Em sua reunião mais recente, no dia 8 de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa de juros Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano. A decisão seguiu-se a seis cortes sucessivos de 0,50 ponto percentual. A desaceleração no corte dos juros alterou as projeções do mercado. No início de abril, o Relatório Focus indicava uma projeção de juros a 9,00% em dezembro. Agora, esse prognóstico subiu para 10,25%. Na ponta do lápis, se as expectativas do mercado se confirmarem, haverá apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual nos juros até o fim do ano. Como isso deve afetar as estratégias dos investidores?
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O que a Selic caindo menos muda na prática? Wallace Seixas, especialista em investimentos da Unicred, fez uma simulação a pedido da Forbes. Ele considerou uma Selic de 10,25% ao ano e uma alíquota de imposto de renda de 17,5% sobre os rendimentos para um investimento de R$ 10 mil em títulos públicos Tesouro Selic. O rendimento bruto é de R$ 1.025. O imposto abate R$ 179,38. Assim, o rendimento líquido é de R$ 845,62, ou aproximadamente 8,46% ao ano. O valor final líquido (após o imposto) é de R$ 10.845,62. Considerando-se os mesmos parâmetros, com a Selic anterior de 10,75% ao ano, essa rentabilidade seria de aproximadamente R$ 886,88, ou 8,87% ao ano.
Apesar da queda, Seixas afirma que as aplicações de renda fixa seguem interessantes. A Selic caindo mais devagar beneficia os investimentos de perfil conservador, como os títulos de renda fixa prefixados e os atrelados à inflação que também pagam juros. “A renda fixa mantém sua importância, especialmente para investidores que buscam alternativas de menor risco”, diz ele. No entanto, Seixas afirma que o investidor deve fazer uma seleção apropriada dos ativos, observando cuidadosamente a liquidez e o risco do emissor do título.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, indica um ponto negativo da Selic caindo menos. “A demanda elevada por produtos de renda fixa tende a reduzir as taxas oferecidas aos clientes”, diz. Ele afirma que a incerteza sobre a trajetória dos juros deveria fazer o investidor preferir as aplicações de renda fixa pós-fixadas, que se beneficiariam de uma eventual alta da Selic. No entanto, os prefixados com taxas mais altas também são atraentes, especialmente para quem não pretende manter o investimento até o vencimento. “Os títulos atrelados à inflação são igualmente interessantes, considerando a perspectiva de um IPCA acima da meta nos próximos anos.”, afirma Cruz.
No caso da renda variável, o diretor de Gestão Multi-Ativos da Constância Investimentos, Carlos Eduardo de Mello Paiva, diz que as ações de empresas cíclicas (que se beneficiam do aquecimento da economia) acabam por sofrer mais com essa perspectiva de custo de capital maior. O mesmo tende a ocorrer com empresas de crescimento (growth), pelas revisões negativas de perspectivas de lucro e valuations. Por outro lado, o fluxo em renda variável buscará empresas que pagam dividendos. No entanto, diz Paiva, é preciso realizar uma seleção criteriosa.
O que acontece com os meus investimentos já feitos?
Ainda que mais lenta, a queda da Selic reduz a rentabilidade das aplicações de renda fixa pós-fixadas. Os melhores exemplos são CDBs, LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e Fundos DI. Eles remuneram os investidores com base em um percentual dos juros de mercado, medido pelo CDI, que tem um comportamento parecido com o da Selic. Já as aplicações corrigidas por índices como o IPCA podem render menos devido à baixa esperada do prêmio pago acima da inflação.
Já para os pré-fixados, se a previsão para a taxa Selic é de queda, você pode investir em um título prefixado com retorno de 10% e vencimento em 2026. Dessa forma, caso a Selic variasse entre 9% e 6%, sua rentabilidade estará garantida em 10% ao ano até o vencimento.