O Ibovespa operava em leve baixa nesta sexta-feira (4), refletindo as persistentes preocupações com o cenário fiscal no Brasil, ao mesmo tempo em que dados mais fortes do mercado de trabalho dos EUA reforçavam a expectativa de que o Federal Reserve deve desacelerar o ritmo de cortes nos juros.
Às 10h30, o índice recuava 0,29%, para 131.295,36 pontos. O contrato futuro do Ibovespa com vencimento mais curto, em 16 de outubro, cedia 0,16%.O dólar à vista subia 0,07%, a R$ 5,4752 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,63%, a R$ 5,529 na venda.
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Com uma agenda macroeconômica esvaziada no Brasil, as atenções dos investidores locais se voltavam para o cenário internacional, especialmente o relatório de emprego dos EUA para setembro e os temores de uma escalada no conflito no Oriente Médio.
O Departamento de Trabalho dos EUA informou que os empregadores criaram 254 mil novos postos de trabalho em setembro, superando as 159 mil vagas de agosto e as expectativas de 140 mil empregos projetadas por economistas consultados pela Reuters.
A taxa de desemprego nos EUA também recuou para 4,1%, ante 4,2% no mês anterior, surpreendendo positivamente os mercados.
O resultado reforça a percepção de que o mercado de trabalho norte-americano não está enfraquecendo de forma significativa, mas passando por um esfriamento moderado, o que sugere que o Federal Reserve não precisará adotar um afrouxamento monetário agressivo. No mês passado, o Fed iniciou um ciclo de corte de juros com uma redução de 50 pontos-base, o que indicou um compromisso de equilibrar o mercado de trabalho sem deixar de controlar a inflação.
Com os dados divulgados, as apostas de um novo corte de 25 pontos-base na reunião de novembro subiram para 91%, contra 67% antes dos números serem revelados, cenário que fortalece o dólar, que havia acumulado perdas em meio às expectativas de cortes mais intensos nos juros.
“O relatório de emprego dos EUA divulgado hoje surpreendeu a todos. Embora os dados divulgados ao longo da semana já indicassem um mercado de trabalho apertado, não havia garantia de que observaríamos um número tão forte como o de hoje”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
No cenário externo, os temores de um conflito mais amplo no Oriente Médio continuavam a gerar aversão ao risco. A região permanece em alerta após o Irã ter lançado mísseis balísticos contra Israel na última terça-feira. EUA e Israel prometeram retaliação, aumentando a incerteza sobre os possíveis efeitos desse conflito na economia global, especialmente no que diz respeito à oferta de petróleo.
No Brasil, a reação ao relatório norte-americano tem um efeito particular, pois pode reduzir as expectativas de aumento do diferencial de juros entre Brasil e EUA nos próximos meses. Essa dinâmica vinha favorecendo o real em sessões recentes, em meio a um aperto monetário local conduzido pelo Banco Central.
Além disso, as preocupações fiscais continuam no radar, com dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta de déficit primário zero neste ano, o que tem esfriado o apetite por ativos brasileiros.