A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa nesta terça-feira (18), deve confirmar as expectativas de uma mudança na trajetória dos juros. Depois de sete reduções consecutivas na taxa referencial de juros Selic, há muitos profissionais do mercado que apostam em sua manutenção nos atuais 10,50%. Mesmo que haja um corte de 0,25 ponto percentual, como o ocorrido no encontro de maio, é provável que haja uma sinalização clara de que vai demorar para que ocorra a próxima redução – se houver.
A justificativa para isso é a aceleração da inflação e aquilo que o Banco Central (BC) chama de “desancoragem das expectativas”. Ou seja, a perda de convicção pelos agentes econômicos de que a inflação vai ficar dentro das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Os índices mostram que isso é cada vez menos provável. Divulgada na semana passada, a inflação de maio superou as expectativas. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio registrou uma variação de 0,46%. Esse resultado ficou acima da mediana das projeções dos analistas, que era de 0,42%. No acumulado em 12 meses, a inflação de maio subiu para 3,93%, acima dos 3,69% acumulados nos 12 meses até abril.
Para Rafael Costa, da corretora BGC Liquidez, a maior surpresa de alta foi no grupo de alimentação no domicílio e, dentro desse grupo, as maiores surpresas de alta foram os alimentos in natura. Os preços de itens fundamentais na mesa do brasileiro, como a batata, chegaram a subir 20,61%.
O impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, um produtor agrícola importante, pressionou o índice. “Vale destacar que a inflação da alimentação no domicílio registrada em Porto Alegre em maio foi de 3,64%, a maior entre todas as capitais”, disse Costa.
O IPCA é usado pelo Banco Central (BC) para verificar o cumprimento da meta de inflação. A variação desse índices define o comportamento dos juros. Se o IPCA está muito acima da meta de 3,00% definida para este ano (com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo), o BC eleva os juros para desacelerar a economia e baixar a inflação.
É o cenário mais provável, avalia Victor Furtado, sócio da W1 Capital. “No acumulado de 12 meses temos a inflação na casa dos 3,9% e vejo uma acomodação em 4% durante 2024 e 2025”, diz ele. Furtado avalia que a inflação deve seguir nesse patamar mesmo considerando a Selic ainda restritiva em 10,5% e sem precisão de queda até o fim do ano.
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O problema vai além dos preços dos alimentos, mas envolve as expectativas dos investidores. “Para a inflação convergir para 3% é preciso que haja uma harmonia entre as políticas fiscal e monetária, além de um aumento da confiança no governo”, diz. Isso, avalia, está ocorrendo em um “momento difícil”, com pressões no câmbio e nos preços internacionais das commodities, além da tragédia no Rio Grande do Sul.
Também há a pressão nos preços dos serviços, diz Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo. Em 12 meses, o núcleo de serviços, que exclui passagens aéreas, acelerou de 4,7% em abril para 4,8% em maio, acima da tolerância da meta de inflação, “reforçando a avaliação do BC de que o mercado de trabalho resiliente e os ganhos salariais reais exigem cautela com relação aos estímulos adicionais da política monetária”.
Traduzindo, é provável que o Copom tenha cuidado na hora de considerar uma nova redução dos juros. Segundo Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, “o mercado aposta, cada vez mais, na ideia de que o Copom vai querer ganhar tempo para continuar a queda de juros, ou seja, deve manter a Selic inalterada”.