Numa semana marcada pela reeleição de Donald Trump à presidência dos EUA em termos globais, foi o cenário doméstico quem deu as cartas nos mercados brasileiros. A incerteza quanto à reforma fiscal, as pressões inflacionárias e a postura cautelosa do BC quanto à taxa básica de juros fizeram preço por aqui — e, como resultado, tivemos dólar e Ibovespa voláteis.
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No câmbio, o dólar à vista fechou a sessão desta sexta-feira (8) em alta de 1,09%, aos R$ 5,7376, mas, na semana, acumulou queda de 2,25%. A recondução de Trump à Casa Branca trouxe pressão à divisa americana, que encostou em R$ 5,85 na quarta-feira (6). Mas, no curtíssimo prazo, as questões macroeconômicas domésticas se sobressaem no mercado de moedas.
O vaivém das notícias quanto ao pacote de ajuste fiscal tem influenciado quase que de imediato as negociações de câmbio. Na mesma quarta-feira, o rali do dólar foi apagado com notícias de que a tão aguardada revisão nos gastos do governo estava próxima de ser divulgada.
E assim foi no restante dos dias: sinais de que o pacote estava quase finalizado traziam alívio à cotação do dólar, enquanto indícios de que as discussões no núcleo duro do governo persistem faziam a moeda americana saltar. A semana acabou, mas nada de novo no front fiscal.
Ainda assim, o câmbio mostra-se mais calmo — apesar de o pacote em si não ter sido apresentado, notícias de que o Ministério da Fazenda e as demais pastas do governo estariam de acordo com a necessidade de corte de gastos trazem a percepção de que as discussões avançam de modo firme.
Pressão inflacionária
Isso não quer dizer que o mercado esteja tranquilo quanto ao que está por vir. Afinal, o resultado do IPCA em outubro, com alta de 0,56%, colocou mais pressão sobre o pacote fiscal.
Com o dado divulgado nesta manhã, o IPCA acumulado em 12 meses chegou ao patamar de 4,76%, acima do teto da meta para 2024, de 4,50%. Com a inflação fora do ideal, o Banco Central pode se ver instigado a aumentar mais os juros.
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E, como deixado claro no comunicado da decisão do Copom desta semana, em que o BC elevou a Selic ao nível de 11,25% ao ano, uma trajetória fiscal crível é fundamental para conter a inflação — e, assim, evitar uma disparada da taxa básica de juros.
Diferencial de juros
Outro fator que afeta o mercado de câmbio e ajuda a trazer algum alívio à cotação do dólar é o chamado diferencial de juros. Basicamente, trata-se da diferença entre as taxas praticadas no país e nos EUA.
Por aqui, o Copom elevou os juros de 10,75% para 11,25% mas, nos EUA, o Fed cortou as taxas na quinta-feira (7), para a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano. Ou seja, o diferencial aumentou nesta semana.
Isso, em tese, gera um fluxo de investimentos externos para o mercado brasileiro, dado o rendimento implícito maior de uma aplicação por aqui. É preciso colocar na conta o risco Brasil, já que, mesmo com juros altos, muitos investidores não querem correr o risco de colocar dinheiro no país. Ainda assim, em termos técnicos, é de se esperar que mais dólares entrem no nosso mercado, ajudando a conter o câmbio.
Bolsa em queda
Todo esse cenário também trouxe volatilidade à bolsa: o Ibovespa fechou a sessão desta sexta em queda de 1,43%, aos 127.829 pontos. Na semana, o recuo foi de 0,23%, longe dos ganhos recordes vistos nas bolsas americanas.
Uma Selic mais alta, em geral, tira atratividade dos investimentos em renda variável, como o mercado de ações, e atrai os investidores para a renda fixa. Além disso, o noticiário do pacote fiscal também faz preço por mexer com as percepções do investidor como um todo.
Na bolsa, a temporada de balanços do terceiro trimestre é outro fator importante. Nesta sexta, por exemplo, as ações PN da Petrobras (PETR4) subiram 1,89%, enquanto os papéis ON (PETR3) avançaram 1,82%. A estatal viu seu lucro líquido crescer 22% no período em um ano, a R$ 32,6 bilhões, e anunciou o pagamento de R$ 17,12 bilhões em dividendos.