O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, confirmou as expectativas do mercado e elevou os juros em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano. Foi a 11ª elevação nas últimas 12 reuniões do Federal Open Market Committee (Fomc), versão americana do Comitê de Política Monetária (Copom).
Ao comentar a decisão, Jerome Powell, presidente do Fed, não confirmou se haverá novas alterações nos juros ainda neste ano. “A próxima reunião será daqui a dois meses e serão divulgados muitos indicadores até lá”, disse ele durante entrevista coletiva. “Vamos analisar esses indicadores e só então tomar uma decisão, pois a política monetária será tratada a cada reunião”, completou.
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A decisão de manter os juros era esperada, mas a ausência de uma sinalização mais clara da trajetória futura da política monetária frustrou um pouco o mercado. A reação foi fraca: após a reunião, os contratos futuros do índice americano S&P 500 estavam em uma leve baixa de 0,15%.
A conclusão geral foi de que o Fed pode ter indicado que haverá mais uma pausa nos aumentos de juros na reunião de setembro, dependendo dos resultados da economia, mas que isso não garante que o nível corrente seja o que o mercado chama de “taxa terminal”, indicando o fim do processo de ajuste.
Mercado de trabalho
O Fed tem um mandato duplo. Ele tem de 1) preservar o valor da moeda americana ao longo do tempo (na prática seguindo metas de inflação, atualmente em 2% ao ano) e 2) manter o desemprego no menor nível possível, desde que isso não pressione a inflação.
A inflação medida pelo Personal Consumption Expenditures (PCE) nos 12 meses até maio está em 3,8%. O núcleo, que exclui os preços mais voláteis dos alimentos e da energia e é considerado uma medida mais efetiva da inflação está ainda mais elevado, tendo variado 4,6% nos 12 meses até maio.
E os dados mais recentes mostram que o desemprego americano está em 3,6%, um dos níveis mais baixos da história. Os dados do Bureau of Labor Statistics (BLS), ligado ao equivalente americano ao Ministério do Trabalho, mostram que essa taxa tem oscilado desde março de 2022 em uma faixa estreita entre 3,4% e 3,7%. Não coincidentemente, desde quando o Fed começou a elevar os juros.
Em seu comentário, Powell citou várias vezes o “desequilíbrio” do mercado de trabalho americano, em que a demanda por mão-de-obra supera bastante a oferta. Ele chegou a dizer que as condições atuais podem permitir ao Fed “reduzir a inflação à meta de 2% ao ano sem afetar muito o mercado de trabalho”.
Comentários
Na interpretação de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, os comentários de Powell indicam que o Fed pode deixar as portas abertas para uma interrupção na alta dos juros. “Ele fez um aceno ‘dovish’ [que indica uma postura menos estrita com a inflação] ao mudar a indicação de que ‘alguns membros acham provável outro aumento’ para uma indicação de que será preciso esperar a próxima reunião e mais dados”, avaliou Sanchez. “Isso nos faz reafirmar a perspectiva de que o Fed não vai subir os juros de novo, até por que Powell classificou a política monetária como suficientemente restritiva”, completou.
Segundo Gustavo Zuquim, diretor de portfólio do Andbank, Powell reafirmou que os efeitos do aperto monetário do Fed já estão sendo sentidos, particularmente em áreas sensíveis à taxa de juros, como a habitação. Ele destacou que é positivo o fato de a inflação desacelerar sem ter causado uma maior taxa de desemprego. Para Zuquim, isso indica juros estáveis. “No momento não esperamos que haverá novas alterações nos juros neste ano, para cima ou para baixo, salvo se houver alguma grande surpresa no caminho”, disse ele.