Menos de dez dias depois do Morgan Stanley rebaixar a sua recomendação para as ações brasileiras para venda, o JP Morgan também mostra cautela com os ativos locais.
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (26), o banco americano aponta que prefere dar “o benefício da dúvida” às ações mexicanas no cenário atual. Com isso, o JP Morgan alterou a sua visão estratégica para o Brasil de “compra” para “neutro”.
O banco aponta que, como um todo, o mercado acionário da América Latina teve um desempenho pior do que o esperado. A região tem o pior desempenho global, com Brasil e México na lanterna da tabela. As bolsas recuam 22% e 28%, respectivamente.
Embora enxerguem os preços baixos como atrativos, os analistas apontam que a preferência, no momento, é por ativos mexicanos com base em três fatores: o cenário global favorece o México, o Brasil está aumentando as taxas de juros, enquanto o México está reduzindo e o novo governo mexicano ainda precisa mostrar a que veio
Por que o México está mais forte?
A primeira razão para a mudança na leitura do cenário está na perspectiva de que os Estados Unidos deverão desacelerar a sua economia menos do que a China. O gigante asiático é um dos principais consumidores de diversas commodities brasileiras. Ou seja, uma China mais fraca é má notícia para o Brasil.
Apesar de Donald Trump adotar um discurso protecionista, ameaçando colocar tarifas de importação para os produtos mexicanos, o JP Morgan vê um baixo risco para a adoção de uma tarifa ampla para o país.
Além disso, a política monetária de Brasil e México seguem em sinais opostos. Enquanto o BC brasileiro deve seguir elevando os juros acima da casa dos 12% ao ano devido ao receio do mercado com a política fiscal, a projeção é que o BC mexicano leve a taxa básica para a casa dos 9%.
“O México merece o benefício da dúvida enquanto o Brasil segue no mesmo. Acompanhamos de perto as reformas institucionais que representam o principal risco. No Brasil, os problemas fiscais continuam no centro das atenções, com preocupações recorrentes e ações paliativas que nunca resolvem de forma estrutural. Mudanças relevantes exigiriam aprovação do Congresso, algo difícil neste momento”, concluem os analistas.
Dois mercados atrativos
Apesar de indicar os dois mercados emergentes como atrativos, o banco de investimentos classifica a bolsa americana como mais “defensivo, com o setor de bens de consumo representando 35% do total”. Para 2025, a expectativa é de um crescimento na casa dos dois dígitos nos dois países, mas a base de comparação brasileira está deprimida após uma queda de 28%.
O banco mantém um posicionamento pequeno nos dois mercados. No Brasil, a alocação de ativos locais em ações atingiu mínimas históricas, abaixo de 8,5% do total.
O JP Morgan classifica a sua abordagem como “defensiva” no Brasil e no México. No primeiro, as principais apostas são do setor de serviços essenciais, como Eletrobras e Sabesp, setor financeiro (com Itaú, Porto Seguro, Stone e Nubank, e consumo básico, com RD e JBS. No segmento de commodities, a única exceção é a Suzano.
Já no México, as ações preferidas estão no setor de bens de consumo (Gruma, Arca, KOF, Chedraui) e imóveis (Prologis).