Discreto. Pouco impulsivo. Cauteloso. E com um tino inquestionável para os negócios. Esse foi o bilionário Samuel Barata (1931-2024), falecido no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (22). Em seu comportamento, Samuel era o oposto do irmão Jacob (1932-2023), empresário do setor de transportes urbano no Rio. Jacob gostava de uma festa. Samuel, se pudesse, ficaria invisível. Ele se vestia com discrição. Não ostentava nos carros que possuía. Fugia de fotógrafos e jornalistas. Pode procurar: nenhuma foto ilustrou as dezenas de obituários publicados comentando a notícia.
Acionista controlador do grupo Drogaria São Paulo e Pacheco (DPSP), Barata era um homem rico. Estava na 74ª posição na lista de bilionários brasileiros publicada pela Forbes em 2023, com um patrimônio de R$ 5 bilhões. Sua longa trajetória empresarial mostra que ele era um empresário competente. E que, já com seus 80 anos, foi capaz de ser flexível a ponto de costurar uma fusão que criou a, até agora, segunda maior rede de farmácias do País.
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Barata começou a empreender no setor farmacêutico nos anos 1970, ao comprar uma distribuidora de medicamentos no Rio de Janeiro criada por um ex-balconista da primeira unidade da Drogarias Pacheco. Pouco tempo depois, percebeu que as margens de lucro eram mais gordinhas nas vendas ao consumidor final. Apesar de serem um mercado na época muito mais fragmentado do que atualmente, as farmácias tinham um bom poder de barganha perante as distribuidoras.
Três anos mais tarde, Barata adquiriu também a loja da Drogarias Pacheco, fundada em 1892 pelo empresário José Magalhães Pacheco. Barata logo iniciou uma expansão que, na época da fusão com a Drogaria São Paulo, em 2011, levou a rede a ter 343 pontos de venda nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.
Setor competitivo
A longevidade da empresa de Barata mostra sua capacidade empresarial. Em um país onde a cobertura médica está restrita aos grandes centros e só há poucos anos começou a haver um controle mais estrito sobre a venda de medicamentos (como antibióticos, por exemplo), as farmácias funcionam como um posto médico informal.
Segundo dados do Conselho Federal de Farmácias, existem cerca de 90 mil farmácias no país, em comparação com 55 mil em 2003. O crescimento é de 63% em 20 anos. Com muitas uma do lado da outra, é fácil para o consumidor procurar preço, o que impede o crescimento das margens.
Prova de como o setor é competitivo foi o resultado decepcionante do grupo BR Pharma. Criado em 2008 pelo banco BTG Pactual, a meta da empresa – que tinha recursos abundantes à disposição, por ter aberto capital na B3 – era ser o grande consolidador do setor. No entanto, as dificuldades do setor levaram a empresa à recuperação judicial nove anos depois e à falência, decretada pela Justiça em 2019.
Barata e sua Drogaria Pacheco conseguiram navegar por essas águas turbulentas. Só quando uma fusão gerou a concorrente RaiaDrogasil ele percebeu ser necessário ganhar musculatura a partir da expansão inorgânica.
Sem citar a causa da morte de Barata, o Grupo DPSP lamentou o falecimento, destacando que o empresário foi responsável por revolucionar o varejo farmacêutico e por expandir a rede.
O empresário deixa quatro filhos, oito netos e 12 bisnetos. Seu irmão, Jacob Barata, conhecido como o “Rei dos Ônibus” do Rio, morreu em dezembro do ano passado, ao 91 anos.
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Jacob Barata, o “Rei dos Ônibus”
Paraense de Belém, Jacob Barata foi um dos fundadores do Grupo Guanabara, um dos maiores conglomerados de companhias de ônibus do país, que conta com mais de 30 empresas, principalmente na região metropolitana do Rio de Janeiro. Um banco e concessionárias de veículos comerciais Mercedes Benz também fazem parte do grupo fundado em 1968 e que tem mais de 8 mil funcionários.
Seu filho, Jacob Barata Filho, empresário também do ramo de transporte de passageiros, herdou o apelido de Rei dos Ônibus. Em novembro de 2020, Barata Filho foi condenado pela Justiça Federal no Rio de Janeiro a mais de 28 anos de prisão por corrupção.
A condenação foi no âmbito da Operação Ponto Final, que investigou o pagamento de propina a políticos por empresários do setor de transporte público, para obter vantagens no valor das tarifas e outras benesses. No entanto, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região anulou a condenação e remeteu o processo para a Justiça estadual.