Pouco conhecidos entre os investidores brasileiros, os ativos alternativos estão ganhando popularidade. Essa categoria de investimentos é vasta. Inclui alternativas variadas. De precatórios judiciais (obrigações que o governo tem de pagar por ter perdido causas na Justiça) a royalties de músicas, filmes e espetáculos além de obras de arte e imóveis. Esses investimentos são menos líquidos que as alternativas mais populares. E, por isso mesmo, podem ser mais arriscados. Porém, oferecem uma vantagem: sua valorização não tem correlação com a conjuntura econômica. O governo pode até demorar para pagar, mas terá de honrar um precatório tanto em momentos de crise econômica quanto nas horas de euforia.
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O aumento da procura está relacionado ao cenário atual de incertezas tanto para a renda fixa e para as ações. Com duas guerras em andamento, inflação nos Estados Unidos e na Europa e, no caso brasileiro, receio de descontrole das contas públicas, há várias justificativas para diversificar as aplicações. Segundo um cálculo da Hurst Capital, plataforma especializada nesses ativos, uma média da rentabilidade de 350 operações realizadas entre janeiro de 2019 e julho de 2023 rendeu 21,24% em termos nominais. Para comparar, nesse período o Ibovespa subiu 6,42% e o Ifix, que mede a variação das cotas dos fundos imobiliários, avançou 7,2%.
“As teses de alternativos têm ficado cada vez mais consolidadas, com histórico de performance mais longos e de bom desempenho. Além disso, o ciclo de queda de juros começa a despertar o interesse em opções de maior potencial de retorno”, diz Bruno Pereira, sócio da assessoria de investimentos Blue3.
Risco x retorno
Os ativos alternativos podem apresentar uma relação entre risco e retorno melhor que outras opções, como a renda variável. Segundo o levantamento da Hurst, a média do índice de Sharpe dos ativos alternativos foi de 1,12 no período analisado. Já o índice de Sharpe do Ibovespa é de – 0,10. Desenvolvido pelo americano William Sharpe (1934), prêmio Nobel de economia de 1990, esse índice mede o retorno de um investimento em comparação com um ativo livre de risco. Quanto maior o indicador, melhor o investimento. “Os ativos alternativos têm como vantagem estarem no meio termo entre as aplicações tradicionais de renda variável e de renda fixa. Descorrelacionados do mercado financeiro tradicional, são menos voláteis do que ações da Bolsa de Valores e menos arriscados, porém, garantem retornos maiores do que a renda fixa”, diz Arthur Farache, CEO da Hurst.
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Segundo Pereira, os ativos alternativos são mais populares entre os investidores mais jovens, como os millenials (27 a 42 anos) e os da Geração Z (menos que 26 anos). “O investidor mais jovem é menos reticente às novidades da indústria, tem horizonte de investimento maior, em geral, menor necessidade de liquidez porque ainda está acumulando capital e por isso é mais adepto aos alternativos”, diz. “Os investidores mais velhos também deveriam considerar esses ativos, pois eles aumentam o retorno potencial do total investido sem elevar a volatilidade”, completa.
Ser descorrelacionado do mercado tradicional e funcionar como reserva de valor são duas das maiores vantagens dos ativos alternativos. “Naturalmente, as pessoas buscam investimentos que proporcionam crescimento rápido do patrimônio. Mas temos de pensar que é importante ter no portfólio ativos que, na hora da crise, tenham como característica se desvalorizar pouco. E os alternativos costumam ter essa peculiaridade”, avalia Marco Saravalle, analista CNPI-P e fundador da assessoria de investimentos Sara Invest.
Segundo Saravalle, a tecnologia permitiu a popularização desses investimentos e facilitou o acesso a eles. “Sempre houve demanda, mas antigamente só investia em obras de arte quem tinha muito dinheiro. Hoje, as plataformas oferecem informação, educação e possibilidades para mais investidores.”
Apesar do glamour de investir em um quadro ou em uma música de um compositor famoso, os investimentos mais populares são os precatórios. “Falta conhecimento sobre como a obra de arte ou a música se valorizam ao longo do tempo, seus riscos e oportunidades. Ainda é algo novo, por isso investir em precatórios é mais comum”, afirma.
Agentes autônomos
Segundo Farache, da Hurst, a popularidade chegou também aos agentes autônomos. Os ativos alternativos representam, em média, 5% da alocação de recursos nas carteiras de investimentos dos investidores brasileiros, mas isso deve crescer com a divulgação por meio dos consultores. “Com as parcerias, os clientes desses escritórios passam a ter acesso mais fácil a esses ativos. As parcerias começaram há pouco tempo, e devido ao interesse dos clientes. A Hurst já fez parcerias com 30 escritórios e quer chegar a 50 ainda em 2023.
Para Diego Ramiro, CEO da Miura Investimentos e Presidente da Associação Brasileira dos Assessores de Investimentos (ABAI), o conhecimento de ativos alternativos e mais diversificados é o que vai diferenciar os profissionais. “O agente autônomo vendia apenas renda variável, mas evoluiu para ser um assessor patrimonial para o cliente”, diz ele. “Agora, é possível oferecer algo diferente do que está nas prateleiras dos bancos, pois o que antes era voltado para um público seleto agora se democratizou por meio do trabalho dos assessores.”