Empreender requer muitas qualidades e a maior delas é a vontade de fazer o negócio acontecer. Danielle Noce, sócia-fundadora da Supernova, edtech que faturou R$ 30 milhões em 2022, tentou de tudo até conseguir chegar onde queria.
“Fui garçonete, bodypiercer, promoter de balada e ainda fazia tatuagens de henna na praia no período de férias escolares”, conta Noce. “Nessa época, eu percebi que não gostava de trabalhar para outras pessoas, então sabia que precisaria caminhar com as minhas próprias pernas para conseguir o que queria”.
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Ainda na faculdade de Moda, Noce estabeleceu a meta de guardar dinheiro para começar a empreender, mas não sabia ao certo como. Assim, ela uniu o valor que havia guardado a uma herança familiar de R$ 37 mil e investiu no seu primeiro negócio: uma loja de havaianas.
Sua irmã mais velha, que era sua inspiração no mundo dos negócios, já havia montado uma loja da marca de chinelos, mas não era do jeito que ela imaginava a sua. “A loja não tinha um padrão e não era o que nós queríamos. Foi quando eu e o meu marido decidimos criar a nossa unidade com inspiração em uma loja de doces, com todos os chinelos organizados e separados por cor”, afirma a empresária.
Então, eles acharam um ponto em Santos, no litoral de São Paulo, onde acreditaram que seria perfeito para abrir a sua loja. Em pouco tempo, o shopping escolhido, que não estava bem das pernas, viu seu fluxo aumentar junto ao crescimento da loja.
De uma unidade o negócio cresceu para quatro, antes mesmo de a marca decidir franquear o seu negócio. Ela conta que muitas das iniciativas que eles tiveram em sua loja viraram padrão da Havaianas e continuam em loja até hoje.
“Quando nós tivemos que entrar no processo de franquia, uns três anos depois de abrirmos a primeira loja, tudo mudou. Nós viramos apenas uma peça no meio da engrenagem e perdemos toda a capacidade de ter novas ideias e trazer melhorias para a nossa loja”, explica Noce. “Aquilo já não seria mais para nós.”
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Foi nessa época que a empresária, também em parceria com o marido, decidiu mudar completamente o rumo de sua trajetória para o mundo da confeitaria. Eles estavam destinados a abrir uma loja de doces em Amsterdam, na Holanda, mas nenhum dos dois sabia cozinhar. Noce decidiu que iria aprender, a qualquer custo.
Nesse meio tempo, Paulo Cuenca, seu marido, fazia faculdade de cinema e percebeu, junto a alguns amigos, que aquele conteúdo com os erros e acertos de Noce na cozinha poderia dar certo como um programa de televisão.
“Nossos vídeos eram completamente inspirados nos programas de culinária da televisão, que eram muito famosos”, afirma Noce. “Naquela época, os canais de TV a cabo tinham que ter uma cota obrigatória de programas brasileiros em sua programação e nós focamos em conseguir vender o nosso programa para alguma emissora.”
Porém, o processo não foi tão simples assim. Foi quando eles tiveram a ideia de disponibilizar os vídeos em uma plataforma que ainda era pouco explorada no Brasil, o YouTube. Resultado: o canal deu tão certo, que a loja de doces nunca saiu do papel. E, pouco tempo depois, a VH1 também comprou os diretos dos vídeos e os colocou na televisão.
Os patrocinadores começaram a prestar atenção no que os dois estavam fazendo. A primeira parceria foi feita com a Brastemp, e cada episódio rendeu R$ 11 mil para a dupla. Esse foi só o começo.
“Foi nesse momento que percebemos que tínhamos um produto vendível”, diz Noce. “Ao longo do tempo, percebemos que faria mais sentido desenvolver projetos com as marcas do que simplesmente colocar o nome de uma aqui e ali. Nós chegamos a receber mais de 100 orçamentos por dia.”
O canal chegou a ser o maior de confeitaria da América Latina e a sua evolução, que trazia as viagens do casal, se tornou o maior canal de viagens do Brasil. A iniciativa durou dez anos e acabou no início da pandemia, mas até hoje a plataforma tem 2,8 milhões de inscritos.
Pouco antes de o canal chegar ao fim, a dupla já estava desenvolvendo cursos que ensinavam a criar comunidades dentro de sua marca, em uma tentativa da Noce de se afastar um pouco das câmeras. Essa foi a chave para conseguir ter sucesso durante o período de distanciamento social.
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“Quando veio a pandemia e o canal acabou, nós tivemos para onde ir, já que tínhamos respaldo de alguns cursos e sabíamos que aquele poderia ser um caminho de sucesso”, diz a empresária.
A junção das mentorias dadas pelos dois resultou na edtech The Brain. Hoje, após uma fusão com DNS – companhia que também produzia conteúdos relacionados à educação, só que no setor de finanças -, as duas empresas se transformaram em uma só, a Supernova, que caminha para o lado da tecnologia, desenvolvendo ferramentas como uma casa de análises de marketing e uma plataforma de investimentos que já recebeu aporte da Órama.
Ainda em processo de fusão, a companhia espera dobrar o faturamento em 2023, atingindo R$ 60 milhões, com a inclusão de todas as ferramentas que estão em processo de criação.
“2022 foi o ano de arrumar a casa, com muita turbulência, mas mesmo assim trouxe muito frutos. Pode parecer maluco, mas queremos dobrar o valor este ano com todas as novidades que estamos desenvolvendo. Só no primeiro trimestre, nós já faturamos duas vezes mais que o primeiro semestre do ano passado”, diz Noce.