Terça-feira, 11 de setembro de 2001. Enquanto os nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e o ano de 2010, da chamada Geração Z, davam os primeiros passos da infância – ou sequer estavam nos planos de nascer – a cidade de Nova York amanhecia sob o caos.
O mundo assistia atônito ao choque de dois Boeing 767 contra as Torres Gêmeas, nas alas Norte e Sul, do complexo empresarial do World Trade Center. Naquele dia, o sino em Wall Street sequer tocou.
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Em São Paulo, o pregão da antiga Bovespa funcionou por 1 hora e 15 minutos. Ainda assim, foi o tempo suficiente para o Ibovespa cair mais de 9%. No dia seguinte, a bolsa brasileira amanheceu com queda de 10%.
Já as bolsas norte-americanas não funcionaram por outros três dias, até o fim daquela semana. Durante o período em que permaneceu fechada, o Federal Reserve injetou US$ 100 bilhões por dia no sistema financeiro, em uma tentativa de aumentar a liquidez.
Quando o maior centro financeiro voltou a ter pregão, na segunda-feira, 17 de setembro de 2001, o índice Dow Jones desabou mais de 7%, acumulando o dobro de perdas na semana. Já o S&P 500 perdeu US$ 1,4 trilhão, na época, em valor de mercado.
Foi a terceira vez na história que as bolsas de Nova York ficaram fechadas por um período prolongado. A primeira havia sido no início da Primeira Guerra Mundial. A outra, em março de 1933, durante o período da Grande Depressão.
11/9 x 14/9
Só que o crash de 1929 seria relembrado não no início daquela primeira década do novo milênio. Mas ao final.
Em um domingo, 14 de setembro de 2008, a história do centenário banco de investimentos Lehman Brothers chegava ao fim. Fundado em 1850, o então quarto maior banco norte-americano entrava com um pedido no Capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos ao anunciar um prejuízo de US$ 3,9 bilhões.
Horas antes, naquele dia, fracassara a última tentativa de socorro por parte de autoridades do Fed e de grandes instituições. Estavam presentes, de um lado, o então secretário do Tesouro Henry Paulson e o então presidente da unidade de Nova York do Fed Tim Geithner.
De outro, os CEOs de grandes bancos como Goldman Sachs, Morgan Stanley, JP Morgan e Citigroup. A notícia, até então inofensiva na tarde daquele domingo, desencadeou a maior crise financeira nos mercados globais desde a Grande Depressão, em 1929.
“O mercado acorda em pânico, porque já se sabia no domingo da noite anterior que o destino final do Lehman Brothers era aquele, não houve solução”, conta Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, sobre aquele fim de semana “agonizante”.
O estragou começou quando já era segunda-feira na Ásia, levando pânico nas bolsas de valores de todo o mundo. Na ocasião, o Ibovespa desabou exatos 7,59%. Foi, então, a maior queda desde os ataques às Torres Gêmeas.
Os principais índices acionários em Nova York também registraram a maior queda em um único dia desde 11 de setembro de 2001. Naquele 15 de setembro de 2008, o S&P 500 caiu 4,71%, o Dow Jones recuou 4,42% e o Nasdaq Composto cedeu 3,60%. Já as ações do Lehman Brothers despencaram 94,25% no pregão da Nyse.
Pouco tempo depois, aquelas instituições financeiras que estavam reunidas na tarde daquele domingo foram consideradas “grandes demais para falir”. O termo Too Big to Fail levou o Fed de Ben Bernanke a lançar sucessivos programas de afrouxamento quantitativo (QE) de trilhões de dólares.
Lições para a próxima geração
Enquanto nesta quarta-feira (11) o mundo relembra os 23 anos do ataque às Torres Gêmeas, é no próximo domingo (15), que o mercado financeiro recorda a quebra do Lehman Brothers 16 anos atrás, representando a maior falência da história dos EUA.
É impossível comparar, ou mesmo mensurar, o impacto de ambos os episódios de setembro dos anos 2000 sob vários aspectos.
Seja como for, é possível ter grandes ensinamentos sobre esses dois eventos. “Tanto em relação ao passado, quanto para o presente e para o futuro”, diz Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.
“Eu poderia falar sobre Torres Gêmeas e toda a questão de terrorismo e por aí vai. Ou então falar da crise do subprime, com os EUA emprestando sem limite e os bancos sem nenhum tipo de proteção”, conta. “Mas é mais legal falar sobre o aprendizado.”
Afinal, esses eventos tiveram grandes impactos na vida das pessoas, cada um da sua forma. Mas o que esses eventos podem trazer de aprendizado?
“Na minha opinião, o principal ensinamento é a gente saber que mesmo que o investimento seja de longo prazo, ninguém está imune a solavancos como esses”, diz o analista. Ou seja, a qualquer momento pode acontecer um Cisne Negro.
O termo é utilizado no mercado financeiro para se referir a eventos imprevisíveis, com grande impacto nos preços dos ativos e um potencial transformador do cenário econômico.
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Na coleção desse animal raro, que às vezes sobrevoa por aí no decorrer deste século 21, o último grande abalo ocorreu em março de 2020, no início da pandemia de covid-19.
Cohen lembra que, assim como na crise de 29, ninguém havia passado por uma pandemia. “Então, o que o mercado ensina para a gente é que a euforia sempre antecede o momento de pânico. E o ser humano precisa aprender isso.”