A edição mais recente do Relatório Focus, divulgada na manhã desta segunda-feira (17), mostrou uma elevação nos prognósticos dos investidores para a taxa referencial Selic. Agora, a estimativa é de uma Selic a 10,50% em dezembro, inalterada em relação ao patamar atual. Na edição da semana anterior a projeção era de 10,25%. Há quatro semanas, a estimativa era de 10%.
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Essa alteração é especialmente significativa. Ocorre nesta semana o encontro de junho do Comitê de Política Monetária (Copom). Será a quarta reunião das oito agendadas para 2024. E o resultado deve confirmar uma reviravolta na trajetória dos juros. Após sete cortes sucessivos na taxa referencial Selic, seis deles de 0,50 ponto percentual e o mais recente de 0,25 ponto percentual, há duas hipóteses possíveis.
A primeira, mais branda, é de outra baixa de 0,25 ponto percentual, com o Comunicado pós-reunião avisando que não há outros cortes previstos. A segunda hipótese, mais dura e que foi praticamente confirmada em termos de expectativas pelo Focus, é que não haja nenhum corte e a taxa permaneça em 10,50% ao ano.
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Se confirmada, essa estabilidade na Selic vai representar uma guinada na política monetária. O cenário para os juros mudou muito. A expectativa razoavelmente baixista do 1T24 deu lugar a uma postura muito mais austera. Se o Copom confirmar o Focus e não houver cortes de juros, o Banco Central (BC) passará o resto do ano apenas observando os indicadores econômicos. Uma posição semelhante à do Federal Reserve (FED), seu congênere americano, que está dependendo dos indicadores econômicos para formular a política monetária.
Como explicar uma mudança tão drástica nas expectativas em tão pouco tempo? A principal causa vem de Brasília. Os investidores ficaram otimistas em 2023 com a promessa do Executivo de perseguir uma meta fiscal “responsável” a partir deste ano. A revogação do teto de gastos e sua substituição por um vago “novo arcabouço fiscal” visava conduzir as finanças públicas de maneira responsável, para que o endividamento do Estado crescesse mais devagar. A chegada de 2024 deixou claro que esse objetivo seria conseguido da maneira tradicional: aumentando as receitas em vez de cortar receitas.
O problema é que essa solução tradicional está difícil. Na terça-feira (11), o Planalto sofreu uma grave derrota política. A insatisfação de grande parte do empresariado com a chamada Medida Provisória (MP) da reoneração, a MP 1.227/2024 fosse devolvida ao Executivo pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Foi o suficiente para disparar uma onda de realização de lucros nos mercados e um reajuste para pior nas expectativas de inflação.
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A possibilidade de um desequilíbrio fiscal contribui para afastar os investimentos estrangeiros do País. Isso encarece o dólar e coloca ainda mais pressão a inflação. A famosa profecia autorrealizável: por temerem uma alta de custos, os empresários reajustam preventivamente suas tabelas de preço – e os preços sobem. Para surpresa de ninguém, a inflação esperada no Focus voltou a subir e está em 3,96%, ante 3,90% da semana anterior e 3,80% quatro semanas