David Rosenberg é uma daquelas pessoas raras que consideram o Livro Bege do Federal Reserve como uma leitura instigante. A publicação, lançada oito vezes por ano, está repleta de anotações de líderes empresariais e banqueiros que descrevem a atual situação da economia dos Estados Unidos. Curioso, Rosenberg decidiu analisar os documentos e descobriu que uma recessão econômica está a caminho.
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Ele examinou os Livros Bege publicados do mês anterior de cada recessão nos últimos 40 anos. Sua conclusão: as edições mais recentes foram as mais sombrias. “Não há como você ler esse Livro Bege e não concluir que a economia já está começando uma recessão”, diz o fundador e presidente da Rosenberg Research.
Há um ano, a previsão de recessão era uma chamada popular entre os leitores de sinais. Mas à medida que uma surpresa agradável nas notícias econômicas se seguiu à outra, cada vez mais prognosticadores se afastaram. No mês passado, apenas 9% disseram que uma contração era mais provável, abaixo dos 18% em outubro. Para os economistas ainda em cima do muro, o anúncio de um crescimento positivo do emprego em janeiro deu-lhes novas razões para cancelar suas apostas na recessão.
Mas Rosenberg e outros especialistas não estão cedendo. Eles afirmam que a maioria dos observadores de gráficos está otimista porque estão olhando para os números errados ou estão fixados em dados e não estão ouvindo as palavras que descrevem a vida por trás dos números.
Rosenberg insiste que a maior parte da economia do país está em contração ou à beira dela. Danielle DiMartino Booth, fundadora e CEO da QI Research, está certa de que a recessão nacional já começou. O economista-chefe da SMBC Nikko Securities, Joseph LaVorgna, diz que embora sua “confiança diminua com cada emprego criado”, ele ainda está no acampamento da recessão. E o bilionário rei dos títulos, Jeffrey Gundlach, fundador e CEO da DoubleLine, vem espalhando a palavra de que as nuvens de tempestade da contração econômica estão se formando.
Aqui estão 13 razões para acreditar que a recessão está a caminho.
1- O PIB ESTÁ BOM, MAS VOCÊ VIU O GDI?
O Produto Interno Bruto (PIB) mede tudo produzido no país. A Renda Nacional Bruta (GDI) acompanha tudo o que é ganho. Rosenberg diz que o crescimento nominal do PIB no ano passado foi de 6%, mas o GDI foi de -7%. Nunca na memória recente houve uma diferença tão grande entre o que está entrando e o que está saindo.
2- POUSOS SUAVES SEMPRE ANTECEDEM AS RECESSÕES.
Jason Furman, professor de Harvard, que não prevê uma recessão, reconhece que isso é verdade. “Pousos suaves realmente antecedem recessões. Claro, se tivermos uma recessão nesta primavera, olharemos para este momento e diremos que foi um pouso duro”.
3- OS EFEITOS DO ESTÍMULO GOVERNAMENTAL ESTÃO DIMINUINDO
Segundo Rosenberg, dois terços do crescimento do Produto Interno Bruto no ano passado vieram de cheques relacionados à pandemia. “Isso deu aos números do PIB um brilho falso. Isso não será um fator recorrente em 2024.”
4- INADIMPLÊNCIAS DOS CONSUMIDORES ESTÃO AUMENTANDO.
Em 2021, a porcentagem de americanos com pagamentos de empréstimos atrasados atingiu seu nível mais baixo de todos os tempos. No entanto, atualmente, esses números estão aumentando além dos níveis pré-pandêmicos, conforme indicado pelos dados do Federal Reserve de St. Louis. Para se ter uma base, aproximadamente 2,2% da dívida dos cartões de crédito dos americanos estava atrasada por mais de dois meses no terceiro trimestre de 2023, em comparação com 1,9% no mesmo período em 2019.
5- PERDAS NO SETOR IMOBILIÁRIO COMERCIAL VÃO AUMENTAR.
Isso está se desenrolando como um filme de terror. Na primeira cena, a Covid esvazia os prédios de escritórios. Corte para uma cena interna de trabalhadores de escritório se acomodando em seus sofás com seus laptops. Amplie para US$ 544 bilhões em hipotecas comerciais vencendo em 2024 e mais US$ 533 bilhões no próximo ano. A Fitch Ratings alerta que as inadimplências de hipotecas comerciais dobrarão para 4,5% este ano. Talvez isso não seja suficiente para desencadear uma recessão, mas não é um bom presságio para os bancos regionais, que, segundo a Trepp, detêm mais da metade dos empréstimos que vencem entre agora e 2029.
6 – O SUSTO DOS BANCOS REGIONAIS DO ANO PASSADO NÃO TERMINOU.
Basta perguntar ao New York Community Bancorp. Depois de registrar prejuízo no quarto trimestre, reduzir seu dividendo em quase dois terços e informar aos investidores que estava reservando dinheiro para cobrir futuras perdas com imóveis comerciais, as ações caíram até 38%. Isso representou uma redução de 6% no Índice de Bancos Regionais KBW, sua maior queda em um único dia desde o fechamento do Signature Bank em março passado.
7 – O GOVERNO PODE FECHAR.
O próximo prazo para uma possível paralisação de atividades do governo devido à falta de financiamento é no início de março.
8- A CURVA DE RENDIMENTO INVERTIDA.
“Uma curva de rendimento invertida nunca é um bom sinal”, diz o otimista Richard Bernstein, fundador e CEO da Richard Bernstein Advisors em Nova York. Na prática, isso ocorre quando os investidores conseguem retornos mais altos de títulos do Tesouro de curto prazo do que conseguem para investimentos de longo prazo. Quando a curva se inverte, os custos de empréstimos podem ficar tão altos que os bancos não concedem empréstimos, o que desacelera a economia.
A curva de rendimento se inverteu pela primeira vez em julho de 2022, o que significa que, se persistir até março, estabelecerá um recorde como a mais longa da história.
A curva de rendimento invertida tem um histórico perfeito de prever recessões, pelo menos até agora, o que apresenta a Joseph LaVorgna, que foi conselheiro econômico na Casa Branca durante o governo Trump, algo como um dilema existencial. “A curva de rendimento é uma métrica histórica excelente, talvez a melhor. Este ano vai provar se a curva de rendimento ainda é relevante.”
9 – SÓ PORQUE UMA RECESSÃO AINDA NÃO ACONTECEU, NÃO SIGNIFICA QUE NÃO IRÁ ACONTECER.
Rosenberg compara: “Dizer que a recessão não está chegando porque ainda não chegou é como estar em Minneapolis em dezembro e não há neve, e você prevê que não haverá inverno.”
10 – OTIMISMO EXCESSIVO.
Nas últimas semanas, o S&P 500 e o Dow Jones atingiram recordes históricos. “Acho que os mercados estão em um período de euforia agora”, disse Gundlach recentemente à Fox Business Network. “Isso me preocupa.”
11 – O PAINEL DE INDICADORES ECONÔMICOS NO VERMELHO.
O Índice de Indicadores Econômicos Líderes do Conference Board “continua a sinalizar recessão”, disse a organização em 22 de janeiro. O índice seguiu uma queda de 4,3% nos primeiros seis meses de 2023 com uma contração de 2,9% entre junho e dezembro.
12 – DEMISSÕES EM MASSA.
A MicroEdge, que acompanha os cortes de empregos anunciados nas teleconferências trimestrais das empresas, diz que 103.500 pessoas foram demitidas em janeiro. Segundo a plataforma, a maioria dos estados viu perdas líquidas de empregos em outubro e que os monitoradores de recessão inevitavelmente calcularão que a contração começou nesse mês. “Acho que um dos temas de 2024 será as demissões”, diz Gundlach.
13 – HISTORICAMENTE, HÁ UM ATRASO DE 27 MESES ENTRE OS AUMENTOS DE TAXAS E UMA RECESSÃO.
“Final da primavera, início do verão é onde o alvo aparece”, diz Rosenberg. Aqui está a parte realmente preocupante. Furman, o conselheiro da Casa Branca de Obama, que vê crescimento e não recessão este ano, afirma que “nada do que os pessimistas lhe disseram é loucura.Isso pode acontecer.”