Problemas sobre o peso de Pequim no Mar da China Meridional contra seus vizinhos menores, como Filipinas e Vietnã, podem parecer distantes para muitos nos Estados Unidos – e no Ocidente. Mas para investidores globais que observam o dinheiro dos outros, as tensões geopolíticas estão na mente.
Em um estudo de janeiro com CEOs globais, a empresa de serviços profissionais EY, anteriormente conhecida como Ernst & Young, descobriu que 98% dos entrevistados disseram que estavam tomando medidas por causa de fatores relacionados à geopolítica, ou seja, disputas internacionais.
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Embora a desglobalização já esteja ocorrendo, não está claro quanta revisão ainda é necessária nas práticas comerciais. “Acreditamos que é realmente importante ser muito cuidadoso com a análise e não simplesmente dizer que o mundo inteiro está ficando mais complicado”, diz Oliver Jones, chefe do grupo de negócios geoestratégicos da EY. “A questão da indústria é como especificamente para o investidor e seu modelo operacional e sua estratégia o mundo está se tornando mais complicado, e como é preciso reagir?”
A EY mapeou quatro cenários para 2027 que considera plausíveis: Globalização Leve; Amigos Primeiro; Guerra Fria II; e o Reino da Autossuficiência. Os dois do meio são os mais prováveis, de acordo com Courtney Rickert McCaffrey, líder de insights do grupo de Oliver na EY. Na perspectiva de Amigos Primeiro, as empresas escolhem fazer a maior parte de seus negócios em nações amigas, enquanto na Guerra Fria II há uma repetição da primeira, mas com a China tomando o lugar da União Soviética. “Esses dois cenários parecem os mais prováveis neste momento. E, de fato, há alguns aspectos delas que já estão entrando em jogo no ambiente atual”, diz Rickert McCaffrey.
Na pesquisa com CEOs da EY, 40% disseram que estavam alterando suas cadeias de suprimentos, 38% estão cancelando investimentos e 37% estão realocando ativos. “Eles estão fazendo mudanças fundamentais”, diz Jones.
Já uma pesquisa do Bank of New York Mellon (BNY) com 189 family offices ao redor do mundo descobriu que 49% desses administradores de riqueza listaram a geopolítica e a questão relacionada à segurança cibernética entre as principais áreas de preocupação. Desse total, aqueles que administram mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões, na cotação atual) estão muito mais temerosos do que as organizações menores.
“O risco geopolítico está mais alto em nossa lista de considerações do que normalmente está para os investidores”, diz Dave Bianco, diretor de investimentos das Américas do DWS Group de Frankfurt, um gestor de ativos de US$ 1 trilhão anteriormente conhecido como Deutsche Asset Management. “Infelizmente, acho que esse tem sido o caso desde que a Rússia invadiu a Ucrânia”, acrescenta.
Há também a questão das relações difíceis entre os EUA e a China. “Ficou mais tenso [porque] julgamos uns aos outros pela companhia e amigos que mantemos, e a China mantém companhia e amigos com o que eu descreveria como maus atores”, diz, citando especificamente Rússia, Irã e o “parceiro habitual no crime de Pequim, a Coreia do Norte”.
Quando se adiciona à lista de focos de tensão as ações militares na Faixa de Gaza e no Mar Vermelho, a inflação excessiva da pandemia de Covid-19, mudanças climáticas e ciberterrorismo, tem-se uma receita de um mundo repleto de riscos. “Talvez estejamos em um novo tipo de Guerra Fria”, diz Bianco, do DWS.
Novas estratégias
Em Wall Street, a reação a esse cenário sempre foi comprar grandes empresas aeroespaciais e de defesa. Mas essa pode não ser mais a melhor estratégia, dada a mudança para a tecnologia como uma frente de batalha fundamental. “Embora a aeroespacial e a defesa tradicionais possam ser setores industriais importantes a serem considerados, o Departamento de Defesa declarou claramente que a segurança econômica e a segurança nacional estão totalmente interligadas”, diz Amanda Rebello, do DWS.
Cadeias de suprimentos mais curtas, pressionadas pela pandemia, também podem significar maior autossuficiência nacional, especialmente para energia. “Geopolítica não é apenas sobre onde a próxima guerra vai acontecer”, diz Sinead Colton Grant, diretora de investimentos da unidade BNY Wealth do Bank of New York Mellon, “mas entender que não é preciso chegar a esse ponto antes que comece, de fato, a ter impacto nas oportunidades de investimento”.
“Nas últimas quatro ou cinco décadas, estivemos em um ambiente operacional cada vez mais envolvido na globalização, definido como a livre movimentação de pessoas, bens, ideias e capital”, diz John O’Connor, CEO da JH Whitney Investment Management de Nova York. “E agora estamos revertendo tudo isso. A movimentação de pessoas, bens, ideias e capital é menos livre.”
JH Whitney é uma das mais antigas empresas de capital de risco. O fundador John Hay “Jock” Whitney, um membro da proeminente família Whitney, foi um embaixador americano no Reino Unido e o último proprietário do New York Herald Tribune. Um de seus negócios atuais envolve o uso de dados e análises para aconselhar governos, incluindo Japão e EUA, sobre preocupações geopolíticas. O poder crescente da China e a desglobalização são os principais temas da empresa hoje.
“Todas essas coisas que costumavam funcionar na globalização estão se revertendo rapidamente. E é por isso que você acaba tendo tarifas comerciais, barreiras comerciais onde a economia e a tecnologia são elementos do poder nacional que precisam ser gerenciados ativamente em oposição ao laissez-faire da mão invisível”, diz O’Connor.
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“Então é essa transição do monopolar para o multipolar. Você obtém o desacoplamento. E ao mesmo tempo há uma tentativa de fazer uma iniciativa global, como a descarbonização, que dá origem a um ambiente realmente complicado para ser um formulador de políticas no governo ou um gerador de lucro nos negócios ou mesmo um investidor.”