Passadas as turbulências políticas e econômicas do início de década, empresas de diversos setores puderam voltar a pensar no futuro e em como chegar a ele antes. Esse atalho tem nome: inovação. Ela tem várias formas. Vai do uso das tecnologias disponíveis (ou da criação de outras) à evolução dos processos. Vai do desenvolvimento de produtos e serviços ao ajuste de foco, passando pela evolução ou mudança da cultura corporativa. A partir dessas premissas, a Forbes Brasil chegou à lista das 10 empresas mais inovadoras do Brasil. Confira:
Ânima Educação
Aprender não é decorar. A aprendizagem é parte de um sistema integrado de conhecimentos. A Ânima aprendeu essa lição desde o início. “Tudo começou em 6 de maio de 2003 com a aquisição do Centro Universitário Una, em Belo Horizonte. Foi o primeiro M&A da educação superior brasileira”, diz Marcelo Battistella Bueno, CEO da companhia. Atualmente a Ânima é quarto maior grupo de ensino superior privado do país em número de alunos e o terceiro em receita líquida, com 400 mil estudantes em 18 instituições.
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Essa rede segue um modelo acadêmico único chamado de Ecossistema Ânima de Aprendizagem em que o conteúdo não é dividido em disciplinas e sim em unidades curriculares, para proporcionar ao estudante uma compreensão global do conhecimento. “Ele foi estruturado para ser mais aderente às necessidades e aos desafios do mercado de trabalho e para trazer mais interdisciplinaridade aos nossos estudantes”, diz Bueno.
Um dos destaques é o Ânima Lab Hub, uma rede de laboratórios temáticos que promove inovação de base tecnológica para aceleração de projetos docentes e discentes, com foco no empreendedorismo e que já tem cerca de 250 projetos acelerados.
ArcelorMittal
Desde 1925 a inovação é um pilares mais importantes da estratégia da ArcelorMittal, líder em produção de aço na América Latina, com plantas em sete estados do Brasil. Foi a primeira siderúrgica da região a ter um processo de produção do aço integrado e a iniciar a produção de carvão vegetal a partir de fontes renováveis.
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Também foi pioneira em lançar um e-commerce para venda de aço, que oferece cerca de 500 produtos e soluções para a construção civil. E lançou o primeiro laboratório de inovação aberta no mundo, o Açolab. “Desde a sua criação, em 2018, o Açolab já desenvolveu mais de 120 projetos em conjunto com as áreas de negócio”, diz Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil. “A unidade brasileira possui sinergia com todas as 12 unidades de P&D do grupo no mundo, onde 1.600 pesquisadores trabalham de maneira exclusiva.”
Outro destaque é o Programa de Transformação Digital (iNO.VC), que integra empregados, startups, universidades e hubs de inovação. Entre os projetos em andamento estão processos de aceleração da transformação digital, como o primeiro protótipo de microônibus autônomo da América Latina, um sistema de segurança anticolisão em empilhadeiras e tratores e robôs de atendimento.
Bayer
Ficaram para trás os tempos em que a Bayer era conhecida apenas pelas aspirinas. A gigante fundada na Alemanha em 1863 é uma potência no agronegócio, especialmente após a aquisição da americana Monsanto em 2018. Manter a competitividade requer uma inovação constante. Os investimentos globais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) somaram € 6,6 bilhões (R$ 35 bilhões) em 2022 (a empresa não divulga dados do Brasil). Desse total, € 4 bilhões (R$ 21,5 bilhões), ou 61%, foram para as áreas de medicamentos e saúde do consumidor. Esses departamentos empregam 7,9 mil pessoas, cerca de 50% dos funcionários da Bayer.
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Na divisão farmacêutica, a Bayer conseguiu em 2023 o registro, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de uma nova indicação para o medicamento darolutamida. Agora, o fármaco é aceito em um tratamento combinado de câncer de próstata metastático. “Isso significa que pacientes com planos de saúde podem ter acesso ao medicamento de maneira gratuita, desde que haja prescrição médica”, diz Malu Nachreiner, CEO da Bayer no Brasil. “São cerca de 1,5 mil pacientes por ano que podem ser beneficiados.”
CNH Industrial
Responsável pelo comitê de inovação e diretor digital South America na multinacional norte-americana CNH Industrial, Gregory Riordan lista os três pilares da empresa: ter na agenda a inovação aberta, aprimorar a inovação focada no cliente e alimentar a cultura da inovação nas estruturas da empresa, que deve permear todos os departamentos. “Esse contexto favorece a colaboração. Não tentamos fazer as coisas sozinhos, mas pedindo ajuda e colaborando”, diz ele.
No Brasil há quase meio século, a CNH Industrial é dona das marcas Case IH, New Holland Agriculture, New Holland Construction, Case Construction Equipment, Raven e também do Banco CNH Industrial. Em 2022, a receita líquida global foi de US$ 23,6 bilhões, ante US$ 19,5 bilhões no ano anterior.
Máquinas conectadas, ferramentas digitais, operações remotas, inteligência artificial embarcada e propulsão por meio de combustíveis alternativos, como o biometano, estão no dia a dia da empresa. O trator a biometano foi lançado no início de 2023, com uma redução de 80% nas emissões em comparação com o diesel. O grupo ainda integra iniciativas como a Conectar Agro, movimento conjunto entre empresas para expandir o uso da internet no campo.
Compra Agora
Spin-off da Unilever no Brasil, a plataforma Compra Agora foi lançada em 2020 para conectar indústrias de qualquer porte (inclusive concorrentes) a pequenos e médios varejistas. O Valor Geral de Vendas foi de R$ 4,8 bilhões em 2022 e a estimativa para 2023 é de R$ 6 bilhões. Algoritmos analisam a base de dados e sugerem os produtos a cada um desses pequenos varejos. “Onde quer que estejam, pequenos e médios varejistas podem concentrar 30% de sua cesta de compras em um único ambiente”, afirma o CEO, Júlio Campos. “Empoderamos o chamado varejo de vizinhança ao oferecer as principais marcas do mercado, ofertas exclusivas, entrega rápida e pagamentos flexíveis.”
A implantação da plataforma lastreou-se em dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e considera o fato de que dois terços de todos os bens de consumo do país passam pelos varejos de vizinhança. O conceito nasceu em 2016, com a ideia de estabelecer um canal alternativo de compras e interação da Unilever com esses comerciantes que estivesse disponível 24×7. Com o tempo, seus idealizadores perceberam que faria mais sentido usar a tecnologia e a inteligência de dados envolvendo outras indústrias para engajar e transacionar com esses varejistas.
Copersucar
A transição para fontes de energia mais limpas e renováveis é um desafio global. Para Tomas Manzano, CEO da Copersucar, o Brasil tem tudo para ser um dos líderes nesse processo. A empresa recebeu o aval para a comercialização em escala de etanol destinado à fabricação de combustíveis aéreos sustentáveis (SAF, na sigla em inglês). “Essa certificação destaca a grandeza do Brasil como protagonista na economia de baixo carbono”, diz Manzano. Produzido a partir do etanol derivado da cana-de-açúcar, o SAF promete diminuir em até 80% o volume das emissões quando comparado aos combustíveis fósseis.
O certificado foi concedido à Copersucar, às usinas associadas de Barra Grande e São José, e à Evolua Etanol, joint venture com a Vibra Energia, em novembro de 2023. A conquista ocorreu logo após evento da Organização das Nações Unidas (ONU) em que o governo brasileiro anunciou medida para aprimorar a ecoeficiência dos meios de transporte no país: a partir de 2027, as empresas aéreas que operam voos domésticos serão obrigadas a reduzir em até 10% as emissões de gases de efeito estufa. A redução será gradual, iniciando em 1%, e o objetivo deverá ser alcançado até 2037.
Intel
Desenvolver tecnologias limpas, encontrar tratamentos para o câncer e descobrir a origem do Universo. Esses são alguns dos feitos que o supercomputador Aurora, que a Intel deve lançar em 2024, pretende realizar, segundo Claudia Muchaluat, presidente da instituição no Brasil. Enquanto a megamáquina não chega, a companhia tem implementado inúmeras outras ações inovadoras. “Somos a empresa que colocou o silício no Vale do Silício”, diz a executiva.
O fomento à ciência também é visível com a criação de três centros de pesquisas aplicadas, com foco em saúde, indústria e cidades inteligentes. “Acreditamos na tecnologia para combater os maiores desafios do mundo, e esse investimento faz parte da estratégia de fomentar o ecossistema e toda a sociedade com mais inovação”, diz Muchaluat.
Em colaboração com o Centro Paula Souza, que administra as Etecs e Fatecs estaduais, a Intel implementou o AI For Youth, programa que ensina habilidades de inteligência artificial de maneira inclusiva para jovens. “A parceria permitirá a capacitação de estudantes para preencher o gap de um setor que necessita cada vez mais de profissionais qualificados”, afirma Muchaluat, que prevê um aumento de 22,4% de vagas voltadas para profissionais de IA até 2029.
Nortel
Um dos fatores mais perturbadores para o agronegócio é a falta de controle sobre o tempo. Maior distribuidora de suprimentos para MRO (Manutenção, Reparo e Operação) do Brasil, a Nortel apresentou, em parceria com a Esalq/USP e a Philips, uma solução para a produção agrícola seguir noite adentro. A chamada suplementação luminosa já é uma realidade mundial em plantações indoor, mas “chegamos ao consenso de que seria interessante essa aplicação na cultura extensiva”, diz Marcos Rocha, CEO da Nortel. “Unimos nossa expertise na distribuição de materiais elétricos com um dos mais renomados centros de pesquisa agrícola, além de uma das maiores autoridades mundiais em produção de lâmpadas, a Philips”, explica Rocha.
O resultado foram luminárias instaladas em pivôs de irrigação em uma fazenda no interior de São Paulo. A suplementação luminosa foi aplicada em cultivos de milho e soja, e os ganhos de produção ficaram entre 25% e 35%. “O agricultor pode reduzir o uso de insumos, contribuindo para uma agricultura mais sustentável, já que a mesma área utilizada para o plantio pode ser melhor aproveitada, sem a necessidade de ampliar a extensão de terra plantada.”
O Boticário
O grupo Boticário desenvolve cerca de 4.500 produtos anualmente e os processos têm compromisso com a sustentabilidade. Um exemplo é a criação do primeiro perfume feito com ajuda de IA, em parceria com a IBM. A tecnologia permitiu testar alterações de cor, viscosidade e pH, o que reduziu em 82% o tempo de análise dos pesquisadores.
A empresa lançou em 2023 a primeira base a combater manchas solares e a primeira a unir alta performance a tratamentos que recuperam a elasticidade e reduzem linhas finas. O Boticário também foi pioneiro ao apostar no mundo gamer, com ativações em jogos de realidade virtual e patrocínio de e-sports, segundo o CEO Fernando Modé.
No campo da sustentabilidade, batons receberam embalagens reaproveitáveis, potencialmente reduzindo mais de 4 toneladas de resíduos a cada ano. A marca também lançou a primeira fragrância com refil, em embalagens com 78% menos plástico do que as convencionais, iniciativa que ainda direciona recursos para o fundo filantrópico da empresa. Em parceria inédita com o Google, pontos de coleta de materiais recicláveis foram adicionados ao Google Maps, com informações que facilitam a dinâmica do processo.
Suzano
A Suzano é líder mundial na produção de celulose. Manter essa liderança, porém, vai além de aproveitar o clima brasileiro, favorável ao cultivo de eucalipto. “Nossos investimentos em inovação equivalem a 1% do faturamento anual”, diz Fernando Bertolucci, diretor de Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade. A companhia tem sete centros de pesquisa, quatro no Brasil e três internacionais. A localização justifica-se pelos estudos desenvolvidos em cada mercado. A unidade do Canadá desenvolve lignina e celulose microfibrilada; a de Israel se dedica à biotecnologia florestal no país; e, na China, a meta é conectar a Suzano ao amplo ecossistema de inovação chinês.
Em 2023 a companhia anunciou o primeiro investimento da Suzano Ventures, o Corporate Venture Capital. Lançado em 2022 com uma dotação inicial de US$ 70 milhões, o fundo tem como propósito apoiar startups e empresas inovadoras em atividades como desenvolvimento de tecnologias e aplicações de celulose e de embalagens que usem celulose, além de agtechs que acelerem a produtividade agroflorestal e o sequestro de carbono. Em abril, foram investidos US$ 6,7 milhões na Allotrope Energy, desenvolvedora de baterias de lítio-carbono do Reino Unido a partir de eucalipto.
(Reportagem publicada na edição 114º da Revista Forbes, acessível no aplicativo na App Store e na Play Store, no site da Forbes e na versão impressa)