Após o avanço firme na sessão anterior, as taxas dos contratos futuros de juros recuaram nesta segunda-feira (27), em especial na ponta longa, influenciadas pelo otimismo com o setor bancário no exterior e pela expectativa com a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Econômica) do Banco Central, na terça-feira (28), e do novo arcabouço fiscal, nos próximos dias.
Desde cedo, os mercados globais reagiam positivamente à notícia de que o First Citizens BancShares Inc vai adquirir os depósitos e empréstimos do falido SVB (Silicon Valley Bank), fechando um capítulo na crise de confiança que assolou os mercados financeiros globais. A notícia da venda ajudou a estabilizar as ações de bancos europeus nesta segunda-feira (27), elevando a procura por ativos de maior risco, como ações e moedas de países emergentes.
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O alívio no setor bancário global impactou as taxas dos contratos futuros de longo prazo no Brasil, por meio da redução de prêmios.
“Há um otimismo cauteloso prevalecendo lá fora”, resumiu o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. “Isso ajuda a reduzir as taxas longas, tirando um pouco de prêmio. De certa forma, é uma esperança de que as autoridades nos países desenvolvidos vão ser capazes de evitar uma crise de crédito e um pouso forçado das economias centrais.”
O maior otimismo no exterior influenciou principalmente os contratos de longo prazo dos juros, em que os estrangeiros atuam preferencialmente.
Internamente, porém, outros dois fatores contribuíam para o viés de baixa na curva a termo.
Em primeiro lugar, a expectativa pela divulgação, nesta terça-feira, da ata do mais recente encontro do Copom, quando a Selic (a taxa básica da economia) foi mantida em 13,75% ao ano. Como o comunicado do colegiado foi considerado duro – ou hawkish, na linguagem do mercado – há certa expectativa de que a ata possa aliviar o discurso e até eventualmente elevar as chances de o BC antecipar o início do ciclo de cortes da Selic. Essa possibilidade ajudava a pesar sobre as taxas dos DIs.
Em segundo lugar, o mercado avaliava que o adiamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, por motivos de saúde, pode agilizar a apresentação do novo arcabouço fiscal, prevista originalmente apenas para quando ele voltasse da Ásia.
Neste contexto, no fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para outubro de 2023 estava em 13,375%, ante 13,388% do ajuste anterior. Já a taxa para janeiro de 2024 estava em 13,06%, ante 13,09% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,885%, ante 11,955%. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 12,14%, ante 12,257% do ajuste anterior.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava 25% de chances de o BC reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual no encontro de maio e 75% de probabilidade de ele manter a taxa em 13,75% ao ano.
No relatório Focus publicado pela manhã pelo BC, a mediana das expectativas do mercado para a inflação em 2023 caiu marginalmente para 5,93%, ante 5,95% da semana anterior. Para 2024 e 2025, a mediana para a inflação está em 4,13% e 4,00%, ante 4,11% e 3,90% de antes.
No exterior, o maior otimismo com o setor bancário reduziu a procura pela segurança dos Treasuries, o que mantinha os retornos dos títulos norte-americanos em alta.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos – referência global para decisões de investimento – subia 15,80 pontos-base, a 3,5355%.