Em janeiro de 2022, a startup de cartão de crédito Brex levantou US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) de uma série de investidores de primeira linha, quase dobrando o valor da empresa para US$ 12,3 bilhões (R$ 61,75 bilhões) e tornando seus cofundadores brasileiros – Pedro Franceschi, de 26 anos, e Henrique Dubugras, de 27 anos – os bilionários self-made mais jovens do mundo.
“Acho que é fácil para as pessoas pensarem que já somos bem-sucedidos”, disse Dubugras à Forbes na época. “Nós somos, mas não somos. Obviamente, estamos felizes com o que alcançamos, mas há muito mais por vir.”
Certamente é muito cedo para descartar a história de sucesso de longo prazo que poderia ser o Brex. Mas, um ano depois, a Forbes estima que o valor da empresa caiu para US$ 6,4 bilhões (R$ 32,15 bilhões) – quase 50% menos do que 12 meses atrás. Francheshi e Dubugras, por sua vez, não são mais bilionários em dólares, valendo cerca de US$ 900 milhões (R$ 4,5 bilhões) cada, ante US$ 1,5 bilhão (R$ 7,5 bilhões) um ano atrás.
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Eles estão em boa companhia. Em março de 2022, perto do pico do frenesi de financiamento de startups, 44 fundadores de unicórnios – empresas privadas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão – valiam um total de US$ 190 bilhões (R$ 954 bilhões), segundo estimativas da Forbes. Um ano depois, com a queda das criptomoedas e com as empresas fechadas seguindo o caminho de suas companheiras listadas em bolsa, a Forbes– em consulta com proeminentes VCs, investidores e provedores de dados – reavaliou os unicórnios apoiados por bilionários do mundo.
Os resultados são gritantes: metade da riqueza dos bilionários que veio dos unicórnios desapareceu. Isso deixou esse grupo de elite de visionários de startups US$ 96 bilhões (R$ 482 bilhões) mais pobres do que há um ano. Doze deles não são mais bilionários. E isso exclui uma dúzia de fundadores chineses de unicórnios que enfrentam seu próprio conjunto único de questões, tanto políticas quanto econômicas.
“Aquela era uma época diferente no mundo, em que eu podia valer X no papel, mas era um tipo de dinheiro de mentira”, diz Matt Murphy, sócio da empresa de capital de risco Menlo Ventures, sobre a preparação para o pico da bolha. “Acho que será preciso um processo de desintoxicação, porque no mundo dos empreendimentos as pessoas ficam muito intoxicadas com isso, e todo mundo precisa sair da droga da valorização. Isso se foi, acabou e não vai voltar, então vamos retornar a princípios historicamente mais razoáveis e focar novamente na construção de grandes empresas operacionalmente mais eficientes.”
Alguns unicórnios já cortaram suas próprias avaliações. A startup de pagamentos online Checkout.com reduziu proativamente sua valuation interna para US$ 11 bilhões (R$ 55 bilhões) em dezembro, depois que os investidores avaliaram a empresa em US$ 40 bilhões (R$ 200 bilhões) em janeiro de 2022. Isso derrubou a fortuna de seu fundador e CEO, o suíço Guillaume Pousaz. Seu patrimônio caiu de US$ 23 bilhões (R$ 115,5 bilhões) para US$ 7,2 bilhões (R$ 37,65 bilhões). Durante um breve período, Pousaz foi o empresário de tecnologia mais rico da Europa.
A gigante irlandesa de pagamentos Stripe, fundada e administrada pelos irmãos Patrick e John Collison, fez o mesmo. A empresa baixou sua própria avaliação pelo menos três vezes para US$ 63 bilhões (R$ 316,3 bilhões) este mês, depois que os investidores avaliaram a empresa em US$ 95 bilhões (R$ 476,9 bilhões) em março de 2021. Já os irmãos Collison agora valem US$ 6,9 bilhões (R$ 34,64 bilhões) cada, abaixo dos US$ 9,5 bilhões anteriores. A Instacart de Apoorva Mehta e a startup de software de Ali Ghodsi, Databricks, também caíram em outubro.
>Leia também: Bilionários ficam quase US$ 2 trilhões mais pobres em 2022
A startup sueca Klarna, que compra agora e paga depois, co-fundada pelos ex-bilionários Victor Jacobsson e Sebastian Siemiatkowski (estimados em US$ 600 milhões e US$ 500 milhões, respectivamente – abaixo dos US$ 4 bilhões e US$ 3,2 bilhões), foi o único unicórnio com fundadores na lista de bilionários da Forbes a já levantar uma nova rodada de investimentos com uma avaliação mais baixa que reavaliou a empresa em US$ 6,7 bilhões (R$ 33,65 bilhões) em julho de 2022, após ter levantado surpreendentes US$ 45,6 bilhões (R$ 228,95 bilhões) em uma avaliação apenas nove meses antes.
Mas essas meia dúzia de empresas eram exceções. “Todo mundo está se escondendo atrás dos dois a três anos de pista que eles tiveram com o dinheiro que levantaram e evitando essas rodadas”, diz Murphy da Menlo Ventures. “Já estamos há um ano nisso, e se você é uma empresa [financiada por capital de risco], não quer ficar com menos de um ano ou menos de seis meses de caixa. Portanto, acreditamos que o mercado deve se recuperar ainda este ano”.
Murphy diz que as demissões são uma das maneiras pelas quais as empresas estão “dimensionando corretamente para fazer seu dinheiro durar mais”. Entre os unicórnios que cortaram funcionários estão a ScaleAI de Alexandr Wang, de 26 anos, a exchange de criptomoedas Gemini, de Cameron e Tyler Winklevoss, bem como Brex, Klarna e Stripe.
Até agora, a Forbes avaliou as empresas apoiadas por capital de risco, tomando a avaliação de sua última rodada de financiamento, não importa quando, e normalmente descontando-a em 10% devido à falta de liquidez e transparência financeira. A nova metodologia da Forbes traz as avaliações de empresas apoiadas por capital de risco mais alinhadas com o recente tumulto nos mercados de ações e reavaliações internas e externas que esses unicórnios estão enfrentando.
Se uma empresa levantou dinheiro nos últimos três meses, como a varejista online Fanatics, de Michael Rubin, ou a Anduril, startup de defesa de Palmer Luckey, a Forbes usou sua avaliação mais recente dessa rodada de financiamento. Na ausência de rodadas de financiamento recentes ou remarcações internas, a Forbes trabalhou com três provedores de dados de preços de mercado privados – ApeVue , Caplight Technologies e Notice – para reavaliar 30 unicórnios que representam a maioria das fortunas de bilionários (e ex-bilionários).
Na maioria dos casos, a Forbes calculou a média das estimativas de avaliação atuais dos provedores de dados para cada unicórnio, baseadas no desempenho de empresas públicas comparáveis, atividade do mercado secundário e marcas de fundos mútuos divulgadas publicamente. Com base nessa análise, a Forbes estima que agora existem 32 unicórnios bilionários fora da China, abaixo dos 44 em março, que valem US$ 94 bilhões (R$ 471,94 bilhões).
Nem todos concordam com a nova forma de avaliação. Quando informado de sua valuation estava sendo reduzida para US$ 13,8 bilhões (de US$ 33 bilhões) e as fortunas de seus cofundadores Nik Storonsky e Vlad Yatsenko para US$ 3,3 bilhões (de US$ 7,1 bilhões) e US$ 500 milhões (de US$ 1,1 bilhão), um porta-voz da fintech britânica Revolut não quis comentar. “Não nos envolvemos em especulações sobre nossa avaliação. Desde a nossa última rodada de financiamento, na qual fomos avaliados em US$ 33 bilhões, o negócio lucrativo da Revolut continuou a ter um forte desempenho em todos os mercados do mundo.”
Claro, o valor de um unicórnio tem consequências no mundo real que vão muito além das fortunas de seus criadores. “Se o fundador é bilionário ou não, provavelmente não é a coisa mais importante para eles, a menos que eles estejam fortemente alavancados com base na avaliação anterior”, diz o capitalista de risco Eric Paley, da Founder Collective. “Há ego envolvido nisso tudo, mas o maior problema é a crise de confiança. De certa forma, é psicológico, porque acredito que seria muito melhor subir de uma avaliação de US$ 1 bilhão para US$ 5 bilhões, do que ir de US$ 1 bilhão para US$ 10 bilhões e depois voltar para US$ 5 bilhões.”
“Agora, todas as stock options dos funcionários viraram pó e eles podem decidir ir para outro lugar que acreditam estar em alta e não em baixa”, acrescenta Paley. “Da mesma forma, os investidores podem olhar para isso como ‘quem gostaria de ser um investidor nessa empresa?’ Todas essas pessoas estão lutando com o que a empresa era e estão ligadas a isso em suas mentes.”
MAIORES PERDEDORES
Sam Bankman-Fried – FTX
Patrimônio atual: US$ 0
Perdeu: US$ 24 bilhões (–100%)
Guillaume Pousaz – Checkout.com
Patrimônio atual: US$ 7,2 bilhões
Perdeu: US$ 15,8 bilhões (–69%)
Gary Wang – FTX
Patrimônio atual: US$ 0
Perdeu: US$ 5,9 bilhões (–100%)
Nik Storonsky – Revolut
Patrimônio atual: US$ 3,3 bilhões
Perdeu: US$ 3,8 bilhões (–54%)
Victor Jacobsson – Klarna
Patrimônio atual: US$ 600 milhões
Perdeu: US$ 3,4 bilhões (–85%)
Barry Silbert – Digital Currency Group
Patrimônio atual: US$ 0
Perdeu: US$ 3,2 bilhões (–100%)
Cameron Winklevoss – Gemini
Patrimônio atual: US$ 1,1 bilhão
Perdeu: US$ 2,9 bilhões (–72%)
Tyler Winklevoss – Gemini
Patrimônio atual: US$ 1,1 bilhão
Perdeu: US$ 2,9 bilhões (–72%)
Cliff Obrecht – Canva
Patrimônio atual: US$ 3,6 bilhões
Perdeu: US$ 2,9 bilhões (–44%)
Melanie Perkins – Canva
Patrimônio atual: US$ 3,6 bilhões
Perdeu: US$ 2,9 bilhões (–44%)
DEIXARAM DE SER BILIONÁRIOS
Alexandr Wang – Scale
Patrimônio atual: US$ 900 milhões
Perdeu: US$ 100 milhões (–10%)
Henrique Dubugras – Brex
Patrimônio atual: US$ 900 milhões
Perdeu: US$ 600 milhões (–40%)
Pedro Franceschi -Brex
Patrimônio atual: US$ 900 milhões
Perdeu: US$ 600 milhões (–40%)
Prasanna Sankar – Rippling
Patrimônio atual: US$ 800 milhões
Perdeu: US$ 200 milhões (–18%)
Alex Atallah – OpenSea
Patrimônio atual: US$ 700 milhões
Perdeu: US$ 150 milhões (–69%)
Devin Finzer – OpenSea
Patrimônio atual: US$ 700 milhões
Perdeu: US$ 150 milhões (–69%)
Victor Jacobsson – Klarna
Patrimônio atual: US$ 600 milhões
Perdeu: US$ 3,4 bilhões (–85%)
Vlad Yatsenko – Revolut
Patrimônio atual: US$ 500 milhões
Perdeu: US$ 600 milhões (–51%)
Sebastian Siemiatkowski – Klarna
Patrimônio atual: US$ 500 milhões
Perdeu: US$ 2,7 bilhões (–85%)
Barry Silbert – Digital Currency Group
Patrimônio atual: US$ 0
Perdeu: US$ 3,2 bilhões (–100%)
Sam Bankman-Fried – FTX
Patrimônio atual: US$ 0
Perdeu: US$ 24 bilhões (–100%)
Gary Wang – FTX
Patrimônio atual: US$ 0
Perdeu: US$ 5,9 bilhões (–100%)