A ilusão do controle é um viés comportamental catalogado nos estudos de psicologia econômica que você precisa conhecer para aprender a evitar. Atuando há mais de vinte anos no mercado financeiro, já vi muita gente perder boas somas de dinheiro justamente por acreditar que estava 100% no controle de tudo o que envolvia seus investimentos. No entanto, a realidade é bem diferente disso.
O mercado financeiro é imenso e, cada vez mais, os negócios ultrapassam fronteiras e se interligam. Sendo assim, o dinheiro circulante no mercado está distribuído em milhares de mãos, dos mais variados portes, com interesses, metas e estratégias distintas.
Confira quatro erros ao diversificar o portfólio
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Xavier Lorenzo/Getty Images Diversificar demais:
O primeiro erro é exagerar na diversificação. Pode parecer contraditório, mas não é. A prática pode levar a um número excessivo de posições que diluem os retornos potenciais dos ativos, tornando o trabalho de monitorar e gerir a carteira muito mais complexo.
Como evitar: pense antes de investir. Busque várias opiniões profissionais e tome a melhor decisão.
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Oscar Wong / Getty Images Ignorar correlações:
O objetivo da diversificação é mitigar o risco pela exposição a diferentes setores da economia. Para isso, considere considerar as correlações entre os ativos na carteira. Se todos os ativos estão altamente ligados, eles vão se movimentar na mesma direção nas altas e nas baixas, reduzindo a eficácia da diversificação.
Como evitar: analise as correlações entre os ativos antes de investir e procure ações com baixa correlação.
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Oscar Wong/Getty Images Depender apenas da diversificação:
Confiar só na diversificação e ignorar outros fatores é um erro comum. É preciso analisar as perspectivas de crescimento e a saúde financeira dos investimentos. Diversificar sem entender o que está sendo investido pode levar a retornos abaixo do esperado e a perdas inesperadas.
Como evitar: tome decisões informadas e considere a diversificação como uma parte de uma estratégia.
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d3sign/ Getty Images Conclusão:
A diversificação é importante para reduzir riscos em uma carteira de investimentos, mas é essencial utilizá-la corretamente. Ela deve complementar uma estratégia de investimentos, não substituí-la.
Diversificar demais:
O primeiro erro é exagerar na diversificação. Pode parecer contraditório, mas não é. A prática pode levar a um número excessivo de posições que diluem os retornos potenciais dos ativos, tornando o trabalho de monitorar e gerir a carteira muito mais complexo.
Como evitar: pense antes de investir. Busque várias opiniões profissionais e tome a melhor decisão.
Ao mesmo tempo que torna os mercados tão cheios de oportunidades interessantes, isso também os torna um cenário de risco e imprevisibilidade. Tudo no mercado financeiro é baseado em probabilidades, então, se alguém te disser que pode prever de maneira precisa o que irá ocorrer em quaisquer cenários, é muito provável que esta pessoa esteja totalmente enredada pelo viés da ilusão do controle. Ou ela pode estar simplesmente tentando te ludibriar.
O que é o viés da ilusão de controle?
Basicamente é a tendência do investidor de superestimar sua real condição de se antecipar ou controlar eventos do mercado e os resultados dos investimentos.
Ocorre, contudo, que o mercado mundial movimenta trilhões, e um investidor comum acreditar que de alguma forma consegue influenciar ou ter algum controle sobre a maneira como esses trilhões passam de uma mão para outra, é algo totalmente ilusório.
É claro que muitas previsões podem se concretizar no curto prazo. A análise gráfica, por exemplo, trabalha com tendências baseadas em estatísticas e é muito útil nas operações, desde que você, ao utilizá-la, lembre sempre que há uma margem de erro a ser levada em conta.
Como a ilusão de controle prejudica os investidores?
Uma falsa ilusão de controle pode levar a riscos mal calculados e, consequentemente, causar sérios danos à carteira. E assim como outros vieses comportamentais, a ilusão do controle não ocorre de forma isolada. Na maioria das vezes vem acompanhada do viés de otimismo, efeito Dunning-Kruger, superioridade ilusória, entre outros.
O viés da ilusão de controle é particularmente perigoso para investidores comuns que se consideram especialistas em um determinado setor da economia, seja porque trabalham no segmento, seja porque o estudam com afinco e possuem grande volume de informações sobre ele.
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É comum que a pessoa acabe concentrando muito de sua carteira naquele setor que considera dominar totalmente, e essa baixa diversificação torna a carteira mais vulnerável a fatores adversos e exposta a flutuações muito além do razoável.
A perda de oportunidades ou prejuízos são consequências diretas da ilusão do controle, uma vez que o investidor tende a adiar certas decisões por acreditar que apenas com base exclusivamente no seu conhecimento de eventos passados, saberá o momento certo de agir, e acaba não levando em conta muitas variáveis e informações específicas do contexto que, eventualmente, contrariem sua crença.
Como evitar essa ilusão?
Acreditar que você é totalmente imune à ilusão de controle, paradoxalmente, é também uma forma de ilusão, então, ao tomar consciência de que em alguma medida esse viés estará presente em suas decisões, o que é possível fazer é ficar atento às formas de mitigar seus efeitos:
Lembre-se que no mercado financeiro tudo é probabilidade. A única certeza é que ciclos econômicos vêm e vão, eventos aleatórios podem ocorrer a qualquer instante, e a volatilidade ocorrerá o tempo todo em maior ou menor grau, conforme o número de variáveis presentes em cada cenário;
Aprenda a utilizar com critério as ferramentas disponíveis, como gráficos, projeções de tendências, curva de juros, relatórios econômicos, pesquisas, etc, porém, sem perder de vista que todas essas ferramentas refletem as expectativas dos agentes econômicos, e expectativas mudam de acordo com os acontecimentos;
Utilize a abundância de informações e notícias de forma crítica e cautelosa, ciente de que as informações disponíveis são sempre sobre o passado, e não permita que o domínio dessas o leve ao excesso de confiança sobre o futuro;
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O seu planejamento é um mapa de navegação a ser acompanhado e revisto sempre que necessário, e não uma profecia escrita na pedra. Reveja sua rota sempre que grandes mudanças econômicas estiverem na pauta.
Dito isso, o restante é estratégia e autoconhecimento. Estratégia, porque seus ganhos sempre serão proporcionais aos riscos assumidos, e autoconhecimento, porque é somente quando compreende quais são seus limites, é que você consegue fazer um planejamento consistente dentro de uma linha de tempo realista.
Gerenciamento de risco é tão importante quanto rentabilidade
Todo investimento, seja na renda fixa ou variável, envolve probabilidade. Sendo assim, o que você consegue fazer é estudar essas probabilidades, combinar esse conhecimento com as informações sobre cada cenário e definir sua estratégia a partir daí, lembrando de que nunca terá absoluto controle sobre todas as variáveis, portanto, deve se concentrar naquelas que estão sob seu domínio.
Existem fatores macroeconômicos, geopolíticos, setoriais, enfim, uma infindável combinação de ocorrências pode mudar um cenário quando menos se espera, mas, o investidor que atua ciente disso, sempre terá um planejamento que contemple diversificação e gerenciamento de riscos.
Busque informações em fontes confiáveis que o ajudem a avaliar os riscos envolvidos nos seus investimentos e antes de qualquer decisão, analise seus reais meios para sobreviver emocional e materialmente a quaisquer cenários que tenha conseguido traçar como possíveis, os bons e os ruins.
Agindo assim, a probabilidade de se deixar levar pela ilusão do controle irá reduzir bastante, tal qual o risco de perdas significativas em seu patrimônio.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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