Os preços ao consumidor no Brasil subiram bem menos do que o esperado em setembro, mas ainda assim a taxa em 12 meses superou os 5% no momento em que o Banco Central afrouxa a política monetária.
Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou a subir 0,26%, depois de alta de 0,23% em agosto.
O resultado divulgado nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi o mais elevado desde abril (+0,61%), mas ficou bem abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,34%.
Os dados mostram ainda que o índice passou a acumular nos 12 meses até setembro avanço de 5,19%, de 4,61% em agosto, contra projeção de 5,27%.
Com isso, o índice em 12 meses marca o nível mais elevado desde fevereiro (+5,60%) e fica acima do teto da meta para a inflação este ano, que é de 3,25% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
A expectativa de analistas é de que a inflação siga em patamares mais elevados no Brasil até o final de 2023, com atenção especial ao aumento dos preços de serviços, sobretudo diante de um mercado de trabalho aquecido e da resiliência que a economia vem apresentando.
O IPCA de setembro sentiu com força o impacto do reajuste grande de combustíveis anunciados em meados de agosto pela Petrobras — aumento de 16,3% nos preços médios da gasolina e de 25,8% nos do diesel vendidos a distribuidoras.
De acordo com o IBGE, o resultado de setembro do IPCA foi impulsionado pela alta de 2,80% da gasolina, subitem com a maior contribuição individual.
O item combustível como um todo teve alta de 2,70% em setembro em relação ao mês anterior, com aumento nos preços do óleo diesel (10,11%) e do gás veicular (0,66%) e queda no etanol (-0,62%).
Com esses resultados, o grupo de Transportes subiu 1,40% e também teve o maior impacto positivo entre os grupamentos.
Outro impacto relevante foi exercido pelo grupo de Habitação, com avanço de 0,47% nos preços, impactado pelo aumento de 0,99% na energia elétrica residencial após reajustes tarifários aplicados em três áreas de abrangência da pesquisa.
Por outro lado, a queda de 0,71% nos custos de Alimentação e bebidas ajudou a conter a alta do IPCA no mês.
“É o grupo de maior peso no IPCA e teve deflação pelo quarto mês consecutivo, mantendo trajetória de queda no preço dos alimentos principalmente para consumo no domicílio”, explicou André Almeida, gerente do IPCA.
Os preços da alimentação no domicílio recuaram 1,02%, com destaque para batata-inglesa (-10,41%), cebola (-8,08%), ovo de galinha (-4,96%), leite longa vida (-4,06%) e carnes (-2,10%). Já o arroz (3,20%) e o tomate (2,89%) tiveram aumentos de preços.
A inflação de serviços, que o BC acompanhada de perto apesar de os maiores impactos nos números de inflação recente virem dos monitorados, chegou a 0,50% em setembro, acelerando com força ante 0,08% em agosto. No acumulado em 12 meses, o avanço é de 5,54%.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, caiu a 43% em setembro, de 53% em agosto.
O BC iniciou um ciclo de redução da taxa básica de juros que levou a Selic a 12,75% com dois cortes seguidos de 0,5 ponto percentual, ritmo que deve manter nas últimas duas reuniões do ano.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse recentemente que o processo de desinflação no Brasil está em curso, com queda dos núcleos de inflação e ancoragem das expectativas, mas ainda requer uma política monetária contracionista.
O BC projeta inflação de 5,0% neste ano e 3,5% no ano que vem, enquanto a pesquisa Focus divulgada na segunda-feira pelo Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 4,86%, indo a 3,88% em 2024.