O Federal Reserve (FED), o banco central americano, confirmou as expectativas e manteve os juros estáveis entre 5,25% e 5,50% ao ano como esperado, mas indicou que planeja vários cortes nas taxas antes do fim do ano. Juntamente com a decisão, os diretores do FED previram cortes de três quartos de ponto percentual até dezembro, também confirmando a projeção para Fed Funds entre 4,50% e 4,75% no fim de 2024.
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Se confirmadas, seriam as primeiras reduções desde a pandemia. Os juros começaram a subir em março de 2020 e estão no maior nível em 23 anos. Os “Fed Funds”, semelhantes à Selic brasileira, definem o custo do dinheiro nas transações entre bancos, o chamado mercado interbancário, e influenciam no custo dos empréstimos em geral.
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A perspectiva de três cortes veio do “gráfico de pontos” do Fed, uma matriz projeções anônimas dos 19 membros do Federal Open Market Committee (Fomc), organização semelhante ao Comitê de Política Monetária (Copom). O gráfico mostra três cortes em 2025, mais três em 2026 e mais duas a partir de 2027.
A estimava é que os Fed Funds se estabilizem na faixa entre 2,50% e 2,75%, uma taxa de juros considerada “neutra”, que nem contrai nem estimula a economia. O gráfico de pontos também elevou de 1,4% para 2,1% a projeção para o crescimento da economia americana neste ano.
Reação dos mercados
Os mercados reagiram de maneira positiva à decisão. No Brasil, o Ibovespa caminhava para fechar com alta de 1,1% a 128.970 pontos, após subir 1,33% e chegar a 129.220 pontos no melhor momento do dia. Em Wall Street, os principais índices também registraram fortes altas. O Nasdaq, com predominância de ações de empresas de tecnologia, que se beneficiam de juros mais baixos, estava subindo 1,1% no fim da tarde. E o S&P 500, mais amplo, avançava 0,8%.
Ao comentar a decisão, Jerome Powell, presidente do FED, reiterou a necessidade de o banco central americano fazer a inflação convergir para a meta de 2% ao ano no longo prazo. Ele disse que o mercado de trabalho, apesar de permanecer “apertado” (“uptight”) está “em uma situação de desequilíbrio menor entre a oferta e a procura” do que no fim de 2023.
Comentários
Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o FED confirmou as expectativas e as “apostas do mercado seguem sendo para o início do corte de juros em junho”, diz ele. Para Lima, agora “os investidores passarão a monitorar mais de perto os dados de inflação e emprego nos Estados Unidos, bem como sinalizações nas entrelinhas das falas dos dirigentes do FED”.
Para André Fernandes, sócio da A7 Capital, o mercado interpretou de forma positiva as declarações de que o mercado de trabalho americano está se reequilibrando, apesar de o FED não indicar quando os juros devem começar a cair. “Powell citou mais uma vez que os juros estão no máximo e as apostas seguem firmes para um primeiro corte em junho”, diz Fernandes.
Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha 3, avalia que os mercados reagiram positivamente à decisão, pois os investidores vinham temendo alguma sinalização mais dura por parte do FED. “Havia algum receio de que o FED pudesse revisar para cima a projeção de juros para o fim de 2024 após a leva de dados econômicos fortes e discursos mais duros dos diretores em relação ao combate da inflação”, diz ela. “Por isso o mercado recebeu com alívio a manutenção da projeção dos juros para 2024, embora tenha revisado para cima a expectativa dos juros para 2025 de 3,6% para 3,9%, e para 2026, de 2,9% de 3,1%.”
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Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, é um pouco mais cético. Para ele, a decisão do FED e as novas projeções mostram menos convicção com o afrouxamento monetário à frente. “Existia um temor que os dados recentes mais fortes na parte de atividade e inflação pudessem mexer com a projeção do FOMC de três cortes para dois este ano”, diz ele. “Isso não ocorreu, mas nos detalhes das novas projeções de crescimento, inflação e expectativa da trajetória de juros para além de 2024, percebe-se claramente uma postura mais prudente do FED.”