O Federal Open Market Committee (Fomc), o Copom americano, reduziu os juros referenciais dos Estados Unidos em 0,5 ponto percentual. Com isso, a taxa dos FED Funds, equivalente americano da Selic, recuaram para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Foi o primeiro corte dos juros desde o início da pandemia da Covid-19. O movimento do banco central americano visou evitar uma desaceleração muito acelerada no mercado de trabalho dos Estados Unidos.
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“O Comitê adquiriu maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%, e avalia que os riscos para alcançar suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados”, afirmou o Comunicado divulgado após a reunião. A decisão de flexibilizar foi tomada “à luz do progresso na inflação e do equilíbrio de riscos.” A votação foi de 11 a 1, com a governadora Michelle Bowman preferindo um corte menor, de 0,25 ponto percentual.
Além dessa redução, o Fomc indicou, por meio do levantamento oficial junto aos participantes, a probabilidade de um corte de mais meio ponto percentual até o fim deste ano, em linha com as expectativas do mercado.
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Estado da economia
Ao avaliar o estado da economia, o Fomc julgou que “os ganhos de empregos desaceleraram e a taxa de desemprego aumentou, mas permanece baixa.” A projeção do Comitê para a taxa de desemprego deste ano subiu para 4,4% ante os 4,0% previstos em junho. A projeção de inflação caiu para 2,3%, ante os 2,6% anteriores. Em relação à inflação subjacente, o comitê reduziu sua projeção para 2,6%, uma diminuição de 0,2 ponto percentual em relação a junho.
O Produto Interno Bruto (PIB) americano vem crescendo e as projeções são de uma expansão de 3% no terceiro trimestre, com base na força contínua do consumo. No entanto, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (FED), o banco central americano, afirmou em declarações recentes estar preocupado com o mercado de trabalho. Embora as demissões não tenham crescido, as contratações desaceleraram significativamente. A edição mais recente do “nonfarm payroll”, referente a agosto, mostrou a abertura de 142 mil vagas no mês passado, abaixo das 160 mil esperadas.
Cortes em 2025 e 2026
O Fomc também divulgou o chamado “gráfico de pontos” ou matriz das expectativas dos membros do Comitê. A pesquisa indicou a probabilidade de um corte de um ponto percentual nos juros até o fim de 2025 e de mais meio ponto em 2026. Com isso, pelo menos neste momento, a projeção é de uma queda de 2 pontos percentuais além do movimento desta quarta-feira. Se esse movimento for confirmado, a “taxa terminal” de juros dos Estados Unidos será de 2,75% a 3,00% ao ano.
Pelo menos por enquanto, o movimento ajuda a resolver um debate sobre quão agressivo o Fed deveria ter sido ao iniciar o processo de afrouxamento da política monetária. No entanto, isso abre questões sobre até onde o banco central deve ir antes de parar de cortar. Houve uma ampla divergência entre os membros sobre onde eles veem as taxas no futuro.
A decisão afeta vários produtos de consumo, como hipotecas, empréstimos automotivos e cartões de crédito.
Impacto no mercado
A decisão surpreendeu o mercado, mas não muito. Fora dos cortes emergenciais de taxa durante a Covid, a última vez que o Fomc havia realizado um corte tão intenso foi em 2008, durante a crise financeira global provocada pelo colapso dos empréstimos subprime.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a decisão é uma sinalização positiva para a economia global e tende a ter impacto positivo para os mercados emergentes, principalmente no comportamento da taxa de câmbio. “Ao longo dos últimos dias o real já se apreciou um pouco em decorrência da expectativa com o corte de juros e a confirmação de um corte maior pode dar impulso adicional para a melhora na nossa moeda”, disse ela.
Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o corte pode ter como efeito imediato uma maior disponibilidade de liquidez, incentivando investimentos em ativos de risco. “Após um ciclo de taxas de juros elevadas, a economia dos Estados Unidos pode voltar a um período de expansão, com maior estímulo ao consumo e aos investimentos”, disse ele. Lima advertiu, porém, que alguns mercados emergentes podem acabar sentindo o impacto de um ajuste quanto a fluxo de capital para os EUA, resultando em pressões inflacionárias e desvalorização cambial.