A pessoa mais rica do mundo é, agora, possivelmente a mais poderosa também.
Um ex-democrata e um sul-africano que chegou aos Estados Unidos pelo Canadá, como estudante universitário, Musk tornou-se um grande apoiador de Donald Trump na corrida eleitoral de 2024, participando de comícios e doando US$ 119 milhões (R$ 678,3 milhões) para ajudá-lo a retornar à Casa Branca. E esse pode ter sido ter sido o melhor investimento de sua vida.
Em seu discurso de vitória, Trump chamou Musk de gênio, o convidou para seu círculo íntimo em Mar-a-Lago e até o incluiu em uma foto com a família Trump. Uma semana após a eleição, Trump nomeou Musk como co-presidente de um novo grupo consultivo, o Departamento de Eficiência Governamental (“DOGE”, na sigla em inglês), encarregado de reduzir desperdícios e regulamentações excessivas no governo federal.
Há possíveis conflitos de interesse significativos em jogo, dado os vínculos das empresas de Musk com o governo. A SpaceX, liderada por Musk, fechou contratos no valor de quase US$ 20 bilhões (R$ 114 bilhões) com a NASA e o Departamento de Defesa desde 2008. A Tesla, também liderada por Musk, enfrentou investigações da Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário devido à segurança do piloto automático e dos recursos de “direção totalmente autônoma”, com pelo menos 30 vítimas fatais desde 2018. Já o X (antigo Twitter) está sujeito à regulação da Comissão Federal de Comunicações (FCC).
“Há algo como 428 agências federais… Eu chamo isso de estrangulamento por regulamentação excessiva… Acho que uma fogueira de regulamentações sem sentido seria épica”, disse Elon Musk em um comício para Donald Trump em Folsom, Pensilvânia, em outubro de 2024.
Enquanto isso, os investidores parecem aprovar essas conexões: as ações da Tesla dispararam nas semanas após a eleição, ajudando a elevar a fortuna de Musk em US$ 70 bilhões (R$ 399 bilhões), atingindo o recorde de US$ 334 bilhões (R$ 1,9 trilhão) na sexta-feira, 22 de novembro. Em 8 de novembro, Musk ultrapassou a marca de US$ 300 bilhões (R$ 1,71 trilhão) pela primeira vez desde abril de 2022. Ele já havia se tornado a primeira pessoa na história com uma fortuna de pelo menos US$ 300 bilhões em novembro de 2021.
Veja a divisão do patrimônio de Musk:
Tesla: US$ 195 bilhões (R$ 1,11 trilhão)
Musk possui cerca de 12% da Tesla, mas já comprometeu mais da metade de suas ações como garantia para empréstimos pessoais de até US$ 3,5 bilhões (R$ 19,95 bilhões). No início de 2024, um juiz de Delaware anulou o acordo de 2018 de Musk para receber o equivalente a mais 9% da Tesla. A Forbes descontou 50% do valor dessas opções enquanto aguarda o recurso de Musk.
Desde 2020, a Tesla gerou US$ 8,7 bilhões (R$ 49,59 bilhões) em receita com a venda de créditos de veículos elétricos estaduais e federais para outros fabricantes de automóveis, representando 12% de seu lucro bruto. Em 2018, a SEC acusou Musk de fraude de valores mobiliários por uma “série de tweets falsos e enganosos” sobre a possibilidade de tornar a Tesla uma empresa privada.
Um acordo entre a SEC, Musk e a Tesla resultou no pagamento de uma multa de US$ 40 milhões (R$ 228 milhões), na remoção de Musk como presidente do conselho da Tesla e na exigência de aprovação prévia de seus tweets por advogados da empresa. Apesar disso, Musk continua a provocar a SEC com piadas, como em um post na X, em 23 de novembro, que dizia: “SEC. A palavra do meio é definitivamente ‘Elon’s’, mas nunca consigo lembrar quais são as outras duas palavras.”
SpaceX: US$ 89 bilhões (R$ 507,3 bilhões)
A Forbes estima que Musk possui 42% da empresa de foguetes reutilizáveis, avaliada em quase US$ 210 bilhões (R$ 1,2 trilhão) com base em uma oferta secundária de ações lançada no segundo semestre de 2024. A SpaceX está supostamente se preparando para uma nova oferta em dezembro de 2024, que pode elevar o valor da empresa a mais de US$ 250 bilhões (R$ 1,425 trilhão) e a participação de Musk para mais de US$ 105 bilhões (R$ 598,5 bilhões).
O indicado por Trump para liderar a FCC criticou a decisão de 2022 da comissão de negar à Starlink, serviço de internet via satélite da SpaceX, quase US$ 900 milhões (R$ 5,13 bilhões) em subsídios para banda larga rural, mas indicou que a decisão dificilmente será revista.
X.AI: US$ 27 bilhões (R$ 153,9 bilhões)
Musk detém uma participação estimada de 54% na startup de inteligência artificial X.AI, fundada por ele em 2023. A empresa lançou o chatbot Grok, disponível para assinantes premium do X, em novembro de 2023.
Em novembro de 2024, a X.AI teria levantado US$ 5 bilhões (R$ 28,5 bilhões) de investidores privados, com uma avaliação de US$ 50 bilhões (R$ 285 bilhões). Isso seguiu uma rodada de arrecadação de US$ 6 bilhões (R$ 34,2 bilhões) em maio de 2024, quando a empresa foi avaliada em US$ 24 bilhões (R$ 136,8 bilhões). As receitas da X.AI teriam alcançado US$ 100 milhões (R$ 570 milhões) de forma anualizada.
X (antigo Twitter): US$ 6,7 bilhões (R$ 38,19 bilhões),
Musk renomeou o Twitter para X no final de julho de 2023, menos de um ano após adquirir a rede social por US$ 44 bilhões (R$ 250,8 bilhões), incluindo US$ 13 bilhões (R$ 74,1 bilhões) de dívida incorporada ao balanço da empresa.
Hoje, a empresa vale apenas US$ 9 bilhões (R$ 51,3 bilhões), líquidos da dívida, segundo a Forbes. Para avaliar a participação de Musk, a Forbes utilizou a avaliação pública da Fidelity, que registrou uma queda de 71% entre outubro de 2022 e junho de 2024. Musk detém cerca de 74% da empresa, com base nos compromissos de capital de outros investidores divulgados à SEC. Apesar do prejuízo financeiro, a aquisição lhe deu algo ainda mais valioso: o controle de uma poderosa plataforma global, onde tem 206 milhões de seguidores.
Ativos líquidos e outros investimentos: US$ 6 bilhões (R$ 34,2 bilhões)
Musk vendeu US$ 23 bilhões (R$ 131,1 bilhões) em ações da Tesla durante 2022, provavelmente para financiar parte da aquisição do Twitter. Ele não vendeu mais ações da fabricante de veículos elétricos desde então. A estimativa da Forbes para o dinheiro e os investimentos líquidos de Musk desconta os US$ 3,5 bilhões (R$ 19,95 bilhões) de sua dívida, garantida por ações da Tesla.
Boring Company: US$ 5,7 bilhões (R$ 32,49 bilhões)
A Forbes estima que Musk possui 69% da startup de infraestrutura fundada em 2016, que constrói túneis subterrâneos. Musk teria tido a ideia enquanto enfrentava trânsito em Los Angeles. Em Las Vegas, a empresa construiu um circuito de 2,7 km para o centro de convenções da cidade. Em 2021, assinou um contrato para um circuito maior, de 46,7 km, com 51 estações conectando o aeroporto, a Strip e outros locais. Em maio de 2023, o projeto foi expandido para incluir mais 40 km e 18 estações, mas, até agora, apenas o circuito inicial está operacional. A empresa tem uma avaliação estimada de US$ 8,3 bilhões (R$ 47,31 bilhões), com base em negociações privadas de suas ações.
Neuralink: US$ 5 bilhões (R$ 28,5 bilhões)
Musk detém uma participação estimada de 69% na Neuralink, startup avaliada em US$ 7,2 bilhões (R$ 41,04 bilhões) com base em negociações privadas de ações. A empresa desenvolve interfaces cérebro-computador implantáveis e afirma estar focada em atender pessoas com tetraplegia, permitindo que controlem computadores e dispositivos móveis com seus pensamentos.
A FDA aprovou um teste humano para o primeiro dispositivo em 2023. Em agosto de 2024, a Neuralink anunciou que o segundo participante do teste recebeu o implante, que aprimorou sua capacidade anterior de jogar videogames usando um joystick operado com a boca.
Filantropia
A Forbes estima que Musk, que assinou o Giving Pledge em 2012, doou US$ 406 milhões (R$ 2,3 bilhões) ao longo de sua vida para causas beneficentes, através de sua fundação e outros veículos filantrópicos. Esse valor representa menos de 1% de sua fortuna, em 22 de novembro de 2024. Não estão incluídos: US$ 7,9 bilhões (R$ 45 bilhões) em ações da Tesla que Musk transferiu para a Musk Foundation em 2021 e 2022. Para calcular as doações filantrópicas, a Forbes considera os fundos pagos pela fundação filantrópica privada de um bilionário, e não o valor que é investido na fundação.
Veja as maiores doações de Musk:
US$ 100 milhões (R$ 570 milhões)
Para financiar uma nova escola primária e secundária focada em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e, eventualmente, uma universidade em Austin, Texas, em 2022.
US$ 55 milhões (R$ 315 milhões)
Para o St. Jude’s Children’s Research Hospital, em setembro de 2021, para pesquisa sobre o câncer.
US$ 50 milhões (R$ 285 milhões)
Para financiar a competição XPRIZE Carbon Removal (Musk prometeu um total de US$ 100 milhões ( R$ 570 milhões) em fevereiro de 2021).
US$ 30 milhões (R$ 171 milhões)
Para escolas públicas e organizações sem fins lucrativos no Vale do Rio Grande, no Texas, onde a SpaceX constrói foguetes, anunciado em março de 2021.
US$ 10 milhões (R$ 57 milhões)
Para a Universidade do Texas, em dezembro de 2021, para “pesquisa populacional” (Musk twittou em julho de 2021 que “o colapso populacional é potencialmente o maior risco para o futuro da civilização”).
US$ 10 milhões (R$ 57 milhões)
Em 2016 para a YC Org, o veículo de financiamento da OpenAI, uma organização sem fins lucrativos cofundada por Musk e pelo fundador da Y Combinator, Sam Altman, com o objetivo de “avançar a inteligência digital da maneira que mais provavelmente beneficiará a humanidade como um todo.”
Musk deixou o conselho da organização em 2018 para evitar conflitos de interesse à medida que a Tesla se tornava mais focada em IA.
Confira a trajetória do bilionário:
1980: Quando era criança em seu país de origem, na África do Sul, Musk aprendeu sozinho a programar. Aos 12 anos, ele vendeu seu primeiro software — um jogo espacial chamado Blastar — por US$ 500 (R$ 2,9 mil).
1988: Ele imigrou para o Canadá pouco antes de completar 18 anos e trabalhou em diversos empregos temporários, incluindo na limpeza da sala de caldeiras de uma serraria. Depois, ele se matriculou na Queen’s University, em Ontário, e se transferiu para a Universidade da Pensilvânia, onde obteve um diploma de bacharel em economia.
1999: Quatro anos após Musk fundar a empresa de software Zip2 com seu irmão Kimbal, a companhia foi vendida para a Compaq em 1999, por mais de US$ 300 milhões (R$ 1,75 bilhão).
2000: Musk fundiu um banco online que cofundou, o X.com, com um concorrente criado em parceria por Peter Thiel, formando o PayPal, que foi adquirido pelo eBay em 2002 por US$ 1,4 bilhão (R$ 8,18 bilhões). Musk se casou em janeiro de 2000 com Justine Wilson, uma escritora e estudante que ele conheceu na Queen’s University. O primeiro filho do casal, um menino chamado Nevada, faleceu aos 10 semanas devido à Síndrome da Morte Súbita Infantil.
2002: Musk fundou a SpaceX em 2002, em El Segundo, Califórnia, não muito longe do aeroporto de Los Angeles.
2004: Ele entrou na Tesla como investidor e presidente um ano após a fundação da empresa por Martin Eberhard e Marc Tarpenning; posteriormente, recebeu o título de cofundador da companhia.
2008: Musk entrou com um pedido de divórcio de Justine, com quem tem cinco filhos — gêmeos e trigêmeos. Em outubro de 2008, em meio à crise financeira, ele assumiu o cargo de CEO da Tesla. No mesmo ano, a SpaceX lançou o primeiro foguete desenvolvido por uma empresa privada a entrar em órbita. Desde então, Musk adotou o título de “Technoking” na Tesla.
2010: A Tesla abriu seu capital na Nasdaq em junho, com as ações fechando a um valor de US$ 1,59 (R$ 9,29) no primeiro dia de negociações. A empresa registrou US$ 117 milhões (R$ 683,28 milhões) em receitas naquele ano.
2012-2014: Musk estreou na lista de bilionários da Forbes em março de 2012, ocupando a 634ª posição no ranking mundial, com um patrimônio líquido de US$ 2 bilhões (R$ 11,68 bilhões). Na mesma época, a SpaceX, avaliada em US$ 1,8 bilhão (R$ 10,51 bilhões), enviou a primeira espaçonave privada à Estação Espacial Internacional, em maio. No mesmo ano, Musk se divorciou de sua segunda esposa, a atriz Talulah Riley. O casal se casou novamente 18 meses depois, em julho de 2013. No entanto, Musk entrou com o pedido de divórcio pela segunda vez em 31 de dezembro de 2014. O casal não teve filhos juntos.
2015: A Tesla lançou seu SUV crossover Model X.
2016: A Tesla adquiriu a SolarCity, uma instaladora de painéis solares, apoiada por Musk e fundada por seus primos.
2018: Em agosto, Musk tuitou sobre a possibilidade de tornar a Tesla uma empresa privada, o que fez as ações dispararem e levou a um acordo com a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), que agora exige que seus advogados pré-aprovem seus tweets. Nessa época, Musk foi amplamente criticado pelos seus comentários polêmicos e por fumar maconha no podcast Joe Rogan Experience. Em 2018 foi processado pela SEC por seu tweet “funding secured” e deixou o cargo de presidente da Tesla.
2021: Em maio, Musk revelou ao público que possui a síndrome de Asperger. Dois meses depois, a SpaceX lançou a primeira tripulação totalmente civil em órbita, enquanto Musk ultrapassava Jeff Bezos, da Amazon, como a pessoa mais rica do mundo, sendo a terceira na história a ter um patrimônio superior a US$ 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão).
As ações da Tesla atingiram o pico no início de novembro, após a Hertz anunciar uma grande demanda de Teslas, fazendo Musk se tornar brevemente a primeira pessoa a ter mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,7 bilhões). Dias depois, Musk começou a vender US$ 16 bilhões (R$ 93 bilhões) em ações da Tesla ao longo de dois meses, resultando na maior fatura fiscal anual já registrada por uma pessoa.
Ainda, Musk teve filhos gêmeos em segredo com uma executiva de sua startup de implantes cerebrais, a Neuralink. Em 2021, Musk se separou de sua namorada, a cantora de alt-pop Grimes, com quem tem três filhos — o filho X Æ A-12, nascido em 2020, a filha Exa Dark Siderael, nascida em 2021, e o filho Tau Techno Mechanicus, nascido por barriga de aluguel em junho de 2022.
2022: Nesse ano, Musk ocupou a 1ª posição na lista de bilionários da Forbes em abril e lançou uma oferta de aquisição de US$ 44 bilhões para o Twitter, após revelar uma participação de 9% na empresa e inicialmente aceitar um assento no conselho.
O Twitter concordou em vender a companhia para Musk em 25 de abril. No entanto, o bilionário hesitou com o acordo por meses. Dessa forma, a rede social processou Musk para forçá-lo a concluir a compra, e ele acabou adquirindo a empresa no final de outubro.
Musk possui uma estimativa de 74% do Twitter; outros investidores incluem o príncipe saudita Alwaleed bin Talal, o cofundador e ex-CEO do Twitter Jack Dorsey e a empresa de criptomoedas Binance.
2023: A queda no valor das ações da Tesla fez com que Musk caísse da posição de pessoa mais rica do mundo para a segunda posição na lista de bilionários do Forbes de 2023, em abril. No entanto, ele recuperou o título de pessoa mais rica do mundo em junho de 2023, com a recuperação sustentada no preço das ações da Tesla.
No Twitter, Musk demitiu quase 75% dos funcionários da empresa de mídia social após adquiri-la em outubro de 2022. Em julho, Musk mudou o nome da empresa para X.
2024: Musk começou o ano perdendo o título de pessoa mais rica do mundo para o magnata francês de bens de luxo Bernard Arnault, após um juiz de Delaware anular o acordo de 2018 de Musk para receber opções de ações equivalentes a uma participação de 9% na Tesla.
Em maio, Musk recuperou o título de mais rico do mundo, ultrapassando Arnault, quando investidores privados avaliaram sua startup de inteligência artificial, a xAI, em US$ 24 bilhões (R$ 140 bilhões). À medida que o valor dos ativos de Musk subia, a diferença entre ele e Larry Ellison, a segunda pessoa mais rica do mundo no final de novembro, aumentava para US$ 100 bilhões (R$ 583 bilhões).
Seu grande apoio a candidatura de Donald Trump, levou o presidente reeleito a nomear Musk e o ex-candidato republicano, Vivek Ramaswamy, como co-líderes de um novo comitê consultivo, o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Como Musk não será um funcionário do governo federal, ele não precisará vender nenhum de seus ativos, como é exigido para a maioria dos trabalhadores do governo que têm negócios. A expectativa é grande para ver o que o DOGE realizará.
Além disso, em 22 de novembro, o patrimônio líquido de Musk atingiu um recorde histórico de US$ 334 bilhões (R$ 1,95 trilhão).