A incerteza em torno da trajetória da economia dos Estados Unidos, incluindo dificuldades em estimar o estado dos mercados financeiros, potenciais choques nos preços do petróleo e o impacto das greves sindicais, levaram autoridades do Federal Reserve a adotar uma postura cautelosa em sua reunião no mês passado, à medida que prosseguia o debate sobre se seriam necessários novos aumentos na taxa básica do banco central, de acordo com a ata do encontro de 19 a 20 de setembro, divulgada nesta quarta-feira (11).
“A grande maioria dos participantes continuou a julgar a trajetória futura da economia como altamente incerta”, afirmou a ata de uma reunião em que o banco central dos EUA concordou em manter as taxas estáveis, mesmo quando uma maioria de 12 a 7 indicou em novas projeções que mais um ajuste para cima poderá ser necessário até ao final do ano para garantir que a inflação regresse ao objetivo de 2% da Fed.
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A volatilidade dos dados e as revisões de divulgações estatísticas anteriores representaram um conjunto de problemas na avaliação da economia, afirmou a ata, assim como a determinação de parâmetros subjacentes, como a taxa de juro neutra, o impacto do aumento das taxas “reais” que são influenciáveis pelos mercados, e a até que ponto um crédito mais restritivo acabaria por reduzir os empréstimos e os gastos das empresas.
Tudo isso, afirmou a ata, “apoiai o argumento para proceder com cuidado na determinação da extensão da consolidação adicional da política monetária que pode ser apropriada”, enquanto “os participantes no geral julgaram” que os riscos haviam se tornado mais ambivalentes.
Embora os mercados globais de matérias-primas e um mercado imobiliário forte possam levar a uma inflação mais elevada, observou a ata, os mercados financeiros mais restritivos, o abrandamento do crescimento global e as recentes greves trabalhistas representam riscos para o crescimento econômico e o emprego.
Embora as autoridades estejam publicamente alinhadas na ideia de que ainda há “trabalho a fazer”, com as principais medidas de inflação permanecendo bem acima de 3%, várias delas, nos últimos dias, inclinaram-se para a possibilidade de que os custos de empréstimos talvez não precisem de fato subir.
A alta dos rendimentos dos Treasuries nos últimos meses pode estar fazendo parte do trabalho do Fed, argumentaram a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, e o diretor do Fed Christopher Waller, evitando qualquer necessidade urgente de outro incremento da taxa básica e, possivelmente, de um aumento total.
Ainda assim, segundo a ata, “todos os participantes concordaram que a política monetária deve permanecer restritiva por algum tempo até que o Comitê (Federal de Mercado Aberto) esteja confiante de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a sua meta”.
A ata mostrou uma preocupação crescente sobre os riscos de ir longe demais com os aumentos de juros e desacelerar a atividade tanto que faça com que as empresas demitam um grande número de trabalhadores.
Autoridades do Fed disseram que o desempenho estável da economia, apesar dos aumentos agressivos das taxas nos últimos 19 meses, manteve o desemprego baixo, mesmo com a inflação caindo dos picos observados em meados de 2022.
O debate é agora sobre se os preços continuarão a cair sem quaisquer aumentos adicionais das taxas, ou se será necessária uma política monetária ligeiramente mais restritiva.
Desde a reunião de setembro, investidores têm descontado consistentemente a probabilidade de outro aumento da taxa básica do Fed. Após a divulgação da ata, eles deram apenas 9% de chance de um incremento na reunião de 31 de outubro a 1º de novembro e cerca de 28% de chance na reunião de 12 e 13 de dezembro, de acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group.