Para as gerações passadas, abrir uma conta bancária era quase como que um rito de passagem para a vida adulta. As novas gerações, no entanto, não devem ter a mesma experiência. As contas correntes para menores de idade estão cada vez mais populares graças à disponibilidade da tecnologia. Os bancos digitais vêm se aproveitando da familiaridade das crianças e jovens com aplicativos e mirando esforços para conquistar clientes com menos de 18 anos.
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O PicPay, banco digital ligado à holding J&F, lançou uma conta para menores em maio deste ano. Segundo Pedro Romero, diretor de Wallet e Banking, antes disso a instituição financeira já observava uma demanda crescente por serviços voltados a menores de idade, especialmente entre usuários de 16 a 18 anos. Em outubro havia 2 milhões de clientes menores de 18 no aplicativo do banco. E a intenção é que eles permaneçam por bastante tempo. “À medida que suas necessidades financeiras se tornam mais complexas, acreditamos que continuarão conosco, o que é mais eficaz do que ter apenas um cartão”, diz Romero.
O Nubank lançou sua conta no ano passado e, segundo dados referentes ao fim do segundo trimestre deste ano, tinha 3 milhões de clientes menores de idade. São usuário intensivos. Segundo Aly Ahearn, responsável pela área Under 18, entre julho de 2023 e junho de 2024 esses clientes realizaram 533 milhões de transferências Pix, sendo 295 milhões para pagamentos. “Isso mostra grande engajamento deste público com o Pix”, afirma. Os gastos mais comuns são em mercados e supermercados, seguido por lojas de alimentação e redes de fast food em terceiro lugar.
O PicPay permite a abertura de contas para clientes a partir dos seis anos de idade e o Nubank a partir dos dez anos. Os demais bancos exigem uma idade mínima de 12 anos, e a concordância e a supervisão dos pais são indispensáveis. O produto é popular: todas as instituições financeiras de varejo oferecem esses produtos para menores de idade.
A estratégia dos bancos é trazer os clientes desde cedo, na esperança de que eles fiquem por perto durante muito tempo. No caso do Nubank, quando o jovem completa 18 anos há uma migração automática para a conta “para adultos”, de maneira a não perder o vínculo.
No entanto, esse pode não ser o melhor negócio para o cliente. Fabrício Silvestre economista da Levante Inside Corp, avalia que as mudanças com o Open Finance – que permitem que o cliente compartilhe seus dados bancários com outras instituições financeiras – tende a garantir que as ofertas de diferentes bancos tenham características parecidas. “Então não haverá um benefício adicional muito grande de ter um relacionamento de longo prazo”, afirma.
Educação financeira
Há alguma vantagem em permitir que crianças tenham relacionamentos bancários próprios? Segundo Juliana Tescaro, sócia do hub de soluções financeiras Grupo Studio há três pontos positivos: educação financeira, segurança e autonomia. “Com uma conta própria, o cliente jovem aprende a tomar decisões financeiras e a fazer escolhas mais conscientes, desenvolvendo uma relação mas responsável com o dinheiro”, afirma.
Para Pablo Alencar, especialista da Valor Capital, outra vantagem é que essas contas permitem ao cliente jovem acessar aplicações financeiras. “O jovem pode separar parte da mesada e poupar para comprar um tênis, o que é muito educativo em termos financeiros”, diz.
A participação dos pais é essencial. “O controle evita os riscos de gastos impulsivos ou indisciplina financeira”, avalia Jonas carvalho, CEO da Hike Capital. “O acesso a serviços financeiros pode melhorar o letramento financeiro, desde que com acompanhamento dos pais” diz, “Sem essa supervisão há o risco de uma exposição precoce ao consumo descontrolado, especialmente em um ambiente digital de alta velocidade e pouca reflexão.”
Os bancos sabem disso. Tanto que nenhuma conta para menores prescinde da supervisão de um adulto (que, no fim do dia, é quem fornece os recursos). “Os pais e responsáveis têm controle total sobre a conta, podendo definir limites de gastos, monitorar transações e programar mesadas automáticas diretamente pelo app” diz Romero, do PicPay