O Fed (Federal Reserve), o banco central americano, confirmou as expectativas praticamente unânimes do mercado e elevou os juros referenciais nos Estados Unidos (Fed Funds) em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 5,00 e 5,25 por cento ao ano, o maior patamar desde meados de 2007.
A interpretação da declaração pós-reunião foi de que o Fed indicou uma interrupção no movimento de altas. O documento retirou uma frase presente nas declarações anteriores, dizendo que “o Comitê antecipa que algum endurecimento adicional da política pode ser apropriado” para o Fed atingir sua meta de inflação de 2%.
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Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, “se a comunicação oficial fosse composta exclusivamente pelo texto divulgado, ficaria bem aberta a possibilidade de que um ciclo de baixa de juro poderia começar muito em breve.”
No comunicado divulgado junto com a decisão, o Fed informou que “a atividade econômica expandiu-se por um ritmo modesto no primeiro trimestre” e que “os ganhos de empregos foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa”, acrescentando que “a inflação continua elevada”.
Segundo o comunicado, o “sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente”, o que indica que o Fed não vê um risco sistêmico nos bancos devido à alta dos juros. Porém, o comunicado afirma que “condições de crédito mais apertadas para famílias e empresas devem pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação. A extensão desses efeitos permanece incerta.” Resumindo, há uma convicção por parte da autoridade monetária de que juros altos são uma ferramenta eficaz para baixar a inflação.
Não sobe, mas não desce
Segundo Guilherme Morais, analista da VG Research, a principal novidade no comunicado oficial foi a informação de que o Fed vai continuar monitorando os dados econômicos de perto e irá avaliar suas implicações para as próximas decisões. Dessa forma, o plano do Fed para a reunião de junho será de manutenção da taxa de juros, a não ser que novos dados econômicos, como um aumento além do esperado da inflação, indiquem piora do cenário atual.
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O presidente do Fed, porém, não forneceu nenhum sinal sobre alívio na política monetária. “Talvez a fala mais dura de Powell tenha sido sobre a possibilidade de redução nos juros ainda em 2023: não acredita nesta possibilidade, pois são precisos dados econômicos mais seguros de que a inflação está convergindo para meta”, diz Morais.
Apesar de a elevação dos juros ter confirmado as expectativas do mercado, a coletiva de Powell pode provocar volatilidade nos preços dos ativos, diz Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos. “Havia um receio que o Fed tivesse de aumentar mais os juros do que de fato aumentou, para colocar a inflação na meta, mas Powell disse que não vai fazer isso”, diz. “Ele tirou o tom mais agressivo.”
Isso pode alterar profundamente os preços dos ativos, avalia Calestine. “O índice S&P 500 vem oscilando entre 4.100 e 4.200 pontos, e isso indica uma expectativa de que os juros americanos devem começar a baixar ainda neste ano. Porém, quando o mercado superar essa dissonância cognitiva e perceber que essa queda só deve ocorrer e 2024, vamos ver como isso vai afetar o mercado acionário.”