O mercado financeiro e a imprensa especializada apelidaram de “Super Quarta” o dia em que os comitês dos bancos centrais dos Estados Unidos (Federal Reserve, Fed) e do Brasil (Comitê de Política Monetária, Copom) anunciam, com poucas horas de intervalo, suas decisões sobre suas respectivas taxas de juros.
Tal coincidência passou a ser mais percebida em 2022, quando teve início o ciclo de aperto monetário nos EUA, que acabou sendo o mais rápido e mais intenso da história do Fed. No fim de um ano, em junho de 2023, os membros do colegiado colocaram os juros norte-americanos no maior nível desde 2001.
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Desde então, a taxa permanece neste intervalo entre 5,25% e 5,50%. A expectativa dos mercados era de que o ciclo de cortes tivesse início em março deste ano. Depois, a projeção foi adiada para junho. E agora as apostas concentram-se no mês de setembro.
Entre outros fatores, esse atraso do FED levou o Copom a interromper o ciclo de queda da taxa Selic em maio. A redução havia começado em agosto de 2023. Com isso, o juro básico não chegou a cair para um dígito, estacionando em 10,50%.
Daí porque a Super Quarta concentra tanto a atenção dos investidores. Essa coincidência já ocorreu duas vezes neste ano, em janeiro e março, e voltará a acontecer mais uma vez, em setembro.
Super Quarta Plus seguida da Super Quinta
Mas a Super Quarta deste mês de julho conta com um ingrediente a mais: a decisão do BC japonês (BoJ). Enquanto se espera um aperto da política monetária no Japão, diante da forte desvalorização do iene, a expectativa tanto para o Fed quanto para o Copom é de manutenção dos juros.
A Super Quarta, aliás, só acaba no dia seguinte, quando o Banco da Inglaterra (BoE), também anuncia sua decisão de política monetária. Por lá, a previsão é de queda de 0,25 ponto percentual (pp) na taxa, para 5%, após manter os juros por sete reuniões seguidas, até junho.
Portanto, “uma subida, uma manutenção e um corte”, resume os estrategistas de câmbio do ING, em relatório. Ou, no caso, duas manutenções – aqui e nos EUA. A diferença será o viés, pois enquanto o Fed deve indicar corte na taxa em setembro, o BC brasileiro deve manter a postura vigilante – tanto por causa do risco fiscal quanto das expectativas inflacionárias.
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Seja como for, o foco do mercado global está na confluência desta semana das reuniões dos BCs, que começa do outro lado do mundo, passa pelas Américas (do Norte e do Sul) e só acaba na Europa um dia depois.
“Contudo, quem acha que não há espaço para incertezas deve considerar o cenário global em que cada um opera – que é uma loucura, tanto em termos de manchetes quanto de cascas de banana que os formuladores de política monetária podem escorregar”, resume Michael Every, estrategista-global do Rabobank.