Os especialistas do mercado financeiro não estão em pânico, mas também não estão comprando. Os mercados de ações em todo o mundo despencaram na última segunda-feira (5), depois que investidores passaram um fim de semana ansiosos se preocupando com uma recessão nos Estados Unidos. Dados sobre o mercado de trabalho mostraram que o desemprego no país estava pior do que o esperado.
Porém, os investidores ainda não estão encarando o momento com muito entusiasmo, apesar das pechinchas nos preços. A queda de 3% do índice S&P 500, da Bolsa de Nova York, naquela segunda-feira, marcou seu pior desempenho diário desde setembro de 2022, e uma continuação de uma queda acentuada de três dias antes. Porém, no total, a queda de 8,5% do índice em relação à sua máxima histórica de três semanas atrás eliminou apenas os últimos três meses de ganhos.
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Ou seja, as 500 ações que fazem parte do S&P ainda acumulam, em conjunto, alta de 8,7% no ano até agora. Isso significa que as contas de investimentos da maioria dos investidores ainda não estão sofrendo muito. Mas também significa que os riscos com os quais os especialistas do mercado têm se preocupado durante grande parte do mercado em alta deste ano ainda estão sempre presentes.
“O mercado está acordando para o reconhecimento de que há um problema de três vias em Wall Street”, diz Jim Stack, fundador e presidente da InvesTech Research de Whitefish. “Esse problema é que Wall Street está supervalorizado, superinvestido e supercomplacente.”
Stack aponta para dados sobre indicadores de avaliação, como capitalização de mercado em relação ao PIB e múltiplos preço/lucro, que permanecem mais elevados do que as médias históricas, com os investidores já tendo uma porcentagem maior de seus ativos investidos em ações do que o normal.
Ao mesmo tempo, a confiança das famílias está oscilando sobre se o Federal Reserve pode continuar a conduzir a economia para um “pouso suave”. Esse problema abaixo da superfície preparou o cenário para o relatório de empregos da manhã da última sexta-feira (2), que revelou a taxa de desemprego em 4,3%, na quarta alta consecutiva Economistas previam uma taxa menor, de 4,1%, e o número cresceu de 3,7% desde o início do ano.
Isso desencadeou a chamada “Regra de Sahm”, que observa que se a taxa média de desemprego de três meses for pelo menos 0,5 ponto percentual maior do que a baixa de 12 meses nessa estatística, isso normalmente sinaliza uma recessão.
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Problemas sérios chegaram aos mercados internacionais na noite de domingo nos EUA, com o índice Nikkei 225 da Bolsa do Japão despencando 12% na segunda-feira de negociação (hora local), levando o S&P 500 a abrir em queda de mais de 4% no mesmo dia. No entanto, a queda não se transformou em uma Segunda-feira Negra mais severa.
“Como aconteceu no fim da semana, então os investidores tiveram tempo para colocarem ordens de venda, e por isso o mercado despencou daquele jeito”, diz Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA. “Mas é apenas mais um lembrete do velho ditado: nunca venda em uma segunda-feira.”
Stovall não está em pânico e cita outros indicadores econômicos encorajadores dos EUA. Entre eles, um relatório divulgado na manhã da mesma segunda-feira, informando que a atividade econômica no setor de serviços do país se expandiu em julho. No entanto, para ele, o dado ainda “não é corajoso o suficiente para querer comprar”. Segundo ele, o momento é mais para ficar parado e ver o que vem a seguir.
“Provavelmente precisaríamos ver o S&P ir para entre os 5.100 pontos e 4.900 pontos, antes que eu realmente sinta que fizemos penitência suficiente e que zeramos os mostradores”, ele diz — o índice terminou o dia em 5.186, e cair para 5 mil pontos representaria uma queda modesta de outros 3,6%. “No entanto, não acho que estamos caminhando para um mercado de baixa. Acho que esse mercado será uma boa compra em breve.”
A Marshfield Associates, que administra US$ 7,1 bilhões (R$ 39,8 bilhões) em ativos, também está mantendo sua pólvora seca. “A posição de caixa não está lá como uma almofada, está lá para comprar algo algum dia — só não chegamos a esse algum dia ainda”, diz Chris Niemczewski, diretor administrativo da Marshfield. “Para nós, parece apenas menos caro do que era antes, mas não é barato.”
No entanto, os investidores que desfrutam de taxas de juros acima de 5% em contas do mercado monetário provavelmente não conseguirão manter esse rendimento praticamente livre de risco por muito mais tempo. É amplamente esperado que o Fed comece a cortar as taxas de juros em sua reunião de setembro, concluindo um ciclo de aperto monetário de dois anos para domar a inflação. E taxas mais baixas em contas de investimentos podem mover mais capital para ações.
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Porém, o Fed tem uma tarefa delicada pela frente de reduzir as taxas de juros sem assustar os investidores e deixá-los ainda mais em pânico. “Um pouso suave não é garantido, e se for um pouso duro, pode acabar sendo mais difícil do que o previsto”, diz Stack, que continua pessimista quanto ao resto do ano. “Acho que há um desenrolar da complacência e da confiança que vai progredir ainda mais e levar o mercado para mais baixo e possivelmente significativamente mais baixo do que os investidores pensam.”