A inflação não está apenas prejudicando Joe Biden politicamente. Também está afetando as contas do presidente. Ele ganha um salário fixo de US$ 400 mil (R$ 2,17 milhões) por ano, que vale menos à medida que os preços aumentam. Dado a alta recente na inflação, o poder de compra do salário de Biden agora é 18% menor do que era quando ele assumiu o cargo, em 2021. E o pior ainda pode estar por vir: se a inflação continuar no ritmo atual, quem estiver no cargo até 2028 será, segundo estimativas da Forbes, o presidente mais mal pago da história dos Estados Unidos.
Para entender isso é preciso voltar ao fim do Século XVIII, quando os EUA não tinham presidente algum. Recém-libertados do Rei George III, os fundadores do país elaboraram uma Constituição que não colocaria o líder em um trono permanente, mas ainda assim o deixaria muito confortável. “O terceiro ingrediente para constituir o vigor da autoridade executiva”, escreveu Alexander Hamilton no Artigo nº 73, “é uma provisão adequada para seu sustento.”
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Assim, George Washington assumiu o cargo em 1789 com um salário anual no valor nominal de US$ 25 mil, equivalente a cerca de US$ 600 mil (R$ 3,25 milhões) nos valores atuais. O valor não mudou por quase cem anos, um período em que a deflação era tão comum quanto a inflação. Na maior parte dos tempo, os presidentes ganharam bem.
Uma exceção ocorreu durante a Guerra de 1812, quando os gastos com o conflito e um bloqueio britânico dos portos americanos fizeram os preços dispararem, reduzindo o valor anual do salário de James Madison para cerca de US$ 365 mil (R$ 1,98 milhão) . Abraham Lincoln teve os mesmos problemas. Para pagar a Guerra Civil, sua gestão imprimiu moeda como nunca, desvalorizando o dólar. O salário de Honest Abe caiu de US$ 850 mil (R$ 4,6 milhões) para US$ 500 mil (R$ 2,7 milhões) em 1865.
Oito anos após o fim da Guerra Civil, o ex-general Ulysses S. Grant assinou uma lei aumentando os salários do Congresso e dobrando o seu próprio para US$ 50 mil, ou US$ 1,3 milhão (R$ 7,05 milhões) nos dias de hoje. A medida, que ficou conhecida como “Lei do Aumento de Salários”, foi tão impopular que os congressistas revogaram a decisão depois. Mas o presidente não perdeu seu aumento.
O salário presidencial subiu novamente em 1909. William Howard Taft, que tomou posse naquele ano, foi o presidente mais bem pago da história. Ele ganhou US$ 2,5 milhões (R$ 13,55 milhões) em termos atuais. Seu sucessor, Woodrow Wilson, não teve tanta sorte. Em valores atuais, seu salário caiu para US$ 1,1 milhão (R$ 5,96 milhões) em 1920, graças à inflação causada, mais uma vez, pelos gastos militares com a Primeira Guerra Mundial.
A Grande Depressão fez os preços caírem em todo o país. Isso arruinou o legado político de Herbert Hoover, mas elevou seu salário. Os US$ 75 mil de Franklin Delano Roosevelt valiam bastante também. Cerca de US$ 1,3 milhão (R$ 7,05 milhões) quando ele morreu, em 1945.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a economia decolou e a inflação também, reduzindo o salário presidencial para menos de US$ 1 milhão (R$ 5,42 milhões) pela primeira vez em décadas. Harry Truman ainda se saiu bem, graças a um aumento em 1949 que elevou o salário presidencial para US$ 100 mil por ano, ou US$ 1 milhão hoje (R$ 5,42 milhões) e acrescentou uma verba de despesas de US$ 50 mil (R$ 270 mil). Truman, um fazendeiro do Missouri, posteriormente escreveu ao legislativo para agradecer pelo aumento e pedir o mesmo para os demais membros do poder executivo. “As melhores leis”, escreveu ele, “podem ser arruinadas por uma administração deficiente.”
O Congresso aumentou o salário nominal do presidente para US$ 200 mil (R$ 1,08 milhão) novamente em 1969, quando Richard Nixon entrou na Casa Branca. Seu vice-presidente Gerald Ford – que assumiu após a renúncia de Nixon em desgraça – e seu sucessor Jimmy Carter foram os últimos a ganhar mais de US$ 1 milhão (R$ 5,42 milhões) em termos atuais.
A estagflação do final dos anos 1970 deu um grande corte no salário real do presidente, e uma inflação relativamente baixa e constante desde então continuou a corroer o valor. Em 2001, Bill Clinton deixou o cargo pesadamente endividado com advogados pela batalha para evitar o impeachment. O salário de seu sucessor dobrou para US$ 400 mil, ou US$ 700 mil (R$ 3,79 milhões) em termos atuais.
Ninguém mexeu no salário presidencial desde então, e com a inflação acima da meta nos últimos anos, a compensação do próximo presidente parece destinada a continuar caindo até 2028 e a ficar abaixo do mínimo histórico de Clinton.
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Se Trump vencer este ano, parece improvável que ele eleve o próprio salário. Ele tem bilhões e costuma alardear como doou seu salário na primeira vez que serviu como presidente. Biden pode ver mais valor em um aumento de salário. O presidente, com um patrimônio líquido estimado em US$ 10 milhões (R$ 54,2 milhões), na maioria vinculado a imóveis pessoais, acessou uma linha de crédito com garantia hipotecária no ano passado para obter um pouco mais de dinheiro.