Formuladores de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) não esperam que a evidência de que a inflação persistente está em queda seja clara o suficiente para interromperem a mais longa sequência de aumentos de juros na história do BCE no verão europeu, disseram fontes à Reuters.
Conversas com sete autoridades responsáveis por fixar os juros no fórum anual do BCE em Sintra, Portugal, mostraram que a maioria espera elevar os custos de empréstimos novamente nas reuniões de julho e setembro, apesar dos sinais de enfraquecimento da economia da zona do euro.
O BCE subiu suas taxas de juros para seu nível mais alto em 22 anos neste mês e disse que um nono incremento consecutivo da taxa de depósito estava praticamente garantido em julho, com previsões de que a inflação permanecerá acima de sua meta de 2% até o final de 2025.
De um grupo de formuladores de política monetária que sempre pediram aumentos de juros no ano passado, apenas um, sob condição de anonimato, abriu as portas para uma pausa em setembro, depois que dados recentes mostraram inflação e desaceleração da atividade econômica.
Os outros, falando oficialmente ou não, disseram que uma alta na reunião do BCE de 14 de setembro, o que levaria a taxa de depósito para 4,0%, era mais provável do que improvável, já que os indicadores das pressões de preços subjacentes permanecem elevados.
Um porta-voz do BCE se recusou a comentar.
“Acredito que precisamos ver um declínio decisivo na inflação subjacente antes de interromper o aperto monetário”, disse Madis Mueller, autoridade do BCE. “Já vimos um pequeno declínio no núcleo da inflação, mas precisamos de mais evidências de uma mudança na tendência das pressões inflacionárias.”
Um argumento comum entre a maioria que pressiona por ainda mais aumentos era que subir demais as taxas de juros era menos arriscado do que parar as altas mais cedo, o que exigiria que o BCE aumentasse os custos dos empréstimos ainda mais dolorosamente no futuro.
“Se não fizermos o suficiente, então o problema é que a inflação ficará mais enraizada e há o risco de que ela volte a acelerar”, disse o presidente do banco central da Letônia, Martins Kazaks. “E então precisaremos voltar com mais intensidade com aumentos de juros muito mais fortes.”
Os formuladores de política monetária com uma abordagem mais “hawkish” (dura contra a inflação) foram encorajados pelo discurso da presidente do BCE, Christine Lagarde, nesta terça-feira (27), no qual ela delineou uma longa luta contra a inflação elevada “aconteça o que acontecer”.
Investidores aumentaram suas apostas na elevação da taxa de depósito do BCE para 4,0% até o final do ano após o discurso de Lagarde e ampliaram as expectativas de cortes nos juros para o final de 2024.
A maioria “hawkish” citou o risco de que o alto crescimento salarial se estenda para o próximo ano, que as empresas continuem a repassar custos mais altos aos clientes e que as expectativas das famílias para a inflação futura se estabilizem acima da meta.
As autoridades mais “dovish” (flexíveis em relação à inflação) recuaram, dizendo que o BCE deveria se concentrar nas perspectivas de médio prazo para a inflação, em vez da leitura mais recente, e deixar que seus aumentos de juros anteriores afetem a economia antes de apertar mais os juros.