Você já parou para pensar no impacto que os seus investimentos têm? E se, com eles, fosse possível reduzir a desigualdade de gênero e, consequentemente, aumentar as oportunidades de crescimento para startups em todo o país? É isso que o termo inglês Gender-smart investing – que pode ser traduzido para ‘Investimento inteligente em gênero’ -, busca.
De acordo o relatório realizado pelo British International Investment (BII) em parceria com a International Finance Corporation (IFC), com dados do Projeto Sage, Iniciativa de Impacto Social da Wharton com a Catalyst at Large, o volume de capital levantado com atenção a questões de gênero em Private Equity, Venture Capital e dívida privada quadruplicou nos últimos anos, somando US$ 4,8 bilhões em 2019, acima dos US$ 1,1 bilhão observados em 2017.
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Naquele ano, 138 gestores de fundos em mercados emergentes estavam investindo com lentes de gênero, um aumento de 58,6% em relação ao ano anterior, o que reflete a crescente demanda por soluções de investimento inteligentes.
Os dados são positivos, já que na visão dos especialistas, esse modelo de investimento ajuda a capitalizar novas oportunidades, criando um novo mercado consumidor, além de gerenciar riscos que vão desde desigualdade salarial até assédio. Atualmente, os países estão perdendo mais de US$ 160 trilhões em riqueza em razão das disparidades nos ganhos de homens e mulheres ao longo da vida, de acordo com um estudo do Grupo Banco Mundial.
“Quando você investe intencionalmente em uma startup fundada por uma mulher, você está impactando positivamente todo um ecossistema. Mulheres são mais propensas a contratar mulheres, proporcionando maiores oportunidades de carreira, aumento de renda e, no limite, independência financeira para as mulheres”, avalia Erica Fridman, cofundadora da Sororitê, maior rede de investidoras-anjo do país.
Outro ponto a favor do Gender-smart investing, na visão de Fridman, é promover a diversidade de colaboradores nas startups investidas. “Segundo uma pesquisa do IFC de 2017, empresas com estratégias sólidas de diversidade de gênero têm uma taxa de crescimento 3,5% acima daquelas que não tem“, exemplifica a executiva.
Apesar dos benefícios e do capital migrando para iniciativas como essa, ainda é necessário ter mais incentivo por parte dos fundos que investem nessas startups. Na visão de Fridman, hoje existem dois cenários no mercado de Venture Capital: o primeiro é representado por fundos que não tem o foco em gênero, mas que já estão conversando sobre o assunto e levantando a discussão entre tomadores de decisão, enquanto o segundo é formado por empresas efetivamente voltadas para a iniciativa, como é o caso da Amplifica ventures, que investe em startups lideradas por mulheres nos países de língua espanhola da América Latina.
“Para que existam mais fundos de tese exclusiva de diversidade de gênero nos investimentos, ou pelo menos com esta lente, é necessário que os Limited Partners, que são os investidores dos fundos, tenham esta agenda. Este é um movimento que precisa ser liderado pelo capital; quem tem o poder de direcionar o dinheiro é quem precisa exigir que os fundos tenham estas políticas”, diz Fridman.
Na visão da investidora, o cenário é otimista, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. “O caminho é longo, pois ainda temos um gap de tomada de decisão. Hoje, no Brasil, apenas 3% dos fundos de Venture Capital são liderados exclusivamente por mulheres. Ou seja, independentemente do fundo ter ou não esta lente, ele está enviesado, pois os tomadores de decisão não são diversos”, afirma.
Desta forma, ela acredita que iniciativas como a lançada pelo IFC incentivam os investidores a refletir sobre o assunto, além de ajudar a medir se o mercado está ou não evoluindo nessa direção.
“A inovação é gerada por pessoas diversas, que pensam de maneiras diferentes para chegar a soluções disruptivas. Como chegaremos a estas soluções se hoje investimos somente em um tipo de fundador?”, complementa Fridman.