Pela primeira vez desde março de 2021, a taxa referencial Selic volta a entrar em ciclo de alta. Em decisão divulgada na noite desta quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) informou um aumento de 0,25 ponto percentual. Agora, a taxa básica de juros é de 10,75% ao ano.
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A decisão vai em linha com as expectativas do mercado — por mais que houvesse economistas que vissem uma oportunidade para um aumento mais agressivo, de 0,5 pp. A divisão não se refletiu na votação dos membros do Copom: todos os diretores votaram pela alta de 0,25 pp.
“O Copom decidiu, por unanimidade, […] e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, explica a autarquia no comunicado.
Com relação ao futuro, o BC não deixou pistas sobre quais serão os próximos passos. De acordo com o documento, o ritmo de ajustes e a magnitude total do ciclo de alta serão ditados pelo efeito da política monetária nos dados econômicos e na convergência das expectativas da inflação em direção à meta.
Atualmente, o Relatório Focus, composto por estimativas do mercado financeiro, apontam para uma Selic de 11,25% ao fim de 2024. A estimativa para a inflação é de 4,35% a.a.
O pico do último ciclo de alta foi em 13,75% aa, valor que perdurou de agosto de 2022 até junho de 2023, quando o BC optou por iniciar a redução da Selic. A taxa estava estacionada em 10,5% desde maio deste ano.
Na última vez em que o Banco Central elevou os juros, em 2021, a Selic se encontrava em sua mínima histórica de 2% ao ano. Na época, os juros baixos foram adotados para estimular a economia durante a pandemia. O BC brasileiro foi um dos primeiros a voltar a elevar juros para conter o efeito inflacionário no pós covid-19.
Os desafios do Copom para a Selic
Segundo o Comitê, tudo aponta para um cenário que pode retroalimentar a inflação. Há várias razões para isso.
A primeira delas é a desancoragem das expectativas de inflação por um longo período, observada no relatório Focus. Além disso, a alta dos preços no setor de serviços se mantém resiliente mesmo após a paralisação no ciclo de cortes da Selic.
Os diretores do BC também apontam para fatores externos que também possuem impacto inflacionário, como o real depreciado frente ao real.
“O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista”, informou o Copom.
Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, o Copom corrigiu o erro adotado na decisão de julho, em que o comitê considerou uma estimativa mais benigna do que as estimativas do segundo trimestre já mostravam.
O que pensa o mercado?
Para Leonardo Costa, economista da gestora Asa, o comunicado do Copom mostrou um tom duro, com o reconhecimento de todos os riscos que justificam a retomada do ciclo de alta. “Ao não se comprometer com o ritmo de aumento de juro das próximas reuniões, ele se coloca dependente dos próximos dados de inflação, especialmente das medidas de núcleo (atualmente em patamar bastante elevado). Apostamos em mais duas altas de 0,5 pp nas reuniões de novembro e de dezembro, encerrando o ciclo em 12% em janeiro de 2025.”
Os agentes do mercado financeiro precisam associar dois cenários para calcular os impactos da decisão amanhã — o que disse o Copom e a decisão de juros nos Estados Unidos, divulgada no meio da tarde.
Lá fora, o BC americano surpreendeu com um corte de 0,5 pp, deixando os juros básicos na faixa entre 4,75% e 5,00%. Com isso, a tendência é de uma maior liquidez que pode não só beneficiar a bolsa americana como também os países emergentes
“A alta dos juros aqui no Brasil somada à queda dos juros nos EUA faz com que o diferencial de juros (carry trade) aumente e isso, em tese, é positivo para o câmbio. Lembrando novamente que grande parte desse movimento já havia sido antecipado pelo mercado, de forma que o impacto amanhã poderá ser reduzido”, aponta Cristiane Quartaroli, economista chefe do Ouribank.
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Se na bolsa a tendência é de um impacto reduzido, o mesmo não se pode dizer do câmbio. “O ingresso de dólares no Brasil pode derrubar o câmbio nas próximas semanas. Isso já ocorreu em parte. Nos últimos cinco pregões, o dólar recuou de R$ 5,68 para R$ 5,46, algo normal e esperado, pela maior oferta e mesma demanda”, explica Felipe Sant’ Anna especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk.