A plataforma de ativos digitais MB (Mercado Bitcoin) está pronta para um IPO, mas a realização de uma oferta inicial de ações de fato depende de um momento mais positivo para o setor de criptoativos, não apenas de uma janela no mercado de capitais, o que ainda não é o caso, afirmou o Roberto Dagnoni, presidente-executivo da 2TM, controladora do MB.
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“Nós estamos prontos”, afirmou o executivo. “Mas não faz sentido se não for em um ‘bull market’ como em 2021”, acrescentou em entrevista à Reuters. Naquele ano, o bitcoin atingiu sua máxima histórica, de US$ 69 mil. Atualmente, a cotação orbita os US$ 43 mil.
A companhia contratou um sindicato de bancos em 2021 para um IPO, mas o plano não foi adiante. O MB optou por uma captação privada, anunciando em meados daquele mesmo ano um aporte de US$ 200 milhões do SoftBank Latin America Fund, que ainda apoia a parcimônia em relação a um IPO.
“Hoje, não precisamos”, acrescentou Reinaldo Rabelo, presidente-executivo do MB. “Nós chegamos a um equilíbrio de receitas e despesas importante para nossa jornada, que é de longo prazo. Não precisamos resolver nosso desejo (de IPO) neste ano ou no próximo”, reforçou.
Isso não significa que ambos não estejam com um visão positiva para a performance da empresa em 2024, principalmente com o prognóstico nos mercados de queda nas taxas de juros em economias como Estados Unidos e Brasil e o avanço regulatório no país, além de iniciativas do próprio MB.
Os executivos também chamaram a atenção para a aprovação recente de ETFs (fundos negociados em bolsa) de bitcoin à vista pelo órgão que regula o mercado de capitais norte-americano (SEC), bem como a expectativa de liberação de ETF de ethereum à vista e o esperado “halving” do bitcoin neste ano.
Dagnoni e Rabelo não quiseram detalhar metas para o ano, mas afirmaram que esperam acelerar a receita, assim como aumentar os recursos sob custódia, atualmente em 3,5 bilhões de reais, principalmente o volume de ativos, uma vez que o financeiro é mais sensível às condições de mercado.
Atualmente, o MB tem 4 milhões de clientes cadastrados em sua plataforma.
Diversificação
Os executivos afirmaram que há também uma série de ações do MB nos próximos meses que devem apoiar o grupo, que segue trabalhado na diversificação de seu portfólio de produtos e serviços, e já reduziu a participação das operações com criptomoedas para menos do que 50% da receita.
A companhia vai ofertar cartão aos clientes até o final do primeiro semestre, em um primeiro momento apenas com a opção débito, em um projeto em parceria com a Mastercard. O produto vem após a empresa obter autorização do Banco Central no ano passado para atuar como instituição de pagamento.
E o MB também está buscando outras licenças, incluindo para atuar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD) e uma Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM). Neste último caso, Dagnoni afirmou que ela pode vir por meio de uma operação de aquisição, mas não detalhou.
A plataforma de captação para startups também é considerada uma das avenidas de crescimento da companhia. Os executivos reconhecem que os últimos anos foram de pouca liquidez, com os fundos de venture capital investindo menos, mas avaliam que é um momento de inflexão, que daqui a pouco esse fluxo deve retornar.
A tokenização dos ativos do mundo real usando blockchain, conceito resumido na sigla RWA (Real World Assets), também deve continuar ganhando espaço nos negócios da companhia. Desde que começou a oferecer esse tipo de produto, em 2019 o MB já fez operações com mais de 10 classes de ativos, somando R$ 500 milhões.
“Esse ano nossa meta é fazer R$ 1 bilhão de RWA”, afirmou Dagnoni.
Rabelo destacou positivamente a atuação do BC e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), deixando de ter uma ação mais reativa e passando a propositiva, passando a também publicar orientações sobre o que é permitido. “Houve uma mudança de ‘mindset’ muito forte”, ressaltou.
Dagnoni chamou a atenção para a consulta pública, encerrada na última quarta-feira (31), para obter contribuições e informações sobre o mercado de ativos virtuais no Brasil, em uma primeira etapa pata desenvolver a regulamentação do Marco Legal dos Ativos Virtuais.
“O Banco Central não está querendo colocar um quadrado no círculo, não está querendo nos encaixar se tem que operar como a B3 ou a XP”, afirmou o presidente da 2TM, referindo à empresa de infraestrutura de mercados B3 e à plataforma de investimentos XP Inc.
“O BC realmente vai criar algo específico para que os benefícios do blockchain não se percam”, acrescentou Rabelo. “E isso sempre foi a nossa visão, que somos algo entre o que é uma XP e uma B3. Nós estamos construindo algo no meio”, afirmou.
Os executivos ainda elogiaram o trabalho do BC em relação ao Drex, a moeda digital brasileira, afirmando que apoiam o desenho, mas avaliam que é algo que deve demorar ainda para entrar em operação de fato, chegando talvez ao público institucional em 2025 e ao varejo em 2026.