O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu homologar um acordo de conciliação entre o Itaú Unibanco (ITUB4) e o Estado do Paraná envolvendo a companhia de energia elétrica Copel para extinguir uma longa disputa judicial, segundo documento judicial visto pela Reuters.
O valor a ser pago pelo Paraná ao banco, em três parcelas, soma R$ 1,7 bilhão, ante uma dívida total que chegava a R$ 4,5 bilhões, segundo informações do governo.
O processo era apontado por parlamentares da oposição como um empecilho à tentativa do Paraná de levar adiante o processo de privatização da Copel.
Logo após a decisão monocrática na véspera, o ministro André Mendonça pediu vista, enquanto os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Luiz Fux tinham acompanhado o relator Lewandowski.
O impasse diz respeito a um crédito que o Itaú reivindica do governo paranaense há mais de 20 anos por ações da Copel que tinham sido dadas em garantia.
Em uma decisão de quatro páginas tomada na véspera de se aposentar do STF, Lewandowski afirmou que, após examinar os autos, verificou que os termos firmados entre as partes correspondem com o que havia sido discutido em audiências de conciliação anteriores.
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“Ademais, as cláusulas a serem homologadas têm o objetivo de colocar fim ao conflito que já perdura por mais de 20 anos, trazendo estabilidade e segurança jurídica para os negócios das partes”, disse o ministro.
Lewandowski destacou no despacho que o acordo tem por objetivo garantir a quitação da obrigação assumida, mas será feita de forma parcelada a fim de que o Estado do Paraná possa fazer os pagamentos.
O ministro do STF determinou o envio de ofício ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná do acordo firmado e da cópia da sua decisão.
Procurados, Itaú e Copel não comentaram imediatamente o assunto.
20 anos de pendência
O caso, que está em discussão há cerca de 20 anos, envolve uma operação realizada em 1998 entre o Estado do Paraná e o antigo banco estatal Banestado, que posteriormente foi privatizado e comprado pelo Itaú.
Na operação, o Banestado adquiriu “precatórios podres” e, em garantia, o governo paranaense ofereceu ações da Copel, a quantidade de ações não é conhecida.
Como o Estado do Paraná não realizou o pagamento da dívida, o Itaú propôs, no início dos anos 2000, a execução de título extrajudicial, sob o argumento de que o crédito, por possuir garantia real, não deveria ser pago por meio de precatório. Na época, o valor do crédito somava cerca de R$ 700 milhões.
O imbróglio veio à tona neste ano em meio à movimentação de deputados petistas contrários à privatização da Copel, que já recebeu autorização do Legislativo local para prosseguir. O deputado paranaense Arilson Chiorato, presidente do PT no Estado, e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná, chegaram a pedir ingresso no processo como amicus curiae, mas tiveram o pedido negado.
A desestatização da companhia elétrica paranaense deverá seguir o modelo adotado para a Eletrobras, com uma oferta de ações em bolsa visando diminuir a participação do acionista controlador, o Estado do Paraná, e tornar a empresa uma “corporation”.
No mês passado, executivos da Copel afirmaram que a oferta de ações está em fase de “construção”, trabalhando com assessores em “valuations” e “due dilligence”, o que será posteriormente submetido à aprovação do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR). A expectativa é realizar a operação no segundo semestre deste ano, tendo como base os resultados financeiros da companhia referentes ao segundo trimestre.