O jornalista e apresentador Tiago Leifert diz estar cético com relação a investir no Brasil. Em uma entrevista ao podcast Futurum Talks no início de agosto, ele falou sobre os próprios investimentos. “Vou sair da bolsa brasileira”, disse ele. Leifert afirmou estar “cansado de voo de galinha” e disse que agora só investe em ações de empresas de tecnologia da Nasdaq. “O mercado americano é menos dependente da política”, disse ele.
O mercado é pouco internacionalizado por aqui. Além das barreiras regulatórias – apenas investidores qualificados podem comprar ativos internacionais no Brasil –, a oferta de produtos ainda é restrita. Por isso, o lançamento de uma moeda digital, como o Drex, pode facilitar essas transações. No entanto, isso ainda vai demorar.
Anunciado pelo Banco Central (BC) em meados de 2022, o Drex, anteriormente denominado simplesmente real digital, é uma das várias moedas digitais preparadas por bancos centrais, ou Central Bank Digital Currencies (CDBC). Essas iniciativas visam tanto aumentar a fluidez do sistema financeiro quanto ampliar a visibilidade das autoridades monetárias sobre o que ocorre na economia.
Contratos inteligentes
Segundo o BC, o Drex está sendo desenvolvido para democratizar o acesso a serviços financeiros, como crédito, investimento e seguros. “O Drex vai trazer mais rapidez, praticidade e menor custo para várias transações contratuais e financeiras que fazemos hoje”, diz Maurício Moura, diretor de relacionamento, cidadania e supervisão de conduta do Banco Central. O Drex é uma moeda virtual baseada no blockchain, que é uma rede de negócios segura, mas não é uma criptomoeda, pois não tem flutuação de valor. Segundo o BC, um Drex sempre vai valer um Real em papel moeda.
Em suas primeiras fases, o Drex estará disponível apenas para operações entre instituições financeiras. Eventualmente, o público poderá usar a nova moeda digital em suas transações por meio de carteiras digitais geridas por bancos e fintechs. Essas carteiras servirão como mediadoras, permitindo a conversão de reais em Drex. Assim, operações como a aquisição de bens serão simplificadas, conectando compradores e vendedores em um ecossistema digital.
Transações
A previsão é de que a novidade chegue aos brasileiros no fim de 2024 e vai impor às empresas uma transformação digital que deve ser iniciada imediatamente. Um exemplo prático é a automatização do pagamento por serviços prestados. Como muitas das moedas baseadas em blockchain, o Drex permitirá a criação de “smart contracts”, ou contratos inteligentes. Ou seja, a moeda digital poderá ter serviços acoplados.
Explicando. Por exemplo, na venda de um imóvel, a transação pode definir que, quando o processo de transferência for realizado, o pagamento ocorra automaticamente. “O Drex vai trazer mais rapidez, praticidade e menor custo para várias transações contratuais e financeiras que fazemos hoje”, diz Moura. “Esse processo passa pela compreensão de que as transações podem ser automatizadas para ocorrer vinculadas ao fechamento do negócio”, diz Henrique de Castro, especialista em inovação e CEO New Rizon, empresa de inovação tecnológica.
Internacionalização
Em alguns casos, as moedas digitais também podem facilitar a internacionalização financeira do país. É o caso da China. O renminbi digital, desenvolvido pelo Banco do Povo da China, o banco central chinês, é o caso mais avançado. O projeto começou em 2019. Naquele ano, a Meta (então chamada de Facebook) propôs sua própria moeda digital global, denominada Libra. Naquele momento, o BC chinês expressou sua preocupação de que a nova moeda pudesse minar a soberania do yuan. No ano seguinte, a China iniciou os estudos de sua moeda digital, que ainda estão em andamento.
Segundo Michael Orcutt, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), apesar de o governo chinês ainda estar buscando encontrar aplicativos atraentes para a moeda digital, a adoção foi mínima. No entanto, avalia, o objetivo pode estar se ampliando. “A China parece estar avançando com planos de usar a moeda digital para além de suas fronteiras, para o comércio internacional”, diz ele. “Se for bem-sucedida nisso, a China poderá desafiar a posição do dólar americano como moeda de reserva dominante no mundo – e, no processo, abalar a ordem geopolítica global.”
Em um primeiro momento, isso não vai facilitar a vida de Leifert e dos demais investidores que pretenderem internacionalizar suas aplicações. Porém, a introdução do Drex vai reduzir custos e facilitar o acesso dos brasileiros comuns aos produtos e serviços financeiros. O que será um bom indutor do desenvolvimento.