Elon Musk afirmou na quinta-feira (13) que a Tesla poderia começar a vender seu robô humanóide Optimus até o fim de 2025 e previu que isso poderia levar a montadora a um valor de mercado de US$ 25 trilhões (R$ 134 trilhões). Essa foi outra afirmação arrojada do bilionário. Para comparar, na sexta-feira (14) a montadora valia US$ 558 bilhões (R$ 3 trilhões), ao passo que a capitalização de mercado da Apple era de US$ 3,25 trilhões (R$ 17,5 trilhões).
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Isso é possível? Segundo especialistas, sim, mas é altamente improvável que o Optimus gere algum dinheiro para a Tesla no curto prazo. O robô, que ainda está em desenvolvimento, deve começar a ser produzido em 2025 e a empresa poderá ter “alguns milhares” deles trabalhando em suas fábricas, disse Musk na reunião anual de acionistas da empresa no Texas. Musk dobrou a aposta em um cronograma já bastante ambicioso para o Optimus, anunciado no início deste ano.
Musk, que se descreveu como “patologicamente otimista” e tem um histórico de fazer afirmações sobre suas empresas que não se concretizaram, afirmou que a Tesla está “mais bem posicionada entre qualquer fabricante de robôs humanóides” e acredita eles poderiam se tornar, de longe, o ativo mais valioso da empresa. Valioso o suficiente para estimular um aumento de mais de 40 vezes no valor de mercado.
Animesh Garg, professor assistente de robótica de IA no Instituto de Tecnologia da Geórgia, disse que o cronograma de Musk é “agressivo, mas realista”. No entanto, ele afirmou que a questão será se as habilidades dos robôs serão úteis. Garg disse esperar a Tesla lance um robô humanóide com membros, embora “não esteja claro quão robustas e úteis” as mãos serão. Ele disse que “ficaria surpreso” se o Optimus pudesse realizar tarefas além de pegar objetos simples. Interagir com objetos como abrir janelas e portas ainda deve levar um ou dois anos.
Jonathan Aitken, roboticista da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, concordou que o “cronograma de Musk seria muito desafiador” e descreveu 2025 como “ambicioso, mas não fora de questão”, dizendo que muito depende de exatamente o quê Musk está sugerindo.
Christian Hubicki, professor de robótica na Florida State University, disse que “não ficaria chocado se visse algumas demonstrações em vídeo cuidadosamente preparadas de um Optimus realizando algumas tarefas básicas em uma fábrica”. Mas ele alertou que será “incrivelmente difícil” colocar os robôs nas mãos de clientes que os considerarão úteis nesse período.
O QUE NÃO SABEMOS
Hubicki disse que existem várias incógnitas em torno dos robôs humanóides da Tesla e seus concorrentes, como Boston Dynamics e Figure AI, que são essenciais para avaliar seu potencial fora dos vídeos cuidadosamente encenados usados para demonstração. O principal deles é a confiabilidade, disse ele, acrescentando que “o único robô útil é um robô confiável”.
Hubicki disse que o problema é que o controle ainda está em fase de laboratório e o hardware é frágil. “Eles funcionarão 90% do tempo ou 99%? Quão precisos eles têm de ser para serem úteis?”
A maior parte do mundo construído é projetada para humanos e robôs humanóides seriam adequados para isso. Embora os ambientes e tarefas de trabalho possam ser desafiadores para robôs com rodas, um humanóide pode realizar trabalhos que seriam limitados a humanos ou máquinas muito específicas. O design impõe uma série de desafios técnicos formidáveis tanto para hardware quanto para software, incluindo tarefas que a maioria dos humanos considera certas, como mover e agarrar objetos.
O avanço atual da Inteligência Artificial está ajudando a impulsionar esse campo, disse Aitken, já que a generalização é crucial para transformar os humanóides em ferramentas viáveis. “Não podemos programar um robô para pegar 1.000 objetos diferentes programando um processo para cada um individualmente”, explicou ele.
É difícil imaginar que a afirmação de Musk de que um dia a Optimus irá ofuscar os outros produtos da Tesla se concretizará em um futuro próximo. Por seu lado, Musk não indicou um cronograma para o enorme crescimento que espera que a Optimus catalise.
Garg disse ser “improvável” que os humanóides tenham um fluxo de caixa positivo tão cedo e que eles não têm usos óbvios de outras tecnologias emergentes como os carros sem motorista. Eles “provavelmente não chegarão perto do negócio automobilístico em termos de receita” na próxima década, disse.
Aitken disse que “é difícil ver um humanóide competindo seriamente com os grandes players industriais do setor” e questiona se eles seriam capazes de realizar o tipo de trabalho “de alto valor, enfadonho, sujo e perigoso” que motivaria um empresa para investir. Hubicki disse que “não apostaria que esse mercado se aproximasse do automotivo no futuro próximo”. Embora os bots humanóides tenham “progredido de forma impressionante” nos últimos anos, ele disse que falta um caso de uso convincente que sugira que “um mercado massivo é iminente” e que no momento continuam sendo “uma tecnologia complicada para completar tarefas que já podemos fazer melhor”.
O analista Gordon Johnson, da GLJ Research, disse que as afirmações de Musk eram “absurdas” e rejeitou sua meta para o final do ano de 2025 para a Optimus como “total absurdo e fraude limítrofe aos investidores”. Johnson disse que as empresas que trabalham com humanóides há décadas não chegaram nem perto de “onde Musk afirma que estará até o final de 2025”. A Optimus é uma “bomba de estoque dos sonhos”, disse Johnson. “Não há produto.”