Publicada hoje (28) a Ata da 253ª reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) trouxe um recado duro do BC (Banco Central). Segundo o Copom, a inflação segue acima das metas, e a expectativa de inflação subiu tanto para este ano quanto para o ano que vem. A projeção para 2023 subiu para 6,0% ante 5,7%, e a estimativa para 2024 avançou para 4,1% ante 3,9%.
Em linha com o Comunicado, divulgado na quarta-feira (22), o texto de hoje deixou aberta a porta para novas altas de juros. “O Comitê novamente avaliou a possibilidade de incorporar alguma elevação em sua estimativa de taxa neutra de juros. (…) O Comitê optou, neste momento, por manter a taxa neutra de juros em 4%, mas avaliou cenários alternativos e identificou que os impactos de uma elevação da taxa neutra sobre suas projeções crescem no tempo e passam a ser mais relevantes a partir do segundo semestre de 2024.”
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O texto não deixa dúvidas de que está falando dos gastos do governo. “Ao avaliar os fatores que poderiam levar a (…) uma taxa de juros neutra mais elevada, enfatizou-se a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas, (…) como já observado em comunicações anteriores do Comitê.”
E fica claro que não há espaço para fórmulas mágicas. “[O] Comitê seguirá acompanhando o desenho, a tramitação e a implementação do arcabouço fiscal que será apresentado pelo Governo e votado no Congresso. O Copom enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a apresentação do arcabouço fiscal.”
Desaquecer a economia
Juros altos afetam o crescimento econômico e o Copom não apenas sabe disso, como deixou claro que não há muitas alternativas. “O Copom segue avaliando que a desaceleração econômica em curso é necessária para garantir a convergência da inflação para suas metas, particularmente após período prolongado de inflação acima das metas.”
E garantiu que não tem pressa. Ao analisar a dinâmica da inflação, o Comitê avalia que há uma desaceleração na queda da inflação, e essa desaceleração é provocada pelo nível de atividade econômica e pelas expectativas. “Observa-se assim uma dinâmica inflacionária movida por excessos de demanda (…) que requer moderação da atividade econômica para que os canais de política monetária atuem. Tal processo demanda serenidade e paciência na condução da política monetária para garantir a convergência da inflação para suas metas.”
Deterioração das expectativas
Didático, o texto tratou da importância das expectativas para a economia. “{O] comportamento das expectativas é um aspecto fundamental do processo inflacionário, uma vez que afeta a definição de preços e salários presentes e futuros. À medida que se projeta inflação mais alta à frente, empresas e trabalhadores passam a incorporar tal inflação futura em seus reajustes de preços e salários. Assim, há uma maior elevação de preços no período corrente, e o processo inflacionário é alimentado por essas expectativas.”
Segundo o texto, “observa-se maior resiliência e menor velocidade da desinflação nas últimas divulgações, em linha com o processo não linear que o Comitê já antecipava. Além disso, as expectativas de inflação seguiram um processo de desancoragem, em parte relacionado ao questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras.”
Ou seja, o debate sobre mudar as metas é o famoso tiro pela culatra: injeta mais incerteza, que se transforma em projeções de inflação mais elevada. “O Comitê avalia que a credibilidade das metas perseguidas é um ingrediente fundamental do regime de metas de inflação(…). Nesse sentido, decisões que induzam uma reancoragem das expectativas reduziriam o custo desinflacionário e as incertezas associados a esse processo.