As consequências do problemático Silicon Valley Bank podem afetar adversamente o mercado de trabalho, principalmente nos setores de capital de risco, startup e criptomoeda, onde o SVB era um credor e banqueiro proeminente. Com a atual recessão do colarinho branco, esse medo provavelmente fará com que as empresas adiem as contratações e continuem demitindo trabalhadores para cortar custos, apenas no caso de as coisas piorarem.
A saga começou quando o SVB se deparou com a nova realidade de juros mais altos. O SVB enfrentou risco de taxa de juros em US$ 91 bilhões (R$ 475 bilhões) em títulos e, em seguida, anunciou uma liquidação de sua carteira de títulos de US$ 21 bilhões (cerca de R$ 110 bilhões), incorrendo em enormes perdas de cerca de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,4 bilhões), segundo o Financial Times.
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O banco anunciou planos para levantar cerca de US$ 2,3 bilhões (R$ 12 bilhões) em capital novo para permanecer solvente e manter as portas abertas. As agências de crédito reduziram as classificações de crédito do SVB, fazendo com que as ações caíssem mais de 60% na quinta-feira (9).
Enquanto isso, os clientes estavam ficando preocupados para sacar seu dinheiro, já que a Federal Deposit Insurance Corporation cobre apenas valores de até US$ 250 mil (cerca de R$ 1,3 milhão). Se o SVB quebrasse, seria a segunda maior falência de um banco na história dos Estados Unidos.
Capital de criptomoedas do Silvergate
O colapso repentino de um dos principais bancos do mercado de criptomoedas, o Silvergate Capital, mostrou o que acontece quando os depositantes ficam preocupados e retiram seu dinheiro.
Os clientes do Silvergate retiraram seus fundos do banco, em pânico com o impacto da implosão épica da outrora grande exchange de criptomoedas FTX em 2022. O Silvergate incorreu em uma perda de cerca de US$ 886 milhões (R$ 4,6 bilhões) quando a instituição financeira vendeu títulos à medida que os depósitos deixaram o banco. A situação precária resultou no fechamento do banco Silvergate.
O que é o Silicon Valley Bank hoje
O SVB está em negociações para ser vendido, segundo a CNBC. As tentativas de levantar capital falharam, e o banco contratou consultores para explorar uma possível venda. Grandes instituições financeiras estão considerando uma possível compra do SVB.As ações do SVB caíram 80% em relação ao recorde no final de 2021, porque as taxas de juros aumentaram, prejudicando o modelo de negócios da instituição, informou o Barron’s.
A dramática queda do valor de mercado do banco foi atribuída à venda de ativos, em resposta à queda nos depósitos e ao influxo de grandes saques.
O CEO do SVB, Greg Baker, pediu que as cabeças mais frias prevalecessem, ao divulgar uma perda de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,4 bilhões) e a necessidade de levantar US$ 2,25 bilhões (R$ 11,7 bilhões) em capital novo para a instituição. Ele pediu que seu capital de risco, ativos digitais e clientes iniciantes adiassem suas retiradas.
Os desafios do SVB aumentaram quando a instituição precisou vender títulos para alterar sua carteira de investimentos e realinhá-la com as mudanças provocadas pelos efeitos das taxas de juros mais altas.
O banco ostentava um valor de mercado de US$ 16,8 bilhões (R$ 87,6 bilhões) no final da semana passada e, na quinta-feira (9), o valor de mercado do banco despencou para cerca de US$ 6,3 bilhões (R$ 32,9 bilhões), com expectativas de que o valor das ações continuará em declínio, a menos que medidas sejam rapidamente adotadas para reverter a situação.
Os investidores, agora, estão preocupados que bancos muito maiores possam ter que fazer o mesmo. As ações das gigantes instituições financeiras caíram na quinta-feira (9), incluindo as maiores das grandes corporações: JPMorgan Chase e Bank of America.
O banco de investimentos Morgan Stanley disse que os problemas no SVB são “altamente idiossincráticos” e que suas dificuldades provavelmente não se espalharão por todo o ecossistema bancário.
Como tudo isso aconteceu, então?
Tudo estava indo bem, até que o Federal Reserve Bank começou a aumentar agressivamente as taxas de juros. Isso fez com que o valor dos investimentos em títulos do SVB despencasse, pois havia muitas outras alternativas para os investidores comprarem títulos de curto prazo ou mercados monetários com rendimentos de 3% ou +5%.
O SVB anunciou que havia vendido US$ 21 bilhões (R$ 109,5 bilhões) de seu portfólio com uma perda de quase US$ 2 bilhões (R$ 10,4 bilhões) e decidiu levantar US$ 2,25 bilhões (R$ 11,7 bilhões) em ações e dívidas para manter as portas abertas. A mudança repentina nos negócios pegou os investidores de surpresa.
As ações de combate à inflação do Fed – aumento das taxas de juros – fizeram com que o valor dos títulos existentes, que ofereciam pagamentos de renda mais baixa aos detentores de títulos, diminuíssem à medida que os investidores se moviam para mercados monetários de maior rendimento, como CDs e títulos do tesouro.
Os bancos que possuem uma grande quantidade de títulos de baixo rendimento podem estar sujeitos às suas próprias perdas consideráveis não realizadas (o dinheiro não é perdido até que o título seja vendido por menos do que o valor que foi comprado).
O FDIC, entidade do governo dos Estados Unidos responsável por garantir depósitos, realiza exames e supervisão de instituições financeiras para garantir segurança, solidez e proteção ao consumidor, informou que as perdas não realizadas dos bancos dos Estados Unidos em títulos disponíveis para venda, e mantidos até o vencimento, totalizaram um valor significativo de US$ 620 bilhões (R$ 3,234 trilhões) em 31 de dezembro, antes do início dos aumentos de juros do Fed.
O imediato contágio do mercado
Os quatro maiores bancos dos EUA – Citigroup, Wells Fargo, Bank of America e JPMorgan – perderam coletivamente US$ 52 bilhões (R$ 271,3 bilhões) em valor de mercado na quinta-feira (9), e o KBW Nasdaq Bank Index viu seu maior declínio desde o início da pandemia, relatou o Wall Street Jornal. O JPMorgan perdeu cerca de US$ 22 bilhões (R$ 114,8 bilhões), o Bank of America US$ 16 bilhões (R$ 83,5 bilhões), o Wells Fargo US$ 10 bilhões (R$ 52,2 bilhões) e o Citigroup US$ 4 bilhões (R$ 20,1 bilhões).
Um índice financeiro que serve como um termômetro para o setor bancário, o SPDR S&P Regional Banking ETF, caiu mais 1,5% ontem (10), após uma queda de 8% na quinta-feira. O Financial Select SPDR Fund caiu 1,25%, após uma queda de 4%.
A CNBC informou que o Signature Bank, outra instituição financeira adjacente ao setor de criptomoedas, caiu 12% na quinta-feira. O First Republic Bank caiu 17% também na quinta. Charles Schwab, uma plataforma de investimento conservadora de longa data, respeitada e autodirigida, caiu 13%. O JPMorgan Chase caiu 5% na quinta.
No Twitter financeiro, houve um intenso debate entre capitalistas de risco, investidores e executivos de startups. Muitos pediam que cabeças mais frias prevalecessem e apoiassem o SVB, já que o banco estava se acomodando aos VCs, startups e plataformas de criptomoedas. Outros disseram que seria prudente diversificar e retirar alguns ou todos os depósitos do banco com muita cautela fiduciária.
O que esperar, por enquanto
Já se viu na história uma recessão do colarinho branco precipitada pelas mudanças provocadas pela alta inflação, aumento das taxas de juros e custos de quase tudo subindo. Setores sensíveis ao aumento das taxas de juros, como tecnologia, startups, Wall Street e imóveis, sofreram grandes demissões e congelamentos de contratações.
À luz da incerteza, causada por um potencial efeito cascata decorrente dos problemas nas instituições financeiras, as empresas provavelmente frearão as contratações e reforçarão seus planos de redução de pessoal para cortar despesas. Como o SVB atende aos setores de criptografia, startup e VC, é razoável concluir que essas áreas serão altamente impactadas.
* Jack Kelly é colaborador da Forbes EUA, CEO, fundador e recrutador de executivos em uma das maiores e mais antigas empresas globais de pesquisa, com mais de 20 anos de mercado. (traduzido por V.Ondei)