A Vale não descarta para o futuro uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) ou fusão de sua unidade de metais básicos, mas o foco agora está na execução e na aceleração do crescimento do negócio, disse o presidente, Eduardo Bartolomeo, nesta sexta-feira (28).
A Vale anunciou na quinta-feira à noite acordos para vender uma participação de 13% do negócio por US$ 3,4 bilhões para a Ma’aden da Arábia Saudita e para a empresa norte-americana Engine No., como parte de sua estratégia para extrair mais valor de seus ativos de níquel e cobre.
O montante total será pago à vista para a Vale Base Metals Limited (VBM), empresa controladora do negócio de Metais para Transição Energética da Vale, na conclusão da transação, prevista para o primeiro trimestre de 2024.
“Por enquanto, vamos nos concentrar em fechar as lacunas na execução e acelerar o crescimento. E então, dois ou três anos depois, as opções estarão todas em nossas mãos”, disse Bartolomeo, em teleconferência com analistas quando questionado sobre o assunto.
O movimento ocorre enquanto a Vale tem se dedicado em aprimorar a gestão dos ativos de metais básicos para gerar mais valor, tendo em vista a demanda esperada por níquel e cobre para a produção de baterias, em meio aos avanços globais para a transição energética, com eletrificação.
A ideia do IPO não está em estudo neste momento, frisou Bartolomeo, pontuando que a possibilidade poderá ser avaliada em alguns anos caso a empresa precise de bastante recurso e esteja “operando bem”.
“A gente ainda tem ‘gap’ de performance e obviamente a gente tem que ter um plano de investimento robusto… (E) quando o investidor quiser risco com a gente, vamos no mercado de capitais, mas também haverá outras opções”, ponderou Bartolomeo, a repórteres, após a reunião com analistas.
“Enquanto não estiver performando, isso não está na mesa.”
Executivos da companhia reiteraram nesta sexta-feira que a VBM será um negócio autônomo, que terá apoio de uma nova estrutura de governança independente e um conselho de administração dedicado e com experiência no setor, presidido por Mark Cutifani.
A nova empresa surge com um valor de mercado de 26 bilhões de dólares, considerando a transação anunciada na véspera, com a maior produção global de níquel da América do Norte e como uma das maiores empresas de cobre do mundo.
A Vale também já havia assinado contratos para fornecer níquel para grandes montadoras, incluindo Tesla e General Motors.
Financiabilidade
A partir da atração dos parceiros, a VBM ficará com um caixa de US$ 1 bilhão que ajudará a financiar suas operações pelos próximos três ou quatro anos, juntamente com o fluxo de caixa da unidade, explicaram executivos da mineradora.
O foco principal da unidade de metais básicos, inicialmente, será enfrentar desafios de execução dos projetos que já possui. Os novos parceiros, segundo os executivos, vão contribuir com o fortalecimento da governança da empresa e na convergência de interesses em comum, com olhar de longo prazo.
A VBM prevê aportes robustos entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões em novos projetos no Brasil, Canadá e Indonésia na próxima década.
“Temos grandes projetos em todas essas três juridições e agora com esse time focado a gente tem a expectativa de acelerar o desenvolvimento”, disse o vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores, Gustavo Pimenta.
“Vamos financiar da melhor forma possível… tem dinheiro suficiente para fazer bastante projeto, mas não é o suficiente para fazer 25 a 30 bilhões, a gente vai ter que reavaliar isso ao longo dos anos.”
A entrada de um novo parceiro com a venda adicional de participação na empresa já foi descartada, segundo Bartolomeo, uma vez que a fatia que a Vale abriu mão foi considerada “razoável”.
A nova companhia nasce também sem dívidas, o que permite que tenha espaço também para se estruturar com alavancagem adequada para suas operações, adicionaram executivos.
Em níquel, a VBM contará com o projeto do segundo forno de Onça Puma, no Brasil, os projetos de Pomalaa e Morowali, na Indonésia, e a expansão da mina de Voisey’s Bay, no Canadá.
Já no cobre, a empresa tem uma base operacional concentrada no Brasil, incluindo o importante ativo de Salobo, que tem mais de 40 anos de vida útil remanescente, além de um portfólio de projetos de crescimento, desde os projetos Alemão, Cristalino e Bacaba, no Brasil, até o de grande escala Hu’u, na Indonésia.
A Vale reportou na véspera lucro líquido no segundo trimestre de US$ 892 milhões, queda de 78,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, principalmente diante de uma queda dos preços realizados de minério de ferro e níquel.
Durante a teleconferência com analistas, os executivos reafirmaram as metas de produção para o ano e apontaram perspectivas de queda nos custos no segundo semestre.