$ 324,1 milhões (R$ 1,68 bilhão), mas ainda está muito longe da quantia gasta em “O Despertar da Força”, e o mesmo vale para os custos líquidos de “Navegando em Águas Misteriosas”, que chegam a US$ 297,9 milhões (R$ 1,54 bilhão) após a dedução de seu reembolso de US$ 26,2 milhões (R$ 135,92 milhões).
Tecnicamente, as duas últimas parcelas da saga de super-heróis dos Vingadores da Disney custam mais do que “O Despertar da Força”. “Guerra Infinita” e “Ultimato” foram feitos pela Assembled Productions III, que gastou um total de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,23 bilhões) desde que foi incorporada, em 2016, conforme as últimas demonstrações financeiras. Porém, como os dois filmes foram feitos pela mesma produtora, não é possível precisar quanto foi gasto em cada um.
Em contraste, a análise de 39 conjuntos de demonstrações financeiras revela que a Disney gastou um total de US$ 2,3 bilhões (R$ 14,50 bilhões) fazendo as seis produções de Star Wars no Reino Unido. Isso realmente o torna uma força a ser reconhecida.
*Caroline Reid escreve sobre a indústria do cinema e parques temáticos para a Forbes USA e cobre o setor há mais de 15 anos. Já escreveu para sites como The Times, The Guardian, Financial Times e Wall Street Journal.
(Traduzido por Monique Lima)